RELATO FORTE

O jogo da vida: ex-jogador do Remo descobre câncer e emociona com superação

Em setembro de 2024, o volante Bruno Silva, então jogador do Remo, vivia mais uma fase decisiva da carreira

Em setembro de 2024, o volante Bruno Silva, então jogador do Remo, vivia mais uma fase decisiva da carreira
Em setembro de 2024, o volante Bruno Silva, então jogador do Remo, vivia mais uma fase decisiva da carreira. FOTO: samara miranda / remo

Em setembro de 2024, o volante Bruno Silva, então jogador do Remo, vivia mais uma fase decisiva da carreira. Experiente, com 39 anos, ajudava o clube paraense na caminhada pela Série C do Campeonato Brasileiro. Mas, no dia 21 daquele mês, durante uma partida contra o Volta Redonda, a substituição aos 21 minutos do segundo tempo, causada por uma dor na virilha, mudaria o rumo de sua vida — muito além das quatro linhas.

O que parecia ser apenas uma lesão muscular comum virou motivo de preocupação após os primeiros exames. O médico do clube, Jean Klay, notou algo estranho e solicitou uma investigação mais aprofundada. A confirmação veio logo depois: carcinoma maligno, um tipo de câncer que se desenvolve nas células epiteliais.

Em depoimento ao repórter Breno Angrisani, do Globo Esporte, Bruno relembrou o impacto da notícia. Quem recebeu o diagnóstico primeiro foi sua esposa, Andressa Marinho. “Ela me ligou chorando, mas não disse nada. Quando cheguei em casa e vi ela daquele jeito, desabei. Só pensava no pior”, contou o jogador. O medo maior não era abandonar o futebol, mas não ver seus filhos crescerem. Na época, o pequeno Bruninho tinha cinco anos, e Andressa estava grávida de quatro meses do segundo filho, Paolo.

Apesar de não apresentar sintomas aparentes — Bruno seguia treinando normalmente e era um dos jogadores que mais corria em campo — os exames mostraram linfonodos aumentados em ambos os lados da virilha. Graças à atuação rápida da esposa, que é biomédica, Bruno foi encaminhado a especialistas e operado rapidamente. “Se eu enrolo ou fico esperando, poderia ser muito pior”, disse.

A Cirurgia e a Recuperação

A cirurgia ocorreu no dia 27 de setembro, durou mais de seis horas e foi considerada delicada. Bruno recebeu 18 pontos — nove de cada lado. “Ninguém sabe o que passei. Não foi uma cirurgia qualquer. Passou um filme na minha cabeça”, relembrou. Dois dias depois, enquanto ainda se recuperava no hospital, viu de longe o Remo conquistar o acesso à Série B.

O pós-operatório foi duro. “Fiquei dois meses em casa, com sonda, com dreno. Minha esposa me ajudava com tudo. Deus em primeiro lugar, e minha mulher em segundo”, relatou Bruno, emocionado.

A Volta aos Gramados

Antes do diagnóstico, ele já havia assinado um pré-contrato com o Rio Branco-ES. O clube o apoiou durante todo o tratamento. A previsão médica era de seis meses fora dos gramados, mas em apenas quatro ele estava de volta. Na estreia do Campeonato Capixaba, em janeiro de 2025, Bruno não segurou a emoção. “Pisei em campo, fui para o meu cantinho, chorei e agradeci a Deus por ter me dado a oportunidade de fazer o que eu gosto.”

Hoje, aos 39 anos, segue atuando pelo Rio Branco e disputa com o time uma vaga nas quartas de final da Série D contra a Inter de Limeira. Mesmo planejando se aposentar no próximo ano, garante que não tem pressa. “Se eu tivesse que parar, pararia tranquilo, de cabeça erguida. Joguei onde queria, fui campeão, fui reconhecido.”

Superando o Câncer

Ainda fará exames a cada seis meses por cinco anos, mas o medo já não o domina. “O câncer não me assusta mais. Eu venci. Aproveito cada momento com minha família e com quem gosta de mim como se fosse o último.”

Clayton Matos

Diretor de Redação

Clayton Matos é jornalista formado na Universidade Federal do Pará no curso de comunicação social com habilitação em jornalismo. Trabalha no DIÁRIO DO PARÁ desde 2000, iniciando como estagiário no caderno Bola, passando por outras editorias. Hoje é repórter, colunista de esportes, editor e diretor de redação.

Clayton Matos é jornalista formado na Universidade Federal do Pará no curso de comunicação social com habilitação em jornalismo. Trabalha no DIÁRIO DO PARÁ desde 2000, iniciando como estagiário no caderno Bola, passando por outras editorias. Hoje é repórter, colunista de esportes, editor e diretor de redação.