O calendário do futebol brasileiro reserva para novembro e dezembro a temporada de ajustes de elencos, com chegadas e partidas de jogadores. Quando a bola entra em recesso, começa a movimentação em torno de contratações e rescisões. Ocorrem, de vez em quando, desligamentos dolorosos em face das ligações afetivas construídas entre atletas, clubes e torcidas. Há também os casos de permanência, quase sempre em consequência do bom desempenho na temporada.
No PSC, por exemplo, é tempo de remontagem ampla. Ao contrário do ano passado, quando o elenco ficou com cerca de 30% de remanescentes, este final de temporada deve ter muitas despedidas. Já saíram Wanderson, João Vieira, Robinho e Jean Dias.
Por enquanto, uma dezena de jogadores está confirmada na Curuzu para 2025, por força de vínculo contratual. Nesse grupo está o atacante Nicolas, ídolo em desgraça após a Série B, mas, ainda assim, um nome forte e que pode permanecer para as competições do novo ano.
Há, porém, um processo de desgaste que pode levar a uma ruptura. Nicolas se pronunciou através das redes sociais, fazendo um balanço do desempenho em 2024, admitindo que teve problemas e insistindo que as cobranças foram exageradas.
Continua pecando na percepção dos anseios do torcedor. Apesar do respeito que nunca deixou de existir pelo profissional, as vaias dirigidas a ele em diversas partidas da Série B são perfeitamente naturais. Não é desrespeitoso vaiar. É ofensivo xingar. A vaia é um protesto legítimo.
Nicolas provavelmente não estava preparado para isso. A volta ao Papão ocorreu após uma demorada negociação no ano passado, mas teve ares de um reencontro festivo. Apesar dos 20 gols marcados, a importância desses gols (apenas 3 na Série B) determinou o julgamento negativo da torcida.
É possível que permaneça, mas há um ruído na convivência e existem clubes interessados em sua contratação. Já o volante Netinho também é sondado por outras equipes, mas está mais próximo de permanecer. Diogo Silva, como já informado na semana passada, deve acertar com a Ponte Preta.
Em meio a isso, o enigma Esli García ainda inquieta o torcedor, que deseja ardorosamente ver o ídolo no time em 2025. Reina silêncio, de parte a parte, mas a diretoria já trabalha com a possibilidade do não retorno. O venezuelano estaria à espera de uma proposta para jogar a Série A.
Fogão tem a chance de levantar uma nova taça
O Botafogo, ainda em êxtase pela espetacular conquista da Libertadores, volta a entrar em campo hoje à noite para disputar outra taça. Em caso de vitória ou empate contra o Internacional, em Porto Alegre, deixa praticamente encaminhado o título do Brasileiro.
A conquista do campeonato pode até ocorrer hoje mesmo, em caso de derrota do Palmeiras para o Cruzeiro, embora o alviverde seja franco favorito. Além disso, o Inter faz uma campanha brilhante no returno da competição. Estava invicto há 16 jogos antes de perder para o Flamengo.
O cansaço e o relaxamento, naturais após uma conquista tão importante, podem conspirar contra os planos botafoguenses, mas a perspectiva de êxito não pode ser descartada em momento particularmente iluminado da Estrela Solitária.
Negacionista da vacina vira corneteiro da mídia
Renato Gaúcho foi um dos maiores atacantes de sua geração. Ao mesmo tempo, construiu imagem polêmica dentro e fora dos gramados, como assíduo personagem das antigas colunas de subcelebridades. Conseguia ser gaiato às vezes, mas sempre flertando com uma faceta cafajeste.
Quando virou técnico, com inegável sucesso no comando do Grêmio, principalmente, tornou-se mais sisudo e não menos controvertido. Nos últimos tempos, sempre tenta encobrir resultados ruins com ataques à imprensa esportiva gaúcha.
Dispara acusações e ofensas de forma genérica, sem jamais nomear os supostos detratores. Na semana passada, soltou um comentário digno de um Umberto Eco dos pobres: tem parte da imprensa que está acabando com o futebol. Ao que parece, foi um recado a um crítico não identificado.
Quando é entrevistado pelos repórteres que trabalham nos jogos do Grêmio, apela para o truque da dissimulação, com frases repletas de indiretas: “Ninguém ia gostar se eu falasse que jornalistas e radialistas ganham algum por fora” ou “repórteres também tem endereço conhecido e filhos na escola”.
Ameaças veladas ou nem tanto, no melhor estilo da Camorra, mas sempre contando com a aparentemente inesgotável tolerância da imprensa do Rio Grande do Sul. A carreira vitoriosa no Grêmio parece servir de blindagem para os desaforos dirigidos a profissionais da mídia.
Da última vez que acompanhei uma entrevista pós-jogo, Renato não disse uma palavra sobre a atuação de seu time. Escolheu um repórter e passou a humilhá-lo publicamente, vociferando um pretenso desabafo. Estranhamente, não foi contestado por ninguém.
Era caso de dar uma resposta à altura, com devolução dos insultos e retirada de todos os profissionais ali presentes, como um protesto formal e digno aos abusos proferidos pelo negacionista dos tempos da pandemia. O respeito deve pautar todo tipo de relacionamento, inclusive profissional.
É importante entender que, caso Renato seja vítima de uma campanha de perseguição, como alega sofrer, tem todo o direito de se manifestar e denunciar eventuais erros da imprensa. Para isso, porém, precisa robustecer suas acusações, apresentando provas e nominando os algozes.
A generalização é sempre um caminho perigoso, injusto e covarde.