Sobre os enjeitados de sempre
O futebol paraense tem se especializado em situações de submissão dos gestores aos caprichos dos técnicos sobre a escolha de jogadores. É um tema de suma importância, com consequências no rendimento dos times em campo, mas muitas vezes o problema escapa à percepção dos torcedores ou vem disfarçado por suposta decisão de natureza técnica.
Dois jogadores nativos, vindos das divisões de base, têm simbolizado a sem-cerimônia com que os técnicos agem, preferindo atletas mais experientes e caros – refiro-me a salários –, mesmo que não estejam no melhor momento. Por ironia, jogadores desse perfil ganham a titularidade para justificar o investimento do clube.
Em tese, quem deveria ser escalado sempre é o atleta melhor preparado, fisicamente apto e em condições de contribuir para o sucesso da equipe. No mundo ideal, as decisões seguiriam esse critério. No futebol do Pará, não funciona assim.
Vejamos os casos de Juninho, meia do PSC, e Ronald, atacante do Remo. Jovens, ambos vivem um momento especial na carreira. Juninho era o titular indiscutível do Papão, a partir de atuações seguras e convincentes. Isso até a chegada do equatoriano Juan Cazares, contratado para dar mais consistência ao setor de meio-de-campo.
Com a vinda de Cazares, credenciado pela carreira vitoriosa e experiência em grandes clubes, Juninho passou à condição de reserva, fato absolutamente normal levando em conta o tempo de estrada do meia paraense. Ocorre que, para espanto geral, de um momento para outro, Juninho foi rebaixado à condição de terceiro reserva.
Na segunda-feira, o PSC jogou contra o Brusque em Florianópolis e o banco de suplentes não contava com Juninho. No 2º tempo, quando o Papão lutava para conseguir o empate, o jovem meia-atacante seria a opção ideal para entrar em lugar de Cazares, que não atuava bem.
A comissão técnica optou por levar o veterano Robinho, que passa hoje mais tempo no DM do que jogando. Obviamente, Robinho não iria entrar no jogo, como não entrou. Ao contrário de Juninho, ele não era uma alternativa para a estratégia de pressão que o PSC precisava fazer.
Juninho ficou em Belém, quando poderia ter contribuído para mudar a configuração do PSC em campo. É óbvio que a presença dele não seria garantia de vitória, mas representaria um recurso a mais para um time desprovido de ideias em campo.
Situação até mais antiga envolve Ronald no Remo. A temporada começou com boa participação dele, recuperado de uma lesão séria. Nos quatro clássicos Re-Pa antes do Campeonato Brasileiro, Ronald foi o mais produtivo atacante do Remo, marcando gol na final do Parazão.
Apesar disso, Gustavo Morínigo barrou Ronald do time que estreou (e perdeu) na Série C contra o Volta Redonda, no Baenão. O técnico preferiu escalar Guilherme Cachoeira, trazido do Fortaleza pelo executivo Sérgio Papellin. Ronald continuou fora da equipe nos jogos seguintes.
O paraguaio caiu e o Remo contratou Rodrigo Santana. Ronald seguiu esquecido. Só entrava, quando entrava, nos 10 minutos finais das partidas. Isso se repetiu contra o Caxias, mas Ronald aproveitou bem o pouco tempo em campo: deu o passe para o terceiro gol, de Jaderson, e fez o quarto gol.
Foi sua sentença fatal. Nas partidas posteriores, voltou a ser ignorado e viu do banco o Cachoeira entrar contra o CSA. Como titular, condição que Ronald nunca teve, o ponta indicado por Papellin fez o de sempre, correu muito e não produziu nada.
Ronald, além de atacante agudo pela esquerda, sabe driblar e cruzar. Disciplinado taticamente, quando deslocado para ajudar na marcação contribui para a equipe. Mesmo com essas qualidades, ficou de fora novamente da relação de atletas para o jogo com o Figueirense, amanhã.
É claro que não é responsabilidade exclusiva das comissões técnicas ou de seus intermediários nos clubes. A omissão aqui é da gestão, que aparentemente teme confrontar os técnicos, por comodismo, ou não tem o conhecimento necessário para cobrar, o que é mais triste ainda. Enquanto isso, o interesse dos clubes é deixado de lado. Até quando?
VAR na berlinda, como sempre
“Não foi pênalti, o Grêmio vai reclamar com razão. Primeira análise é se o segurar gera impacto, pois nem todo segurar é falta. Segundo ponto, o jogador do Corinthians cai para frente em um puxão. A bola sobra para o companheiro de equipe do atacante que cabeceia livre. O VAR no Brasil segue sendo uma vergonha, é o tipo de lance que só por aqui há interferência e a arbitragem marca.”
Renata Ruel, comentarista de arbitragem da ESPN, sobre o pênalti marcado para o Corinthians no jogo contra o Grêmio
Um primor de lambança no futebol da Olimpíada
O resultado só saiu 2 horas depois do chamado tempo normal. A Argentina perdeu para Marrocos por 2 a 1, mas a demora para definir o placar deveu-se à lentidão do VAR no torneio de futebol da Olimpíada, em St. Etienne, na quarta-feira (24).
A seleção marroquina vencia por 2 a 1 até o fim do segundo tempo, mas o árbitro sueco Glenn Nyberg decidiu brincar com a emoção e deu impressionantes 15 minutos de acréscimos.
Tempo suficiente para o empate da Argentina, que revoltou a vibrante torcida de Marrocos. Muitos objetos foram atirados no gramado, os atletas correram para os vestiários e torcedores invadiram o campo.
A partida foi interrompida e o VAR, por segurança, só divulgou o resultado da análise do gol 2 horas depois. As equipes voltaram a campo para jogar por três minutos. Marrocos, merecidamente, venceu.
O VAR, porém, perdeu. Nada surpreendente para o torcedor brasileiro, acostumado com as patacoadas do árbitro de vídeo.