Bola

Gerson Nogueira comenta sobre a farra de contratações em Remo e Paysandu

Renanzinho, um dos últimos reforços do Remo para a trágica campanha na Série C.
Renanzinho, um dos últimos reforços do Remo para a trágica campanha na Série C.

O futebol no reino da fantasia

As torcidas de PSC e Remo não se acostumaram ainda com os nomes dos 70 e tantos jogadores contratados para o Campeonato Brasileiro da Série C. Após a penúltima rodada da fase de classificação, existem atletas que jogaram apenas alguns minutos e até quem não estreou ainda – e talvez nem entre em campo. Laranjeira, Vitor Leque, Gustavo Buchecha, Thiaguinho, Lucas Paranhos, Wesley e Nino Paraíba são alguns dos recordistas de participação mínima nos dois lados.

Nessa situação específica, que desafia a lógica do negócio futebol, o problema não é dos jogadores. Chegam aos clubes por indicação de executivos, técnicos e/ou diretores. Não obrigam ninguém a contratá-los, foram trazidos para Belém.

O total de contratações desta temporada bate todos os recordes. O PSC extrapolou suas próprias marcas de gastança, contratando nada menos que 47 jogadores. O Remo, ligeiramente mais contido, trouxe 27 atletas. A somatória dá 74 nomes, todos descritos às torcidas como “reforços”.

Falar em reforço para jogadores que, em grande parte, apenas esquentam o banco de reservas, às vezes nem isso, é um exagero. Antigamente, as torcidas engoliam a potoca de que eram atletas destinados a fortalecer os times. Hoje quase ninguém acredita nisso.

Quando os clubes anunciam as famosas legiões de contratados o público já sabe que o percentual de acerto é baixíssimo, quando não é nulo. O Remo, por exemplo, trouxe de uma só tacada, ainda sob o comando de Marcelo Cabo, jogadores como Buchecha, Laranjeira, Claudinei (que rescindiu contrato ontem com o clube), Álvaro, Elton e Vitor Leque.

Só Claudinei chegou a ser titular, principalmente depois que Anderson Uchoa se lesionou. Elton entrou sempre no decorrer das partidas. Os demais foram figuras raras em jogos do Remo na Série C. Laranjeira entrou por 20 minutos contra o Botafogo-PB ainda na segunda rodada.

Thiaguinho é um exemplo típico da irresponsabilidade no uso dos recursos do clube. O atacante esteve no Remo em 2022, não chegou a jogar uma partida completa na reta final da Série C, e foi contratado para os últimos quatro jogos neste ano. Ocorre que, depois de três rodadas, ainda não entrou em campo.

No PSC, Lucas Paranhos é apenas mais um nome na longa lista de contratados. Indicado por Hélio dos Anjos, chegou há três semanas, junto com Gustavo Custódio e Kevin, mas só fez treinar. Nino Paraíba, condenado pela Justiça Desportiva por envolvimento no escândalo da manipulação de apostas, pelo menos entrou por 40 minutos contra o América-RN. Custódio já foi titular contra o Altos.

Nino Paraíba: poucos minutos em campo pelo Papão e todo enrolado com a Máfia das Apostas. Está suspenso pelo STJD.

São exemplos pinçados aqui e ali para expor o tamanho da brincadeira. No caso do PSC, as extravagâncias financeiras podem ser esquecidas no caso de conquista do acesso. Periga até virar sinônimo de competência, pelos padrões normalmente enviesados da gestão esportiva no Pará.

O Remo, porém, não tem perdão. Os muitos pecados cometidos nas contratações reforçam a imagem de desleixo evidenciada desde 2020, sempre com imensos prejuízos nas competições. Gastar muito, e mal, é a base filosófica dos dirigentes azulinos. Até quando, não se sabe.

Rony voa em campo depois de ser preterido na Seleção

(Foto: Cesar Greco/Palmeiras/by Canon)

Imagino que Fernando Diniz acompanhou o jogo do Palmeiras, ontem à noite, diante do Deportivo Pereira. Deve ter visto o que o paraense Rony fez em campo. Participou dos três primeiros gols e marcou o quarto para o time esmeraldino. Jogou o tempo todo em altíssima velocidade, infernizando a vida dos zagueiros e tornando mais fácil a atuação de seus companheiros.

A troca de passes do Palmeiras, desde a defesa até o meio-campo, teve em Rony o jogador mais avançado. Foi a flecha do arco tático montado por Abel Ferreira. É verdade que o Pereira contribuiu para a goleada, jogando de maneira descuidada e – pecado dos pecados – esquecendo de marcar Rony, que ganhava quase todas as disputas.

Um jogador fundamental, elétrico e com repertório amplo. Sofreu a falta que originou o primeiro gol (Raphael Veiga, de pênalti), deu o passe para o segundo (Marcos Rocha), roubou a bola que conduziu ao terceiro (Mayke) e avançou rumo à área para fazer o seu, coroando a atuação.

A lista de convocados para o jogo da Seleção Brasileira contra a Bolívia em Belém ignorou essas virtudes de Rony. Observei um certo esnobismo de Diniz, como se o arisco e habilidoso avante palmeirense fosse um jogador desnecessário para o escrete. Preferiu prestigiar Neymar, que ainda trata de uma lesão, segundo o técnico Jorge Jesus.

Ainda há tempo de substituir o astro das Arábias pelo menino de Magalhães Barata. É certo que contaria com o apoio da torcida que vai lotar o Mangueirão na noite de 8 de setembro.

Lei brasileira endurece o jogo: racistas não passarão!

Acostumados a demonstrar sua veia racista nos estádios brasileiros, torcedores e jogadores argentinos, uruguaios, bolivianos e equatorianos, principalmente, estão roendo uma pupunha desde que a legislação nacional trouxe um endurecimento para casos de racismo e injúria racial.

Vários jogadores e membros de comissões técnica foram punidos exemplarmente, como manda a lei: flagrados em atos racistas contra brasileiros, acabaram presos e indiciados judicialmente.

Com os torcedores não foi diferente. Oito deles, pelo menos, já sentiram o rigor da legislação brasileira. A prática racista, espalhada por estádios sul-americanos, é hoje reprimida unicamente no Brasil.

Clubes como o Estudiantes de La Plata e o River Plate decidiram alertar seus adeptos para o risco de encarceramento no Brasil em caso de insultos e xingamentos. Pode ser o começo do processo de conscientização – pela força – contra o racismo no futebol. É assim que se avança.