Brasil e Estados Unidos se enfrentam neste sábado (10), às 12 horas, no estádio Parc des Princes, em Paris, na decisão da medalha de ouro da Olimpíada 2024, na terceira oportunidade que o time nacional tem de chegar ao lugar mais alto do pódio. Curiosamente, será a terceira vez que as duas equipes se enfrentam em uma final olímpica. A primeira foi em Atenas 2004 e, logo depois, em Pequim 2008. Nas duas ocasiões as norte-americanas saíram com o ouro.
A seleção brasileira fez uma primeira fase irregular, com uma vitória e duas derrotas no grupo C, e se classificou para a segunda fase com uma combinação de resultados. No mata-mata, a equipe venceu a França e a Espanha, ambas favoritas em relação ao Brasil. A possibilidade de uma vitória brasileira acende um rol de possibilidades para uma valorização maior para a modalidade no país, ainda relegada ainda a um terceiro ou quarto plano
“A campanha tem trazido muita visibilidade para a modalidade e isso é sempre muito importante para conquistar públicos que ainda não havíamos alcançado. E quanto mais público tivermos, maiores os investimentos na modalidade”, comenta Cássia Gouvêa, paraense que é preparadora física do Vasco da Gama-RS, que conquistou o título brasileiro da Série C feminina sobre o Paysandu.
“Com certeza a conquista vai trazer benefícios pra estrutura, mas acredito que hoje um ponto que precisa ser mais discutido é fazer o futebol feminino ter mais competições, precisa se investir mais em categoria de base, em mais competições e em competições com mais jogos, principalmente. A maioria dos clubes não chega a disputar 20 jogos em um ano inteiro”.
Gislane Queiroz, a zagueira Lora Capanema, que até pouco tempo defendeu o São José-SP, comentou que seria muito importante o Brasil conquistar o ouro na Olimpíada. “Acredito que vai ser um impacto positivo no futebol feminino. Acho que olhariam com mais carinho para dar mais visibilidade, apoiar mais na questão de patrocínios. A gente olha tantos casos que teve agora de clubes que as meninas passavam por situações bem complicadas e delicadas, recebiam salários atrasados. É o que a gente mais vê no futebol feminino”, disse. “Essa visibilidade pode impactar bastante nos clubes para se reforçarem, buscar a melhoria para que o futebol feminino continue crescendo cada vez mais”, completou a ex-jogadora da Esmac.
Chegou a hora da passagem de bastão
Técnica do Paysandu, Aline Costa levou o Papão ao acesso para a segunda divisão do futebol brasileiro, onde já estava o Clube do Remo. Com a experiência de quem vive há anos, ela sabe muito bem que uma conquista como o ouro olímpico trará muitos benefícios para o esporte no país, mas tem consciência que ainda não será suficiente, que há um caminho longo a ser percorrido.
De que forma essa campanha e uma possível conquista pode ter impacto no futebol feminino Brasileiro?
R – “Há muitos anos o futebol feminino veio lutando por esse inédito ouro das olimpíadas e para mim o impacto maior vai ser a valorização em todo o Brasil. Já estamos encontrando esse apoio, mas o ouro, ele vindo, vai vir numa hora certa, em que o futebol feminino vai ser mais valorizado. Então ele vai com certeza absoluta impactar de forma positiva o esporte. Só o fato da seleção brasileira vencer equipes fortes, como França e a Espanha, mostrar e demonstrar que nós somos capazes de ter nosso espaço valorizado na sociedade, então isso é muito bom. Infelizmente, a gente ainda esbarra com pessoas que não torcem para o nosso futebol feminino”.
Por outro lado, só uma conquista não é suficiente. O que de imediato tem que melhorar no futebol brasileiro feminino?
R – “Só essa conquista não será suficiente para a modalidade. Para mim, a sociedade em si tem que abraçar o futebol feminino, mas infelizmente a cabeça do ser humano nós não podemos mudar, ainda temos pessoas que não gostam da modalidade, mas estamos aqui para lutar. E vamos demonstrar dentro. Das quatro linhas que nosso futebol feminino é capaz de dar voos bem altos”.