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Gerson Nogueira: 'Tempo para rever conceitos'

Foto: Wagner Almeida / Diário do Pará
Foto: Wagner Almeida / Diário do Pará

O PSC ganhou uma folga providencial de nove dias na tabela da Série C, espaço de tempo que pode ser decisivo para a evolução da equipe. Depois do jogo de domingo com o Floresta-CE, em Belém, o Papão só volta a campo na próxima terça-feira, 27, contra o Botafogo-PB, em João Pessoa. Oportunidade de ouro para que o técnico Marquinhos Santos consiga ministrar treinos com tranquilidade, recuperar atletas lesionados e testar novas possibilidades de jogo.

Desde que o PSC se livrou das competições simultâneas – Copa Verde e Campeonato Estadual –, é a primeira vez que há uma janela tão generosa no calendário da temporada. O desempenho do time sob o comando de Marquinhos até o momento não permite apostas mais otimistas.

As vitórias, todas magras e suadas, expressam as dificuldades que o PSC tem para dominar seus adversários dentro de casa. Os triunfos sobre Aparecidense, Manaus e Floresta são emblemáticos dessa crise de qualidade. Em nenhuma das partidas citadas, o time conseguiu render o que dele se esperava como mandante.

Para piorar, fora de casa o desempenho é pior ainda. Derrotas feias – goleadas diante do Ypiranga e do Volta Redonda – marcam a sofrível campanha como visitante. Com 12 pontos em nove rodadas, o PSC precisa urgentemente iniciar uma sequência de vitórias, sob pena de ver naufragar de novo o sonho do acesso.

As mudanças na formação do time explicam, em parte, os problemas do PSC na competição. Ao invés de prestigiar jogadores de rendimento melhor ao longo da temporada, o técnico optou pelos reforços cuja contratação recomendou.

Desse modo, entraram de cara na equipe os volantes Arthur e Nenê Bonilha, o zagueiro Paulão e o meia Robinho. Todos têm atuado em nível inferior aos antigos titulares, com especial destaque para João Vieira, Geovani e Juninho. Vieira é um caso inexplicável. Melhor meio-campista do elenco, começou a ser improvisado como lateral e afastado de sua função original.

A lateral direita, carente de peças em função dos escabrosos erros de planejamento nas contratações, tem sido frequentemente ocupada por João Vieira, que termina não rendendo o suficiente para ajudar a equipe e ao mesmo tempo deixa de ser o jogador que dava dinamismo ao meio-campo.

Na lateral esquerda, a insistência do técnico com Eltinho prejudicou o desempenho do time nos dois últimos jogos. Com Igor Fernandes na reserva, o Papão sofreu contra as ações ofensivas do São Bernardo e do Floresta.

Para encarar o Botafogo paraibano, Marquinhos terá tempo de sobra para refazer seus conceitos e observar melhor os jogadores à sua disposição. No centro da zaga não há muito o que fazer, pois a opção para substituir Paulão é Filemon, o que deixa as coisas mais ou menos no mesmo patamar.

Noite trágica na Série A: o futebol foi espancado

Acompanhei alguns jogos da rodada do Brasileiro, ontem à noite, e reforcei minha convicção quanto ao nível precário do torneio. Times considerados até em boa conta, como o Fluminense, se aliam à mediocridade geral. Muito chutão, faltas, divididas com excesso de força, valentia excessiva. Nada que recomende assistir (e pagar por isso) jogos da Série A.

Confrontos marcados pela imposição física. Foi assim com Cruzeiro e Fortaleza, no gramado careca do Mineirão. Fluminense e Atlético-MG, em Volta Redonda, fizeram no máximo uma pelada empolgante. De futebol mesmo nem lampejos. Até o nosso Ganso, habilidoso no trato da pelota, andou distante de suas melhores jornadas.

O placar foi sempre econômico, revelador da baixa produtividade ofensiva dos times. O Bahia quebrou a invencibilidade do Palmeiras em partida tecnicamente chinfrim. O gol, nos acréscimos, ajudou a salvar um jogo ruim. A coisa estava tão tediosa que o lusitano xarope não teve nem tempo de encenar seus chiliques.

De virada, o São Paulo de Dorival Júnior comportou-se na maior parte do tempo como um time tipicamente de Dorival. Lento, parcimonioso, hesitante. Num rasgo de valentia, virou para cima do Atlético-PR, que parou de jogar quando abriu o placar.

Corinthians e Santos nem terminaram de jogar. O embate já era fraco por natureza, mas o comportamento selvagem de parte da torcida colaborou para deixar tudo muito pior e acelerou o encerramento do confronto.

Para quem viu na véspera a Seleção se afundar diante da velocidade e organização do Senegal fica fácil entender porque tudo está tão mal parado no futebol do Brasil. Pratica-se um modelo de jogo enfadonho, previsível e hostil aos grandes jogadores. Ninguém quer espetáculo, só importa ganhar a qualquer custo. É a melhor receita para seguir perdendo.

Castro: entre o projeto alvinegro e a sedução árabe

Luís Castro, técnico do líder Botafogo, está numa sinuca de bico. Elegante e ético, diz não se perturbar com a montanha de dinheiro que os árabes lhe oferecem, mas é cada vez mais difícil resistir ao cerco. Pelos relatos de ontem, o técnico português parece ter se acertado com John Textor, o manda-chuva da SAF botafoguense.

Os méritos de Castro no Botafogo são incontáveis. Conseguiu impor ordem e método a um time que parecia uma barata tonta durante o Campeonato Carioca. O técnico aproveitou os 30 dias sem competições para arrumar a casa. Aproveitou bem o tempo para conhecer melhor seus comandados.

Dessa imersão surgiu um time bem arrumado e competitivo, embora não totalmente pronto. A força do conjunto contribuiu para evidenciar destaques individuais, como Tiquinho Soares, Adryelson, Cuesta, Lucas Perri, Eduardo e Junior Santos.

Ninguém pode afirmar que a bela campanha resultará em título, mas é certo que o Botafogo chegou até aqui pelas mãos de Castro e a campanha só chegará a bom termo com a permanência dele.