HAVIA UM BOCA PELO CAMINHO...

Há 22 anos, Paysandu conhecia seu adversário nas oitavas da Libertadores

O futebol paraense inevitavelmente relembra uma de suas páginas mais nobres na competição.

Carreira de Iarley deslanchou após a campanha histórica com o Papão na Libertadores em 2003 - Foto: Daniel Garcia/AFP
Carreira de Iarley deslanchou após a campanha histórica com o Papão na Libertadores em 2003 - Foto: Daniel Garcia/AFP

Enquanto hoje a Conmebol sorteia os confrontos das oitavas de final da Copa Libertadores da América, o futebol paraense inevitavelmente relembra uma de suas páginas mais nobres. Já se passaram 22 anos desde que um clube do Norte do Brasil desafiou a lógica e levou sua bandeira aos palcos mais tradicionais do continente e na primeira etapa eliminatória. Em 2003, o Paysandu Sport Club viveu uma campanha memorável, digna de ser lembrada como um dos maiores feitos do futebol brasileiro fora do eixo Sul-Sudeste.

O caminho até aquele sonho começou no ano anterior, quando o Paysandu conquistou a Copa dos Campeões — torneio nacional disputado em Belém e decidido em Fortaleza, com vitória sobre o Cruzeiro na final. Era um formato extinto hoje, mas que abriu portas para clubes de fora das grandes capitais brasileiras se aventurarem no cenário continental. Uma chance que, no modelo atual, parece cada vez mais distante para equipes do Norte, que precisariam hoje ser campeãs da Copa do Brasil, da Copa Sul-Americana ou figurar na elite da Série A.

Dentro de campo, o time paraense não decepcionou. Na fase de grupos, foi dominante. Enfrentando Cerro Porteño (Paraguai), Sporting Cristal (Peru) e Universidad Católica (Chile), o Papão somou quatro vitórias e dois empates — campanha invicta, com 14 pontos no Grupo 2. Foram atuações que ecoaram não só no Brasil, mas em toda a América do Sul. O Paysandu chegou a ocupar a 39ª posição no ranking mundial de clubes, algo até hoje lembrado com orgulho pelos torcedores.

O auge daquela trajetória ficou eternizado no duelo contra o Boca Juniors, nas oitavas de final. Na temida La Bombonera, o Paysandu escreveu uma das páginas mais surpreendentes da história da Libertadores: vitória por 1 a 0 sobre o então campeão da América e do mundo, que tinha um elenco quase inteiro formado por jogadores da seleção argentina. Até então, só o Santos de Pelé (1963) e o Cruzeiro de Ronaldo (1994) haviam conseguido tal feito. Anos depois, Fluminense e Palmeiras repetiriam o gesto.

A Memória de Vanderson sobre a Libertadores de 2003

Ex-volante e ídolo do clube, Vanderson relembra com carinho aquele período que ainda pulsa na memória bicolor. “A campanha do Paysandu, até hoje, foi uma das melhores da edição da Libertadores. Não perdemos na primeira fase e fizemos história. Ganhar do Boca Juniors na Argentina não era pra qualquer um. Eles eram praticamente a seleção da Argentina, campeões da Libertadores, campeões mundiais. Isso ficou marcado. Até hoje, a imprensa brasileira e mundial fala desse feito”, recorda. 

Vanderson também destaca outros momentos que, embora ofuscados pelo jogo na Bombonera, foram gigantescos. “Muita gente lembra só do Boca, mas aquele 6 a 2 contra o Cerro Porteño no Paraguai foi absurdo. Poucos times fazem isso na Libertadores até hoje. São lembranças que carrego pra vida”, completa.

Hoje, olhando o cenário do futebol brasileiro, Vanderson reconhece que a realidade é diferente. “Disputar uma Libertadores hoje para um time do Norte é muito difícil. Precisa estar na Série A, ganhar a Copa do Brasil, a Sul-Americana… Na nossa época, veio pela Copa dos Campeões, que infelizmente não existe mais. Mas meu sonho é ainda ver Remo ou Paysandu disputando novamente. Só que precisa se estruturar, investir na base, no clube, no futebol local. A gente fez história com muitos jogadores paraenses no elenco. Isso também precisa ser valorizado”, reflete.