Tylon Maués
Na semana que passou o Al-Hilal bateu o recorde mundial ao vencer 28 partidas consecutivas. O time saudita, comandado por Jorge Jesus, se classificou para a semifinal da Liga dos Campeões Asiática e bateu a marca que era da equipe galesa The New Saints, que em 2016 atingiu a marca de 27 jogos sem perder.
No Pará, em 2004 houve um feito semelhante, com o Clube do Remo emplacando uma sequência de 14 vitórias seguidas para conquistar o Campeonato Paraense de forma invicta. A famosa campanha 100% contou com 37 gols a favor e apenas oito contra.
A conquista histórica teve contornos que em nada levaram a crer que poderia acontecer. Durante a pré-temporada, o treinador Givanildo Oliveira deixou o clube na véspera do início da competição. Seu auxiliar-técnico, Agnaldo de Jesus, assumiu interinamente, ao lado de Mário Henrique – estes dois são atualmente os auxiliares fixos do Leão Azul – e do preparador físico Nicolau Barros, e tocaram o barco. As vitórias foram saindo e a contratação de um técnico foi sendo adiada até que se chegasse ao título.
“Nós fomos passo a passo, trabalhando e as coisas foram caminhando, com o time foi pegando corpo, acreditando naquilo que eu propus pra eles”, lembra Agnaldo, que montou um time com três volantes para que o meia Gian, principal jogador da equipe, pudesse ter mais liberdade. Aquela equipe tinha uma base de jogadores locais, como o lateral-direito Valdemir, os zagueiros Sérgio e Irituia, os meio-campistas Márcio Belém e Rodrigo e os atacantes Jaílson e Júnior Amorim.
“Os jogadores compraram a minha ideia de jogo. Eu fico muito feliz por ter contribuído para que pudéssemos fazer uma bela competição e chegar a esse título inédito para o Remo”, lembra Agnaldo, que admite que a campanha teve emoções variadas, inclusive com a pressão normal a profissionais locais. “Nós sabíamos que a responsabilidade era grande. Se perdêssemos, eu cairia. Diretoria, imprensa e o próprio torcedor não têm paciência com o treinador local”.
Em tempo, Agnaldo foi demitido nas primeiras rodadas da Série B e, no fim do Campeonato Brasileiro, o time azulino foi rebaixado para a terceira divisão. A campanha azulina foi de apenas cinco vitórias, dez empates e oito derrotas, somando 25 pontos na 20ª colocação. Passados 20 anos do título, nunca houve por parte do clube uma homenagem formal àqueles jogadores e membros da comissão técnica.
Campanha impecável fecha com vitória no Re-Pa
No Re-Pa final da campanha de 100%, o time azulino venceu o bicolor por 2 a 0, gols dos meias Gian e Rodrigo. Hoje trabalhando na base do Castanhal, Gian Dantas lembra daquela campanha e de como o grupo se uniu ao longo da campanha. “Depois das dez primeiras partidas, a gente começou acreditar que poderia ser campeão 100%. Aquele nosso time era muito unido. Nós gostávamos de chegar 40 minutos antes de qualquer treino e ficar conversando, brincando um com o outro”.
O zagueiro Sérgio lembra que tudo foi acontecendo de forma natural até que o elenco se deu conta de que poderia chegar a uma marca histórica. Segundo ele, pesou para isso a qualidade e o comprometimento dos jogadores. “Éramos um time unido, com jogadores experientes, com alguns atletas da base, com o Agnaldo no comando que já conhecia alguns jogadores, acho que esse foi o nosso ponto forte”.
Duas décadas depois desse feito, os azulinos não descartam a repetição de uma façanha como aquela, mas admitem que as dificuldades são enormes. “Eu acredito que um dia isso possa acontecer, mas é difícil. É muito complicado. Eu espero que um dia essa marca seja batida, que possa aparecer um novo comandante para montar uma equipe também competitiva”, conta Agnaldo. “Eu sempre acredito que recordes possam ser batidos, às vezes demora, mas com certeza pode ser batido, sim”, finaliza Gian.
LEÃO 100%
Remo 1 × 0 Paysandu
Carajás 0 x 3 Remo
Castanhal 1 × 2 Remo
Tuna Luso 1 × 2 Remo
Remo 4 × 1 Águia
Bragantino 1 × 2 Remo
Remo 1 × 0 Ananindeua
Remo 5 × 0 Bragantino
Remo 5 × 2 Castanhal
Ananindeua 0 x 2 Remo
Remo 2 × 1 Carajás
Remo 4 × 1 Tuna Luso
Águia 1 × 2 Remo
Paysandu 0 x 2 Remo (Final)