TALES TORRAGA
SÃO PAULO, SP (UOL-FOLHAPRESS) – Lenda do futebol, Just Fontaine, aos 89 anos, morreu nesta quarta-feira (1º), informou o Stade Reims, seu ex-clube.
O seu desempenho na Copa do Mundo de 1958, realizada na Suécia, quando marcou 13 gols, perdura até hoje. Mais do que isso: é a exata quantidade de gols que Lionel Messi, hoje considerado um dos maiores da história, levou cinco edições de Mundiais para alcançar.
O gênio argentino disputou ao todo 26 jogos em Mundiais e distribuiu seus tentos da seguinte maneira: um em 2006, nenhum em 2010, quatro em 2014, um em 2018 e sete em 2022.
MARROQUINO
Nascido em Marrakech em 1933, quando Marrocos era colônia francesa, Fontaine começou a carreira no país natal, atuando nos clubes AS Marrakech e Union Sportivo Marrocaine, entre 1950 e 1953, como contou o UOL Esporte às vésperas do França x Marrocos pela Copa do Mundo do ano passado.
Fontaine mudou-se para a França em meados nos anos 1950. Foi para o Nice depois de obter a surpreendente marca de 62 gols em 48 jogos no início de sua carreira marroquina.
Atacante completo, finalizava bem tanto com a perna direita quanto a esquerda, e era famoso também por ser exímio cabeceador.
Foi com este repertório que atingiu, aos 25 anos, a surreal marca de 13 gols em seis jogos na Copa do Mundo de 1958 (média de 2,17 gols por partida).
Para se ter ideia do expressivo número, Pelé tem menos que ele: 12 gols em 14 jogos, em quatro Mundiais.
Os gênios atuais, Lionel Messi e Kylian Mbappé, por exemplo, têm 13 e 12 gols em Copas, respectivamente.
A passagem de Fontaine pela seleção francesa durou pouco. Depois de 1958, disputou apenas a Eurocopa de 1960, terminando em quarto lugar. Pendurou as chuteiras em 1962.
O histórico goleador vivia pacatamente em Toulouse, no sul da França.
Foi treinador da seleção da França, em 1967, e de Marrocos, entre 1979 e 1981. Dirigiu também o Paris Saint-Germain, entre 1973 e 1976.
‘Gol até descalço’
Em 21 de dezembro de 1997, Fontaine concedeu completa entrevista à “Folha de S.Paulo”, na condição de embaixador da Copa do Mundo que seria realizada na França, no ano seguinte. O seu relato sobre o desempenho em 1958 é delicioso.
“Dois dias antes da Copa, minhas chuteiras arrebentaram. Meu reserva me emprestou as dele. Foi com elas que eu marquei os 13 gols. Depois eu devolvi as chuteiras. Um verdadeiro artilheiro marca gols até descalço”, contou à “Folha”.
“Eu estava em plena forma. Havia feito uma operação de meniscos em dezembro. Antes da Copa, tinha marcado 34 gols em 26 jogos. Fui o artilheiro do campeonato. Aquele foi o meu ano.”
Uma informação que poucos sabem foi reforçada por ele nesta entrevista: a goleada que a França levou do Brasil na semifinal [5 a 2] foi facilitada porque a França jogou com um homem a menos.
“Lamento ter pegado o Brasil com dez jogadores apenas. O nosso beque central [Jonquet] se machucou, e tivemos que jogar com dez [na época não eram permitidas substituições] por mais de uma hora. O jogo estava 1 a 1.”
“Se 11 contra 11 já era duro, com dez era missão impossível. Se estivéssemos com 11, não sei dizer o que aconteceria. Provavelmente, o Brasil ganharia, pois era um grande time, mas menos facilmente.”
À “Folha”, Fontaine expressou em 1997 também seu apoio ao futebol marroquino: “Eu sou francês. Tenho simpatias por Marrocos. É a minha segunda equipe. Mas eu torço também pelo Brasil. Acima de tudo eu gosto de bom futebol”.