A fúria do pipoqueiro mimado
Causou assombro, nos últimos dias, a informação de que Neymar xingou e peitou o presidente da CBF logo depois de ter sido alvejado com pipocas, na Arena Pantanal, no final do jogo Brasil x Venezuela. Aborrecido com o deboche de um torcedor, episódio que foi tema da coluna de ontem, o mimado atacante resolveu atacar o patrão dele no escrete.
Ednaldo Rodrigues, o atual chefão do futebol brasileiro, passava por ali quando Neymar desceu aos vestiários, ainda espanando as pipocas do cabelo e da camisa da Seleção. Diante de testemunhas, incluindo outros jogadores, soltou os cachorros para cima do presidente da CBF. O veterano José Carlos Araújo, o Garotinho, noticiou o episódio em primeira mão.
Além de se dirigir a Ednaldo com uma saraivada de palavrões, ainda exigiu que não programe mais jogos da Seleção para Cuiabá, assumindo ares de prima-dona ultrajada. Poucos entenderam o motivo de tanto chilique, embora todo mundo saiba que o camisa 10 não tem limites.
Do mesmo modo, não é novidade que Neymar está acostumado a se insurgir contra superiores hierárquicos. Fez isso no Santos, ainda no começo da carreira profissional. Descumpriu publicamente ordens de Dorival Júnior, seu técnico à época, e desafiou a autoridade de Renê Simões na seleção sub-20.
Renê, por sinal, disse que estava nascendo “um monstro” criado pela omissão de seus treinadores na base e a total permissividade de dirigentes e assessores. Esqueceu a figura do pai e empresário do jogador.
Neymar pai controla a carreira do pimpolho com mãos de ferro e passa pano para todos os seus caprichos, por mais absurdos que sejam. Ai de quem contrariar o menino Ney. Entra logo para o rol dos inimigos mortais. Figuras ilustres, como Casagrande e Juca Kfouri, estão nessa lista.
Como se sentiu à vontade para passar um pito no presidente da CBF, é de supor que não vai aceitar quando Fernando Diniz decidir algo que o contrarie. Ednaldo deveria, a essa altura, ter ordenado o imediato afastamento do atleta por insubordinação, antes do jogo de amanhã contra o Uruguai pelas Eliminatórias Sul-Americanas.
Acontece que a falta de pulso própria dos cartolas brasileiros não permite que o presidente da CBF arrisque aplicar uma punição sobre o principal astro da Seleção. Se bobear, o dirigente não vai nem se pronunciar, a fim de botar panos quentes no constrangedor episódio.
Neymar seguirá, impávido e confiante, a desafiar a disciplina interna e a fazer o que bem entende. Exatamente o que sempre fez desde que se profissionalizou, estimulado pela impunidade.
Pode-se dizer também que esse excesso de liberdade é uma das causas do naufrágio de um projeto de astro maior, destinado a conquistar os principais troféus individuais da Fifa e a liderar a busca pelo pentacampeonato mundial. As recorrentes cenas de irritação com os árbitros têm conexão com os abusos cometidos do lado de fora.
Quando, em 2018, Neymar se tornou alvo de piada mundial pelo excesso de simulações durante a Copa da Rússia, a pergunta que mais se ouvia era: por que Tite, o técnico da Seleção, não toma uma atitude com o jogador? O que ocorreu na Arena Pantanal responde a essa indagação. Todos que lidam com o atacante agem como bananas e pipocam gloriosamente.
Onça-pintada quer títulos e sonha com a Série A
O primeiro jogo da final da Série C terminou 0 a 0, ontem, em Manaus. O Amazonas perdeu oportunidades e tomou alguns sustos também. O título será decidido no próximo fim de semana, em Brusque, e a Onça-Pintada segue com chances, pois tem um retrospecto vitorioso como visitante.
Com um time repleto de refugos do futebol paraense – Jimenez, PH, Renan Castro, Gustavo Ermel –, o Amazonas fez uma campanha surpreendente no Brasileiro da Série C, amparado na grande fase do centroavante Sassá, artilheiro isolado da competição.
Teve um excelente desempenho na primeira fase, mas caiu de rendimento no início do quadrangular. Depois de trazer o técnico Luizinho Vieira, o time recuperou a pegada e emendou uma sequência de quatro vitórias, conquistando o acesso e o direito a decidir o título.
Em entrevistas recentes, a diretoria do clube faz planos de chegar à Série A em dois anos. É bom não duvidar. O clube é jovem, com apenas cinco anos de fundação, mas tem pressa em conquistar espaço e títulos.
Mbappé se consagra como o melhor do pós-Copa
Não é possível ignorar que o grande jogador do período posterior à Copa do Mundo é Kylian Mbappé. O craque francês não para de demonstrar em campo que o relativo reconhecimento obtido no Qatar tende a virar ampla consagração nos próximos mundiais.
Com 24 anos de idade, Mbappé chegará ao Mundial de 2026 na plenitude, com total condição de disputar pelo menos mais duas Copas em alto nível. Nesta semana, ele novamente abusou do talento para jogar futebol.
Na sexta-feira (13), o time treinado por Didier Deschamps derrotou a Holanda por 2 a 1, com dois golaços de Mbappé, assegurando a classificação antecipada nas eliminatórias para a Euro-2024.
As redes balançaram cedo. Logo aos 6 minutos, após rápida troca de passes, Antoine Griezmann tocou para Clauss, que cruzou para Mbappé bater de voleio e abrir o placar. Belíssimo gol do capitão francês.
Apesar de uma ligeira reação holandesa, os franceses continuavam mais agudos nas jogadas ofensivas. No segundo tempo, a vantagem foi ampliada aos 7 minutos: Mbappé foi lançado na esquerda e disparou um chute cruzado e certeiro no ângulo direito, sem chances para Verbruggen.
O camisa 10 francês completou 42 gols com a camisa dos Bleus, superando o ídolo Michel Platini e tornando-se o 4º maior artilheiro do país. A Holanda descontou aos 37’, com Hartman.
Quando ressalto as qualidades de Mbappé revelo minha admiração pelo estilo e desassombro do jovem atacante, que na última Copa acabou eclipsado pela conquista de Lionel Messi, embora tenha sido o mais espetacular jogador nos gramados catarianos.