FATURAMENTO ALTO

Mais dinheiro, menos futebol: o milagre brasileiro da CBF

Enquanto a Seleção Brasileira segue sem técnico fixo, sem identidade em campo e acumulando atuações apagadas, a CBF, nos bastidores, celebra recordes financeiros históricos.

Entidade obtém superávit de R$ 107 milhões e ativos superam R$ 3,6 bilhões no balanço
CBF e Nike renovaram até 2038 Créditos: Rafael Ribeiro/CBF

Enquanto a Seleção Brasileira segue sem técnico fixo, sem identidade em campo e acumulando atuações apagadas, a CBF, nos bastidores, celebra recordes financeiros históricos. O presidente Ednaldo Rodrigues apresentou nesta terça-feira (29) o relatório financeiro de 2024, e os números são, no mínimo, espantosos: mais de R$ 1,5 bilhão em receitas, R$ 1 bilhão investido no futebol, e um superávit de R$ 107 milhões. A entidade nunca foi tão rica — e, paradoxalmente, nunca esteve tão distante de sua principal missão: apresentar um futebol competitivo, organizado e à altura de sua tradição.

Em meio a esse cenário de bonança econômica, a seleção principal caminha sem comando técnico definido há meses. A ausência de um treinador de fato compromete todo o ciclo até a Copa de 2026. E enquanto isso, dirigentes comemoram a antecipação de R$ 1,3 bilhão com a renovação do contrato com a Nike — o maior patrocínio da história da entidade — como se os cofres cheios pudessem mascarar a estagnação dentro de campo.

A disparidade é gritante: a CBF fechou 2024 com R$ 2,4 bilhões em caixa e aplicações financeiras rendendo mais de 12% ao ano, além de ativos que ultrapassam R$ 3,6 bilhões. E o que a Seleção tem para mostrar no mesmo período? Eliminações, instabilidade, e um time que parece estar em constante reconstrução — sem sequer ter começado um projeto técnico real.

É verdade que houve aumento nos investimentos em competições nacionais e nas federações estaduais, com R$ 734 milhões destinados a esse fim. Mas ainda assim, os frutos desse investimento parecem não chegar ao topo da pirâmide. A elite do futebol brasileiro — a Seleção — sofre de um vazio técnico e estratégico. A base está sendo irrigada, mas a árvore continua seca no topo.

A CBF e o Futebol Brasileiro: Lucros vs. Resultados

O discurso institucional é de que a CBF “não é um banco”, e que o dinheiro está sendo investido no fomento do futebol. No papel, os números impressionam. Mas na prática, o futebol brasileiro carece de direção técnica, planejamento a longo prazo e coragem para decisões estruturais. A CBF virou uma máquina de arrecadação e gestão financeira — o que, por si só, não é um problema. O problema é que parece ter esquecido que o objetivo final não é o lucro, mas o futebol.

Com R$ 155 milhões em impostos pagos e ações solidárias no Rio Grande do Sul, a entidade também reforça seu papel social. Porém, nada disso resolve o que acontece (ou melhor, o que não acontece) com a Seleção em campo.

Se 2024 foi o ano do lucro, 2025 precisará ser, necessariamente, o ano do futebol. Do contrário, a CBF continuará sendo a entidade mais rica do continente — e uma das mais pobres em resultado esportivo real.