
Neguinho da Beija-Flor cantou pela última vez num desfile oficial pela escola na qual carrega o sobrenome artístico. Foram 50 anos no microfone da azul e branco da Baixada Fluminense.
– Estou saindo para me concentrar na minha carreira de meio de ano – anuncia ele, usando a expressão tradicional do mundo do samba para composições não destinadas à Avenida. – Tô velho, né? É muito cansativo viajar para lá e para cá, ensaiar em Nilópolis, na Sapucaí e ainda pensar nos meus shows. Não estou conseguindo conciliar.
Ele cantou pela última vez na quadra da escola, em Nilópolis, há dez dias, no tradicional ensaio das quintas-feiras. Na ocasião, foi homenageado pela Beija-Flor e por puxadores como Zé Paulo Sierra, da Mocidade Independente de Padre Miguel, Tinga, da Vila Isabel, e Wantuir, do Porto da Pedra.
– Foi muito emocionante – lembra ele, admirador de colegas da atualidade, além de outros mais antigos, como Aroldo Melodia, Dominguinhos do Estácio e Jamelão (que aparece com ele em uma foto na parede da sala). – Meu irmão, Nêgo (intérprete com passagens por escolas como Grande Rio e Império Serrano, hoje na Acadêmicos de Niterói), que compôs alguns sambas da Beija-Flor comigo, se bobear é melhor do que eu.
Qual é a idade de Neguinho da Beija-Flor?
O cantor Neguinho da Beija-Flor tem 75 anos de idade.
A aposentadoria do carnaval, ele frisa, não significa adeus à escola do coração.
– Sou Beija-Flor, não vou sair de lá nunca – decreta. – Vou sempre à quadra, em Nilópolis, jogar sueca com meus parceiros, participar das atividades, e, se tiverem um lugarzinho para mim, para desfilar também, até empurrando carro. Só não vou cantar. Aliás, camarotes que têm shows nos intervalos dos desfiles, podem me chamar, tá? Estou livre.
A aposentadoria do carnaval, ele frisa, não significa adeus à escola do coração.
– Sou Beija-Flor, não vou sair de lá nunca – decreta. – Vou sempre à quadra, em Nilópolis, jogar sueca com meus parceiros, participar das atividades, e, se tiverem um lugarzinho para mim, para desfilar também, até empurrando carro. Só não vou cantar. Aliás, camarotes que têm shows nos intervalos dos desfiles, podem me chamar, tá? Estou livre.
*A voz das 14 vitórias da Beija-Flor
Neguinho foi para a Beija-Flor pelas mãos de Cabana, compositor da escola, quando o puxador da época, Bira Quininho, foi assassinado pela polícia. Mais tarde, reencontraria Laíla por lá. Antes, o diretor, ainda no Bola Preta, convenceu Joãosinho Trinta – que tinha acabado de chegar depois de ser bicampeão pelo Salgueiro – a escolher o samba de Neguinho para o enredo “Sonhar com rei dá leão”, sobre o jogo do bicho.
– Ele aceitou a sugestão do Laíla, meu samba foi para a Avenida, e fomos campeões – resume o intérprete.
Depois de quebrar o monopólio das antigas Quatro Grandes (Portela, Mangueira, Salgueiro e Império Serrano), a Beija-Flor foi tricampeã de cara (1976 a 78) e levou outros 11 carnavais, vários com Laíla e Joãosinho, todos com Neguinho.
Ele conta que já planejava parar há alguns anos e até preparava um sucessor.
– Era o Bakaninha, que cantava comigo no carro de som, menino bom, que infelizmente morreu em um acidente de carro (em 2022, aos 31 anos) – lembra. – Fiquei com muito sentimento de culpa e acabei aguentando mais alguns anos, mas agora é pra valer.
Sua sucessão virou programa de TV: um reality show do Globoplay com oito episódios em que será escolhido o novo intérprete da Beija-Flor. Neguinho estará no júri, ao lado de colegas de escola como a passista Pinah, a “Cinderela negra”, e a porta-bandeira Selminha Sorriso. Logo após o carnaval sai um disco em que Xande de Pilares interpreta sucessos de Neguinho, ao lado do próprio e de convidados como Zeca Pagodinho, Teresa Cristina e Ferrugem.
– Gravamos 27 músicas dentre as que compus e as que foram sucesso na minha voz, como “Ângela”, “O campeão” (o clássico “Domingo eu vou ao Maracanã”) e “Malandro também chora” – adianta Neguinho, feliz com a homenagem de Xande. – Ele é o sambista do momento. Se quiser, faz show todo dia.
Ainda em 2025 deve chegar aos palcos um musical sobre vida e obra dele, com roteiro do jornalista Aydano André Motta, que também promete a biografia do astro para o ano que vem.
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– Essa emocionante trajetória de meio século junta qualidades em desuso na sociedade de hoje: parceria, coerência, generosidade, amizade, longevidade – avalia o biógrafo. – Ela uniu dois invisíveis, Neguinho e a Beija-Flor, que, juntos, se tornaram gigantes.
Bernardo Araujo (AG)