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Gerson Nogueira: 'Leão cochila e Águia aproveita'

Foto: Samara Miranda/Ascom Remo
Foto: Samara Miranda/Ascom Remo

A primeira partida da decisão do Campeonato Paraense foi um retrato fiel do nível da competição. Muitos passes errados, faltas em excesso e baixa qualidade técnica. Ainda assim, dentro de suas limitações, o Águia se saiu melhor. Foi mais objetivo e aproveitou para fazer o gol na única boa oportunidade que teve na etapa final.

O Remo voltou a ser o time cadenciado, passivo e sem pressa. Marcelo Cabo não entendeu a Copa Verde, está indo mal na Série C e está sob ameaça de perder um campeonato que liderou desde o começo.

Na prática, o Remo cumpriu o script do visitante acomodado. Não quis pressionar – ou não soube – e acabou assistindo o Águia se movimentar melhor no início da partida. O primeiro chute a gol do Leão foi aos 6 minutos, com Pablo Roberto batendo à direita da trave.

Ao longo da partida, Pablo teve bons momentos, fazendo firulas, arriscando chutes de fora da área, mas esteve sempre mal acompanhado. Richard Franco se dividia entre marcar e atacar, sem cumprir direito nem uma coisa nem outra. Atrás, a zaga tinha Diego Ivo, escalado para marcar o grandalhão Luan Parede.

Aos 11’, o Águia construiu uma manobra rápida pela direita. Após falha da marcação, o volante Castro limpou a jogada e ficou de frente para o gol. Chutou pelo alto, para uma grande defesa de Vinícius.

O Remo respondeu com cruzamento de Leonan em direção a Muriqui no primeiro pau, mas o zagueiro David Cruz conseguiu desviar para escanteio. A partir dos 20 minutos, o Remo se posicionou melhor, trabalhando a bola em passes rasteiros e fazendo o jogo girar, mas sem botar pressão ofensiva.

As chances do Águia surgiam em contra-ataques, como aconteceu aos 24 minutos. Alan Maia avançou pela esquerda e tocou para o centroavante Luan Parede. Mesmo marcado, ele finalizou, mas Vinícius saiu a tempo. No rebote, Maia bateu no canto, mas o zagueiro Ícaro evitou o gol.

Anderson Uchôa recebeu sem marcação e arriscou da intermediária um chute forte, de curva, obrigando o goleiro Axel Lopes a espalmar para escanteio, aos 28’. Em seguida, um cruzamento de Lucas Mendes pegou a zaga do Águia desprevenida e a bola ficou viva na área. O goleiro saiu mal e Richard Franco tentou finalizar, mas o chute saiu torto.

A melhor chance do Remo veio aos 36’, quando o Águia saiu errado pelo meio e Pablo Roberto ficou com a bola, tendo três opções de passe – Muriqui, Jean Silva e Richard Franco. A escolha pelo último se mostrou equivocada. Franco entrou na área, mas tocou rasteiro, facilitando a defesa de Axel.

O Remo voltou para o 2º tempo do mesmo jeito. Insistia nas jogadas de aproximação, com Galdezani no lugar de Richard Franco e dois atacantes abertos nas extremas, Jean Silva e Pedro Vítor. Logo de cara, Pedro Vítor fez boa jogada na linha de fundo, mas optou por chutar sem ângulo ao invés de tocar para Pablo, livre dentro da área.

Havia articulação e boa dinâmica, mas faltava intensidade. Contra um Águia retraído, os ataques se sucediam. Leonan cruzou na área, Galdezani cabeceou e Axel deu rebote, quase largando a bola nos pés de Pedro Vítor.

Quando começou a mexer no time para injetar fôlego novo, Marcelo Cabo repetiu o equívoco de lançar Lucas Marques, substituindo Pedro Vítor, esquecendo Ronald no banco. Muriqui, exausto, não ganhava nenhuma disputa com a zaga, mas permaneceu até o fim. Havia a opção de Kanu no banco, ideal para o jogo aéreo.

Ah, sim, Cabo lembrou de Ronald, mas aos 40’, quando o Remo já perdia por 1 a 0. Um gol de Balão Marabá em cobrança de falta caprichada, na gaveta. A infração foi cometida, de forma bizarra, por Diego Ivo. Vitória merecida, premiando a objetividade: o Águia não deixou passar a melhor chance que teve no 2º tempo.

Desarrumação do time parece autossabotagem

As quatro derrotas seguidas (três pela Série C e a de ontem para o Águia) carimbam definitivamente a má fase vivida pelo Remo. Um esgotamento técnico que se acentuou após a estreia no Brasileiro. A última boa apresentação foi contra o Cametá, pela semifinal do Parazão. Além da goleada, a equipe jogou de forma convincente.

Desde então, o time entrou em parafuso e se desarrumou por completo. Marcelo Cabo lançou jogadores recém-contratados e acabou com o entrosamento que vinha garantindo uma sequência de vitórias na temporada. Foi como se o técnico decidisse sabotar o próprio trabalho.

As decisões foram tão infelizes que ele nunca mais colocou em campo os reforços lançados na marra na Série C. Diante do esforçado Águia, o Remo até teve a posse de bola e o controle das ações na maior parte do tempo, mas não foi intenso e contundente como a partida exigia.

Na reta final, com o cansaço batendo à porta, a zaga fraquejou e o Águia soube chegar à vitória. Resultado importante porque obriga o Remo a vencer por dois gols de diferença na partida de volta, tarefa difícil mesmo jogando diante de sua torcida. O time, viciado nos toques laterais improdutivos, desaprendeu o caminho das vitórias. Cabo não demonstra inspiração para mudar esse estado de coisas.

Acomodação tornou ataque um deserto de ideias

Melhor ataque do Parazão, com 28 gols, o Remo esgotou sua munição nas semifinais, quando empatou (1 a 1) e venceu o Cametá (4 a 0). Diante do Águia, a linha de frente com Muriqui, Jean Silva e Pedro Vítor produziu muito pouco. Jean foi quem mais apareceu, mas não foi agudo como de outras vezes. Muriqui foi facilmente anulado pelos zagueiros. Quanto a Pedro Vítor, não há muito o que esperar.

O meio-de-campo funcionou razoavelmente durante grande parte do confronto, com Uchoa à frente dos zagueiros e Pablo se encarregando da criação. O problema é que faltou equilíbrio no setor. Richard Franco foi dispersivo, pouco ajudou na marcação e na frente errou todas.

Dos laterais, Leonan foi o mais ativo, enquanto teve fôlego. Na direita, Lucas Mendes fez o básico, mas chegou atrasado para marcar na origem a jogada que resultou na falta que decidiu a partida. Há muito a mexer no Remo e as peças demonstram um desgaste surpreendente e inesperado.