Tylon Maués
O futebol do Clube do Remo voltará às duas atividades a partir da segunda quinzena de dezembro. Pelo menos essa é a previsão para que o elenco de 2024 já esteja em Belém para o início da pre-temporada. Até lá, o desafio é montar um elenco quase do zero. Atualmente, cerca de dez jogadores estão garantidos no início do ano que vem. Mais 20 atletas devem ser contratados visando o principal objetivo da temporada que está por vir, o acesso para a Série B do Campeonato Brasileiro. O timoneiro da nau azulina será o paulista Ricardo Catalá, que volta ao Baenão com a missão de levar o Leão Azul para a Segundona, com a responsabilidade de ter a confiança da maior parte da torcida.
Catalá chegou ao Remo no dia 25 de maio em substituição a Marcelo Cabo, quando a equipe somava quatro derrotas nas quatro primeiras rodadas da Série C. A campanha daí em diante foi boa, com 55% de aproveitamento, mas que não foi suficiente para a classificação à fase seguinte. Ainda assim, a impressão para a diretoria e a galera foi boa. “Eu acho que o torcedor consegue perceber esse amor que tenho pelo que faço”, comentou o treinador quando perguntado sobre essa sinergia.
Ao contrário da situação encontrada por ele quando foi contratado quatro meses atrás, agora ele tem uma folha praticamente em branca diante de si. Mas, ele sabe que a responsabilidade não é menor, apenas diferente. Uma responsabilidade distinta. O caminho continua árduo, mas segundo o treinador a possibilidade de iniciar um trabalho aumenta as chances para se conquistar o fruto esperado no fim.
O Remo sai muito atrás em relação aos adversários da Série C, que já vinham reformulando seus elencos?R
C – O tamanho do prejuízo está muito mais conectado com as nossas ações nesses primeiros dez dias, porque o tempo que temos até aqui foi bem aproveitado, fomos eficientes e assertivos nos primeiros dias. Obviamente, que essa conta vai se igualar e a gente vai conseguir brigar em condição de igualdade com todos.
O fato de o começo do ano ainda ser regional, não ser ainda o principal objetivo que é a Série C, minimiza talvez esse prejuízo na busca de reforços?
RC – Sim e não. Sim porque na minha cabeça é o nosso principal objetivo é o acesso. Vamos usar esse período para desenvolver a equipe para que ela chegue na série C com tudo que precisa para ser uma equipe de ponta na competição. Por outro lado, nós estamos no Clube do Remo, um clube gigante dentro do seu estado e dentro das competições que disputa e com uma camisa pesada, que precisa vencer. O desafio é equilibrar esses objetivos, ora um pouquinho mais para o lado, ora um pouquinho mais para o outro, para que a gente consiga fazer as duas coisas, ganhar e se desenvolver.
Isso vai obrigar o trabalho a queimar etapas ou o pensamento é uma preparação voltada, principalmente, para o Campeonato Brasileiro?
RC – Dentro da minha cabeça o cronograma vai ser seguido à risca, até porque nós temos convicção do que estamos fazendo e para onde a gente vai, e não faria sentido que o resultado ou que coisas alheias ao que a gente controla, direcionasse e guiasse o trabalho. Nós temos uma direção, um guia, um norte, e é nesse caminho que nós queremos seguir. Claro, quando eu cheguei no ano passado eu peguei uma situação muito desfavorável. O objetivo era primeiro salvar o time e depois pensar na classificação.
Você encontrou um time em crise e procurou primeiro acertar a defesa, o que deu certo. Agora, tendo a oportunidade de montar um elenco, o que se esperar do time azulino em 2024?
RC – Na verdade eu acredito no equilíbrio e foi o que aconteceu. Sob meu comando nós fomos a segunda melhor defesa do campeonato e aí os números confirmam isso, e nós fomos a terceira equipe que mais finalizou, a segunda equipe que mais criou chances claras. Entretanto, não tivemos um bom aproveitamento. O time criava, mas tinha uma dificuldade nas finalizações. Então, o equilíbrio estava ali, ele já existia e quando você faz o gol esse número demonstra o equilíbrio. A ideia é que a gente continue criando muito, concedendo pouco para o adversário, para que a gente seja uma equipe competitiva.
Mesmo sem conseguir a classificação para a segunda fase da Série C, o seu nome foi quase um consenso junto à torcida. Como você analisa essa relação?
RC – Eu sou um cara que acredito muito em energia, e eu penso que a energia que o torcedor sente é a mesma que a minha. Acho que o torcedor conseguiu perceber paixão, amor e dedicação. Eu vivi 24 horas no clube, é assim que eu trabalho, é assim que eu me dedico. Eu me dedico à minha profissão, eu amo o que eu faço, e quando você ama o que faz fica tudo muito mais fácil. Eu acho que o torcedor consegue perceber esse amor, essa energia, esse envolvimento.
Você teve outras propostas enquanto esperava o fim do período eleitoral do Remo. Há ainda uma grande ressonância no mercado e na carreira um acesso ou título com um clube de massa, mesmo estando longe das maiores divisões?
RC – Na verdade eu nem pensei nisso porque eu acho que esse pensamento seria de usar o Clube. E aí a relação já não é saudável. Na verdade, eu tenho algumas premissas de carreira. A primeira delas é não ficar pulando de galho em galho. Eu quero construir uma carreira de projetos. Até hoje, praticamente todos os clubes que eu passei eu tive mais de um ano e meio no comando. Isso demonstra longevidade, demonstra um envolvimento com a instituição. Normalmente eu entrego resultado, então eu acredito muito que juntos nós temos condições dentro do Clube do Remo de construir um projeto vencedor. E aí quanto tempo isso vai durar a gente não sabe nunca. Mas, o que me atrai é a possibilidade de nós construirmos algo bacana, deixar um legado para o clube do ponto de vista esportivo.
O quanto o Ricardo de hoje é diferente do que chegou para assumir um time em crise na Série C?
RC – A vantagem é conhecer o clube, as pessoas, a cidade. Mas, honestamente, me sinto tão forte quanto no primeiro dia. Se levar em consideração a responsabilidade e o tamanho do desafio do contexto em que cheguei e o de hoje, agora é bem mais fácil do que quando cheguei. Me sinto no mesmo nível de força mental, física e energética. Espero um 2024 especial para que o torcedor se sinta feliz e orgulhoso no final da temporada.
Mais fácil como?
RC – Mais fácil no sentido de planejar, montar o elenco, mais fácil quanto ao contexto. Cheguei no Remo na quinta rodada com zero pontos, com objetivo de subir. Tudo remava na direção contrária, com dificuldades para contratar porque o estatuto impedia, com o jogador que fazia a diferença se lesionando. Ainda assim, buscamos o melhor com o que tinha. O trabalho do treinador é esse, não de buscar desculpas e sim procurar soluções para os problemas que acontecem a todo instante.
O Paysandu conseguiu o acesso, isso tende a criar uma cobrança ainda maior da existente no Baenão?
RC – Não sei se tem, honestamente essa é uma coisa que não tira nada do meu sono e nem me preocupa. A maior cobrança que eu tenho para o meu trabalho e para mim mesmo é minha, não é de ninguém. Eu não sou movido ao que acontece na rua, ao que está alheio ao que eu controlo. Eu sou movido ao que eu controlo. Minha ambição é vencer tudo que for possível, o maior número de vezes. Nesse caso específico, terminar 2024 com o Remo sendo um dos 20 clubes da série B para 2025. Bom, é para isso que eu vou trabalhar, independente da cobrança de onde ela vier, de como ela vier, em que nível ela estiver. Para finalizar, o Remo está em obras avançadas no CT. O quanto isso prejudicou não ter um CT esse ano para trabalhar e o quanto isso vai ser um salto para 2024 ter esse espaço próprio só para o treinamento?
O CT era uma das exigências para seu retorno, visto que local para treinar no dia a dia nem sempre foi uma situação fácil?
RC – A gente precisa do campo no CT, a gente precisa de uma academia melhor. Mais para frente, tem algumas coisas que caminham em paralelo, mas independente do quanto estar pronto no início e do quanto nós vamos desenvolver esses projetos ao decorrer da próxima temporada. Quanto mais o clube fizer trabalho na direção de desenvolver infraestrutura, melhor o Remo vai estar preparado pra quando chegar numa série B e atrair jogadores, oferecer boas condições de trabalho pra quem quer que seja o treinador. Então, acho que esse desenvolvimento tem que ser pensando na grandeza e no crescimento da instituição e não especificamente na temporada de 2024.