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Jogo entre EUA x Vietnã expõe abismo entre seleções na Copa do Mundo

Luciano Trindade (Folhapress/São Paulo)

Quando o Vietnã formou sua primeira seleção feminina de futebol, em 1997, os Estados Unidos já haviam disputado duas Copas do Mundo, com um título na edição de 1990 e um terceiro lugar na disputa de 1995.

Assim como em várias partes do mundo, a modalidade sempre foi vista como um jogo para homens no país do sudeste asiático. Algo que só começou a mudar – ainda que até hoje em passos lentos -, oito anos depois da recriação da Federação Vietnamita de Futebol, em 1989.

A entidade surgiu 16 anos depois do fim da Guerra no Vietnã, que durou quase duas décadas e provocou a morte de mais de 1 milhão de pessoas. Oficialmente, o fim do conflito foi declarado em 27 de janeiro de 1973, ano em que foi assinado o Acordo de Paz de Paris, que determinava a retirada das tropas norte-americanas.

Um quarto de século desde o seu surgimento, a seleção vietnamita feminina é uma das 32 que disputam a Copa do Mundo na Austrália e na Nova Zelândia. A nação está no Grupo E e estreia nesta sexta-feira (21), às 22h (de Brasília), contra os Estados Unidos, em Auckland. O SporTV, a Cazé TV e o Fifa+ exibem o jogo.

Enquanto o Vietnã é uma das estreantes desta edição, ao lado de Panamá, Portugal, Marrocos, Filipinas, Irlanda, Haiti e Zâmbia, sua adversária da primeira rodada é favorita a vencer o Mundial pela quinta vez, a terceira consecutiva. A participação de novos países foi parte da promessa feita pela Fifa (Federação Internacional de Futebol) em 2019, quando a entidade anunciou que a edição deste ano seria a primeira com 32 equipes.

A ideia da entidade é que a visibilidade oferecida pela Copa possa impulsionar o desenvolvimento do futebol feminino em mais localidades, mesmo que alguns jogos possam expor grandes diferenças técnicas.

O Vietnã teve uma grande satisfação ao se classificar para a Copa do Mundo à frente da Tailândia, o maior rival regional do país. No entanto, carregará para o torneio a missão de evitar um fiasco tão grande quanto a derrota por 13 a 0 das tailandesas para as norte-americanas na fase de grupos do Mundial de 2019. Naquela ocasião, a atacante Alex Morgan anotou cinco gols. Aos 34 anos, ela ainda é uma das referências da equipe que busca o quinto caneco.

“Não temos grandes ambições, mas durante este torneio podemos aprender muito”, reconheceu o técnico do Vietnã, Mai Duc Chung. “Temos que ser mentalmente fortes.”

O temor por uma goleada logo no primeiro compromisso não abala o orgulho das jogadoras vietnamitas, que, só por disputar a competição, já conseguiram algo que a seleção masculina nunca alcançou. A superação é uma prova de força ainda maior considerando que a maioria das jogadoras concilia o esporte com outro trabalho para se sustentar.

Para elas, será fundamental que a Fifa cumpra sua promessa de premiar cada atleta deste Mundial com, pelo menos, U$ 30 mil (R$ 143 mil). O valor poderá ser maior a partir do avanço de cada equipe na Copa e é parte dos US$ 150 milhões (R$ 719 milhões) que a entidade anunciou em prêmios para a competição.

Megan Rapinoe é uma das estrelas dos EUA na Copa – Foto: Divulgação

COMPETIÇÕES DE ALTO NÍVEL SÃO NECESSÁRIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DA MODALIDADE

Além da premiação, a federação internacional se comprometeu a organizar mais competições femininas com o objetivo de desenvolver a modalidade ao redor do mundo. Por enquanto, houve apenas o anúncio da criação de um Mundial de Clubes feminino, mas ainda não há mais detalhes sobre o torneio.

Um extenso relatório da FIFPRO, o sindicado internacional dos jogadores de futebol, publicado em junho, aponta que a ausência de competições de elite, tanto de seleções como de clubes, assim como a falta de padrões mínimos na classificação dos países para o Mundial, pode ser determinante para grandes diferenças técnicas no torneio realizado na Oceania.

Antes de apresentar as conclusões, o estudo afirma que até mesmo para a FIFPRO foi difícil obter dados de determinadas jogadoras e competições devido à carência de registros oficiais.

De acordo com a entidade, a pesquisa foi feita com 362 jogadoras, ouvidas de forma digital e anônima. Todas foram questionadas sobre suas experiências durante as disputas das Eliminatórias nos últimos 18 meses. Elas responderam perguntas sobre áreas como saúde, segurança e condições gerais.

Entre as principais descobertas, destaca-se que: 54% não fizeram nenhum exame médico antes da Copa do Mundo; 66% disseram que as instalações de recuperação de suas seleções não eram de padrão de alto nível; e 70% apontaram que as instalações de academia não eram de elite.

A FIFPRO destaca ainda os diferentes formatos de classificação para a Copa com “múltiplas inconsistências de programação, duração, formato e condições entre os torneios”.

Segundo o estudo, apenas a Uefa (União das Federações Europeias de Futebol) possui uma classificação independente. Na Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol), esse processo ocorreu por meio da Copa América, que também rendeu classificação para os Jogos Olímpicos de Paris.

Para outras nações, esse processo se deu por meio da Copa Asiática, da Copa Africana de Nações, do Concacaf W e da Copa das Nações da OFC.

O presidente da FIFPRO, David Aganzo, criticou os diferentes formatos. “Para que a Copa do Mundo seja um evento global verdadeiramente de elite, as Eliminatórias também devem ser de alto padrão”, disse ele. “É vital oferecer a jogadoras em todas as partes do mundo condições e oportunidades que forneçam a melhor plataforma para elas no cenário mundial, para que elas e o jogo floresçam em todos os lugares.”