Zagueiro de estilo clássico, daqueles que espantam pela facilidade com que se impõem diante dos atacantes, o paraense Casemiro, que defendeu, no futebol do Pará, Clube do Remo e Paysandu, até hoje é reverenciado pelos torcedores azulinos e bicolores mais antigos. Pois, agora, o neto do saudoso defensor, morto em 2008, surge como promessa de reeditar o futebol vistoso do avô, em gramados locais, mesmo cumprindo função diferente dentro das quatro linhas. Renan Dantas, de 23 anos, é um dos contratados do São Francisco, de Santarém, para a disputa do Parazão 2025.
O torcedor mais novo que não pôde se deleitar com o futebol estiloso de Casemiro, poderá, de repente, conhecer ao menos um pouco da maneira do quarto-zagueiro jogar, acompanhando Renan em campo. Pelo menos é o que diz o pai do jovem jogador, que é filho de Casemiro, Milton Dantas, de 57 anos. Anteriormente, Milton chegou a jogar futsal pela Tuna e pelo Remo, agremiação de sua preferência. “No futebol de campo nunca me arrisquei”, diz Milton. Ele faz ainda a comparação entre a maneira de jogar de seu pai e de seu filho, vendo algumas características semelhantes entre ambos.
“O Renan tem duas coisas que lembram muito a maneira de meu pai jogar: o desarme e a marcação. São bem parecidos”, confia Milton. Ainda pequeno, Milton pôde assistir a jogos de seu pai tanto no futebol paraense como no de Manaus. O ex-zagueiro do Leão e do Papão também defendeu o Fast Clube-AM, onde acabou encerrando a carreira. Casemiro passou antes pelo América-RJ, depois de ter treinado por três vezes no Flamengo-RJ, clube que acabou deixando por conta da obrigação com o Exército. No quartel da Ilha do Governador, acabou encontrando com um dirigente do time americano, comandante da unidade, que o levou para a rua Campos Sales 118, reduto do time alvirrubro.
Na capital amazonense, Casemiro encerrou a carreira, em 1971, após ajudar a levar o Fast ao bicampeonato estadual. O ex-jogador também conquistou os Campeonatos Paraenses de 1963, pelo Paysandu, 1964 e 1968, pelo Clube do Remo. Depois de pendurar as chuteiras, Casemiro passou a atuar, primeiro, como empresário. Depois, formado em contabilidade, passou a trabalhar na função em uma empresa da Zona Franca de Manaus. Renan Dantas, por sua vez, começou a carreira na base do Corinthians-SP. Depois, percorreu uma trajetória que inclui passagem por outros clubes brasileiros e do exterior.
Expectativa a mil para a estreia
A estreia de Renan Dantas no futebol do Pará representa um grande desafio do jovem jogador. No caso, resgatar a brilhante história de seu avô, que ele jamais viu jogar, mas a qual ele conhece bem por conta de relatos de seu pai, Milton Dantas. “Não cheguei a acompanhar a trajetória de meu avô no futebol, infelizmente, mas pelo que me falam, principalmente o meu pai, é uma história muito bonita. O fato de o São Francisco enfrentar o Clube do Remo, da família Dantas, na abertura do Parazão, segundo Renan, representa muito para todos os integrantes do clã.
“Essa será uma data especial não só para mim, mas principalmente para o meu pai”, acredita o meio-campista. Ele é consciente de que o detalhe extra-campo não pode intrometer-se em sua atuação dentro das quatro linhas. “É muito interessante poder jogar contra um clube que o meu avô fez história e do qual meu pai é torcedor. Mas isso não pode interferir de maneira alguma na minha atuação nesse e em outros jogos do São Francisco”, salienta o meio-campista, que vinha jogando no futebol de várzea de São Paulo. Segundo conta, lá, ganhou um bom dinheiro.
“Hoje é muito vantajoso jogar o futebol de várzea de lá, mas não dá para sonhar com coisas maiores, o que sempre alimentei em minha vida”, diz Renan. Ao final do Parazão, ele se dará por satisfeito caso tenha o seu futebol reconhecido e, principalmente, ganhe um contrato com uma equipe de maior prestígio. “Pode ser Remo e Paysandu”, aponta o jogador, cuja base foi feita no Corinthians-SP, tendo passado, também, pelo Oeste-SP, Portuguesa-SP, ABC-RN e pelo Nacional da Ilha da Madeira, de Portugal. A experiência no futebol europeu, conforme avalia o atleta, “foi muito boa”. “O futebol lá é bem diferente, com o lado tático sendo mais prestígiado”, explica.
Renan já vem treinando no São Francisco, mas por enquanto apenas na parte física. As atividades com bola do elenco só serão iniciadas após a chegada do técnico Samuel Cândido, que, por enquanto, só conhece de nome. “Ainda não tivemos nenhum contato”, diz. “Mas, as referências que me foram dadas sobre ele são as melhores possíveis. Espero que eu consiga agradá-lo dentro de campo”, salienta o jogador. Renan teve no futebol português a sua primeira experiência como profissional, que agora volta a ser tentada no futebol paraense.
Emoção paterna
O jogo de abertura do Parazão 2025, envolvendo Clube do Remo e São Francisco, de Santarém, no Mangueirão, terá um torcedor remista ligado à história do Leão e, possivelmente, à vida de um dos onze jogadores que iniciarão o confronto defendendo o time do interior. No caso, o pai do meia e volante Renan Dantas, que mora em São Paulo e atua na área médica. Milton Dantas, desde que a tabela do Estadual foi divulgada, já tratou de se programar para visitar a cidade de origem numa data especial para ele e o filho.
“Sinto uma emoção muito grande em saber que ele vai jogar em Belém e justamente contra o Remo”, conta Milton, aguardando com grande ansiedade pelo jogo. A programação do filho de uma das lendas do futebol remista, o zagueiro Casemiro, já está planejada. “Passarei três dias em Belém”, explica. Chego no dia 17 de janeiro e fico até o domingo, dia 19, quando voltarei para São Paulo, já que na segunda-feira tenho de voltar a trabalhar”, detalha.
Na capital paraense, Milton não deve visitar apenas o Mangueirão, mas, provavelmente, dar uma passada, também, pelo estádio Baenão e sede social do Clube do Remo. Ambos os locais bastante ligados à carreira profissional de seu pai. Uma ótima oportunidade para a diretoria do Leão prestar uma homenagem póstuma a um de seus ilustres ex-jogadores. Apesar de ter atuado profissionalmente, pelo maior adversário azulino, o Paysandu, Casemiro nunca escondeu a sua paixão pelo Leão Azul.
Quem foi Casemiro?
O torcedor mais antenado do Clube do Remo e que conviveu com o futebol do Pará no final da década de 1950 e início da de 1960 deve conhecer muito bem quem foi Raimundo Casemiro de Souza. Senão pelo nome completo ao menos apenas por Casemiro. O defensor primava pelo futebol elegante, algo nada comum em quem é pago para evitar justamente aquilo que o torcedor mais gosta de ver: gol. A carreira do saudoso defensor seguiu o roteiro de tantos craques do mundo da bola. Começou pelo futebol suburbano. No caso do zagueiro paraense, o Pauxis Nunes, clube do bairro da Cidade Velha.
Após esbanjar talento pelo time amador, Casemiro passou a atuar pelo Deportivo Combatente, do bairro de Canudos, onde passou pouco tempo. Tentou, em seguida, espaço na Tuna Luso, cujo treinador não lhe deu a atenção merecida. Resultado: voltou para o futebol amador. Agora, para o São Domingos, do Jurunas, que tinha como treinador o sugestivo apelido de Peixe Frito. O treinador o lançou na zaga e de lá Casemiro nunca mais saiu para a felicidade do torcedor paraense. Em especial o do Clube do Remo, para onde acabou se transferindo no final de 1958.
De fato, do juvenil do Leão, o zagueiro, sem precisar fazer prova de admissão, passou direto para o profissional, sem nenhum estágio no aspirantes. Aliás, conseguiu isso com apenas quatro meses de Baenão. Posteriormente, ao abandonar o Clube do Remo, Casemiro tentou a sorte no Flamengo-RJ. Mas acabou não ficando e foi parar no América-RJ, por motivos já explicados. Da mesma forma, jogou também pelo Paysandu. Finalmente, atuou no Fast Clube-AM, onde deu adeus ao futebol. Mas não sem antes dar felicidade ao torcedor do time amazonense com um bicampeonato estadual, após um longo jejum de títulos locais do clube manauara.