O preço da irresponsabilidade
As notícias custaram a ser confirmadas. Primeiro, o próprio PSC informou por sua assessoria que o julgamento do lateral-direito Nino Paraíba havia sido adiado para hoje. Depois, veio a confirmação: ainda na noite de ontem o atleta foi condenado pela 2ª Comissão Disciplinar do STJD a 480 dias de suspensão e pagar multa de R$ 40 mil.
Como se sabe, o PSC não tem nada a ver com essa história. Entrou de gaiato no navio, por exclusiva lambança em sua política de contratações. Nino Paraíba, réu confesso no escândalo da manipulação de resultados desvendado pelo MP de Goiás, estava quieto, sem clube, há meses.
Aí, quando ninguém se arriscava a contratá-lo, chega o PSC, por indicação do técnico Hélio dos Anjos, e fura a fila da insanidade. Aquela proverbial mania de autoflagelação dos grandes clubes paraenses.
Nenhum problema em contratar veteranos. O futebol do Pará vive repleto de masters na Série C. Talvez seja o Estado da federação que mais valoriza a longevidade no futebol. Nino Paraíba tem 37 anos, já rodou o país defendendo uma infinidade de times.
Hoje, porém, é um jogador sob suspeita. Mesmo depois de ter se prontificado a contribuir com as investigações sobre a máfia das apostas, o STJD aplicou a pena mais próxima do banimento.
Em três partidas do Campeonato Brasileiro da Série A 2022 – contra Flamengo, Cuiabá e São Paulo –, quando defendia o Ceará, o atleta teria recebido uma quantia para ser advertido com cartões amarelos, beneficiando os apostadores.
Nino foi autuado nos artigos 191, III inciso, e 243, que preveem, respectivamente, punição para quem deixar de cumprir, ou dificultar o cumprimento de regulamento, geral ou especial, de competição e atuar deliberadamente, de modo prejudicial à equipe que defende.
A trapaça acabou descoberta e as investigações prosseguem. Até o momento, não há notícia de que atletas de clubes do Pará tenham sido subornados para receber advertências e expulsões.
Irresponsavelmente, a diretoria do PSC decidiu contratar o atleta, mesmo ciente de todos os problemas. Ato de generosidade ou esperteza de alguns? É mais provável que o clube tenha sido vítima, mais uma vez, da fraqueza e do despreparo de seus próprios dirigentes, sempre submissos à vontade de técnicos de pulso firme.
Nino Paraíba atuou por 46 minutos com a camisa do Papão. Foi na partida contra o América, em Natal, pela Série C. Parecia haver pressa em colocá-lo em ação, mesmo com a presença de outros dois laterais direitos no elenco – Anilson e Edilson. Azar do clube, cuja imagem pública ficará sempre associada a um ilícito que não cometeu.
Evandro: um raro reforço de verdade no Remo
O Remo custou a achar um lateral-esquerdo para a campanha na Série C. Leonan, o melhor do elenco, sofre com um histórico de lesões e não poderia ser utilizado sempre. O reserva imediato, Kevin, não convenceu. De repente, com a competição em andamento, alguém lembrou que havia no Águia campeão estadual um jogador talhado para exercer a função no Leão.
Evandro, melhor lateral-esquerdo do Parazão, estava com o Águia na Série D, mas fechou com o Remo e ajudou Ricardo Catalá a resolver o drama ali pela faixa canhota da defesa. Com características ofensivas, bom chute de média distância e desempenho excelente nos cruzamentos, entrou na equipe e não saiu mais.
É provavelmente o melhor reforço da lista de 26 que o Remo trouxe desde janeiro. Como não foi oferecido por empresários e nem envolveu negociações mais rebuscadas, saiu a um preço bem interessante para o clube. Típico caso de custo-benefício satisfatório.
Que exemplos como o de Evandro inspirem os clubes locais a lançarem um olhar mais generoso para os jogadores regionais. Como ele, vários outros bons valores participaram do campeonato estadual e foram ignorados enquanto os clubes se lançavam em negócios de resultado duvidoso.
Palmeiras e Galo expõem o lado feio da Libertadores
A Taça Libertadores já foi um torneio marcado por jogos empolgantes e tecnicamente interessantes. Há alguns anos, coincidindo com o domínio brasileiro, as partidas se arrastam de maneira sofrível. Muita marcação, briga intensa pela bola, chutões e seja o que Deus quiser.
Ninguém vê dribles e jogadas cerebrais. É um vale-tudo sem fim. Ontem à noite, Palmeiras e Atlético-MG confirmaram essa tendência. Um duelo chato, rude, desprovido de lances bonitos. Da Libertadores raiz apenas a tendência para a pancadaria. Faltas duras e ríspidas.
Até os jogadores mais qualificados, como Dudu e Raphael Veiga pelo Palmeiras e Paulinho pelo Galo, ficaram devendo. As torcidas envolvidas vibram, se exasperam, sofrem, mas os demais espectadores ficam sempre com a sensação de que o futebol está bem longe dali. O placar de 0 a 0 foi fiel ao show de antijogo exibido em São Paulo.
Não é um problema exclusivo de palmeirenses e atleticanos. É quase uma tendência no continente. Raros são os times que valorizam a posse de bola, que trabalham com lançamentos e passes precisos.
Quem se deu ao trabalho de assistir os 90 e tantos minutos de Palmeiras x Atlético ficou com a sensação de que qualquer perna de pau poderia estar em campo, tal a limitação e o primarismo das ações de lado a lado. Um clássico brasileiro que não tem absolutamente nada daquele futebol vistoso de dribles e alegria que um dia (faz tempo) encantaram a torcida.