ESPECIAL

Muito além do futebol: esportes alternativos crescem com força no Pará

Capoeira, futebol americano e wrestling crescem no Pará com histórias emocionantes de luta, inclusão e paixão. Conheça os rostos por trás dessas modalidades que resistem fora dos holofotes.

Capoeira, futebol americano e wrestling crescem no Pará com histórias emocionantes de luta, inclusão e paixão. Conheça os rostos por trás dessas modalidades que resistem fora dos holofotes.
Capoeira, futebol americano e wrestling crescem no Pará com histórias emocionantes de luta, inclusão e paixão. Conheça os rostos por trás dessas modalidades que resistem fora dos holofotes.

Em um Estado conhecido por seus talentos no futebol, no futsal e no atletismo, um outro Pará se movimenta com força, coragem e paixão. É o Pará dos esportes pouco usuais, das modalidades que desafiam o senso comum e persistem longe dos holofotes. Capoeira, wrestling e futebol americano são três dessas expressões atléticas que, mesmo com escassos recursos e visibilidade limitada, vêm crescendo e conquistando adeptos por todo o território paraense, com histórias que inspiram e revelam uma rica diversidade esportiva, social e cultural que vai muito além das quadras e gramados tradicionais.

Com raízes fincadas na resistência do povo negro e corpo moldado pela música, pela luta e pela dança, a capoeira é um dos maiores patrimônios culturais afro-brasileiros. No Pará, ela floresce em praças, escolas e comunidades como ferramenta de inclusão e transformação. O mestre José Francisco Rocha Rodrigues, conhecido como Mico, é um dos grandes nomes desse movimento. Há 26 anos dedicado à prática, ele coordena um projeto social em Ananindeua com cerca de 40 alunos, oferecendo uma alternativa concreta para crianças e jovens em situação de vulnerabilidade.

Há 26 anos dedicado à prática, ele coordena um projeto social em Ananindeua com cerca de 40 alunos, oferecendo uma alternativa concreta para crianças e jovens em situação de vulnerabilidade.
Há 26 anos dedicado à prática, ele coordena um projeto social em Ananindeua com cerca de 40 alunos, oferecendo uma alternativa concreta para crianças e jovens em situação de vulnerabilidade.

“A capoeira me salvou. Eu vim de um projeto social, e hoje me sinto na obrigação de retribuir tudo que ela fez por mim”, afirma. Para além das dificuldades financeiras e do preconceito que ainda ronda a modalidade, o que mantém o professor firme é a missão que assumiu: “desenvolver, através da capoeira, oportunidades reais para quem mais precisa”, diz.

Novidades e Superação nos Esportes Paraenses

Se a capoeira traduz resistência histórica, o futebol americano no Pará representa um sopro de novidade e superação. Foi nas redes sociais que Ester Assunção, atleta e entusiasta do Flag Football (variante do tradicional F.A.), descobriu esse universo fascinante. Apaixonada por esportes desde a infância, ela mergulhou de cabeça na modalidade em 2019, após ganhar estabilidade financeira.

Foi nas redes sociais que Ester Assunção, atleta e entusiasta do Flag Football (variante do tradicional F.A.), descobriu esse universo fascinante
Foi nas redes sociais que Ester Assunção, atleta e entusiasta do Flag Football (variante do tradicional F.A.), descobriu esse universo fascinante

“Foi amor à primeira vista, uma conexão imediata que nunca senti com nenhum outro esporte”, conta. Mas a paixão não elimina os obstáculos. A maior dificuldade, segundo Ester, é a falta de recursos e patrocínio. Equipamentos, viagens e estrutura dependem do esforço pessoal dos atletas. Ainda assim, ela segue firme. “O campo é meu refúgio. E o time, minha família. Já joguei campeonatos grávida, treinei até três dias antes de dar à luz. Esse esporte pulsa dentro de mim”, compartilha.

Wrestling e Tradições Locais no Marajó

Outra modalidade que, aos poucos, encontra espaço no cenário paraense é o wrestling. De origem olímpica e técnica refinada, o esporte encontrou no Marajó uma ponte curiosa com as tradições locais. Em 2020, durante uma edição dos Jogos Estudantis Paraenses (JEPS), o professor Augusto Leal, 42 anos, levou seus alunos da luta marajoara, prática regional vinculada à identidade da ilha, para participarem também da luta olímpica. A transição foi natural, e os resultados foram imediatos. Os atletas brilharam, e Augusto passou a integrar a Federação Paraense de Wrestling, tornando-se diretor de desenvolvimento da modalidade no Estado. “O que me mantém firme é ver esses jovens do Marajó saindo do Pará pela primeira vez sem pagar nada, se destacando em nível nacional e internacional. Isso emociona e motiva”, destaca.

Com narrativas distintas, mas um denominador comum, a resistência, essas três modalidades revelam o quanto o esporte, mesmo em formatos menos populares, é capaz de mudar vidas. No Pará, onde a geografia diversa abriga múltiplas realidades, há sempre espaço para o novo, para odiferente e para o verdadeiro.