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Gerson Nogueira: 'Precisamos falar de Vinícius'

O goleiro Vinícius não terá seu contrato renovado com o Clube do Remo e dará adeus ao Baenão após oito temporadas Foto: Samara Miranda/Remo
O goleiro Vinícius não terá seu contrato renovado com o Clube do Remo e dará adeus ao Baenão após oito temporadas Foto: Samara Miranda/Remo

Precisamos falar de Vinícius

Logo na primeira entrevista após a apresentação do elenco para 2024, o técnico Ricardo Catalá falou sobre os critérios de escolha de jogadores e deixou claro que o veterano goleiro Vinícius, ídolo da torcida remista ao longo de sete anos, pode não ser titular no time que vai iniciar a temporada disputando o Campeonato Paraense.

Segundo Catalá, o time terá quatro goleiros – Vinícius, 39 anos, Marcelo Rangel (35), Léo Lang (25) e um vindo da base – que terão igualdade de condições na luta pela titularidade. Essa definição virá depois da pré-temporada, prevista para a primeira quinzena de janeiro. “O lugar que se conquista o direito de jogar é nos treinamentos”, disse o treinador.

O discurso parece afinado com a opinião de integrantes da nova diretoria, favoráveis ao encerramento do vínculo com o goleiro. Catalá repetiu várias vezes que Vinícius vai cumprir contrato (até março), mas não se posicionou sobre a prorrogação contratual.

A atividade extracampo de Vinícius – que é vereador – foi mencionada indiretamente na entrevista. Pela primeira vez, a vida parlamentar do goleiro entrou na pauta de um técnico no Remo: “Tem que ver como ele quer conciliar esses interesses que precisam ser discutidos”.

Desde que se elegeu para a Câmara Municipal de Belém, Vinícius não há notícia de tenha faltado aos treinos ou a algum compromisso do clube. Modelo de profissionalismo e comprometimento, todos reconhecem nele um exemplo para os demais atletas.

Vinícius desembarcou no Evandro Almeida em 2017, trazido pelo técnico Josué Teixeira. Veio como segunda opção, o titular era André Luís. Como este se lesionou, Vinícius assumiu a titularidade e nunca mais foi barrado.

Protagonista de verdadeiros milagres no arco azulino, salvando o time de situações desesperadoras, Vinícius nunca perdeu a postura comedida, tanto nas declarações como nos jogos. Destaca-se pelo posicionamento e agilidade, evitando sempre a acrobacia e o espalhafato.

Nas sete temporadas, jogou 258 partidas, recorde de um jogador do Leão neste século. Ajudou o Remo a conquistar três campeonatos estaduais – 2018, 2019 e 2022 –, foi decisivo na conquista da inédita Copa Verde 2021 e no acesso à Série B naquele mesmo ano.

A derrocada que se seguiu, com o rebaixamento à Série B, marcou boa parte dos jogadores e acabou refletindo mais em Vinícius, o menos culpado, mas um dos poucos a permanecer no elenco. Passou a ser visto como ‘velho’, sendo que o fator idade nunca foi régua para goleiros.

Uma falha grave (e rara) no Re-Pa da Série C em 2022 passou a sustentar as críticas de parte da torcida. Jogadores que se identificam muito com um clube pagam por vezes um alto preço por essa lealdade. Parece ser o caso de Vinícius, um dos poucos ídolos surgidos no Baenão no século 21.

Por mais que Catalá se posicione de forma protocolar, defendendo a meritocracia como critério para definir o novo titular, não deixa de ser uma descortesia com um atleta que tanto honrou a camisa azulina. Tecnicamente em forma, Vinícius tem qualidades – e muito crédito. Merece respeito.

Ritmo de contratações deixa torcedor impaciente

A pressa em ver um elenco formado e um time escalado faz com que muito torcedor fique à beira de um ataque de nervos. Vale para todos os clubes brasileiros que têm grandes torcidas. Não escapa um. No cenário local, essa ansiedade acomete mais o torcedor do Papão, que reclama do critério de anunciar reforços adotado pela diretoria do clube.

Na contramão daquela afobação de outros anos, quando carradas de jogadores chegavam a Belém a cada semana, os dirigentes têm sido meticulosos e prudentes, evitando precipitações desnecessárias.

Foram anunciados 10 atletas, restam mais sete a serem confirmados. A pré-temporada vai começar em janeiro, o que dá uma folgada margem de tempo para que os novos contratados sejam apresentados.

A responsabilidade de uma competição tecnicamente mais exigente talvez torne mais acentuada a pressão da torcida, mas até o momento a agenda bicolor está completamente dentro da normalidade. Devagar também se chega aos objetivos.

A velha necessidade de aprovação internacional

Nos últimos dias, no clima do Mundial de Clubes, é possível observar o ressurgimento de uma viralatice típica do futebol brasileiro. Parcela da mídia esportiva se ocupa da tarefa de observar como os nossos clubes são vistos pelos europeus. Confirmada a final entre Fluminense e Manchester City, essa necessidade de aprovação aflorou por inteiro.

O constrangimento foi observado pelo jornalista Leandro Demori, em comentário na internet. Segundo ele, a imprensa brazuca parece sempre ansiosa em descobrir se os jogadores do City e o técnico Pep Guardiola conhecem o Fluminense e que, sim, o futebol brasileiro existe.

É como se fosse sempre necessário esse aval, sem o qual o país pentacampeão do mundo e berço dos maiores craques mundiais em todos os tempos não teria legitimidade em competições de grande porte.

A tendência é antiga, e visível em outras áreas, mas se acentuou nos últimos anos com a crescente hegemonia dos clubes da Europa e o êxodo de atletas revelados no Brasil. O fator econômico determina esse abismo, mas não pode jamais servir de balizamento para entre o que se faz lá e aqui.

As circunstâncias favoráveis permitem aos europeus montar verdadeiras seleções internacionais, garimpando os melhores e mais caros atletas, mas nem sempre foi assim. Até meados dos anos 1980, o equilíbrio reinava na disputa de títulos intercontinentais e não havia a superioridade absoluta que reina hoje.

É preciso ajustar a lente e olhar para o cenário atual com tranquilidade, procurando entender as imposições do mercado, senhor absoluto de todas as regras e caprichos também no futebol.