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Gerson Nogueira avalia os reforços de Remo e Paysandu: 'Sub-40 em alta'

Camilo é novo reforço do Remo
Camilo é novo reforço do Remo

Sub-40 em alta no Pará

Talvez não haja nada mais imprevisível em futebol do que a política de contratações. Escolhas consideradas certeiras muitas vezes resultam em fracasso retumbante. Por outro lado, algumas apostas aleatórias se revelam bem sucedidas, sem que se consiga ter explicações lógicas.

No ano passado, por exemplo, o Amazonas contratou o atacante Sassá, que era considerado carta fora do baralho, com histórico ruim nos últimos anos. Parecia uma escolha desastrosa. De repente, Sassá desandou a fazer gols, virou artilheiro e melhor jogador da Série C 2023, desmentindo todas as previsões.

O problema de fenômenos como o de Sassá é que terminam por virar case de sucesso, passando a ser imitado pelos demais clubes. É claro que o êxito do atacante foi absolutamente casual. As probabilidades de sucesso eram mínimas. Deu certo por uma saudável coincidência de fatores, incluindo um time que se fechou em torno do goleador.

A dupla Re-Pa tem dado tiros a esmo nos últimos anos, quase sempre gerando fracassos e decepções. Neste ano, o PSC teve a ventura de reagir a partir da 13ª rodada do Brasileiro e dali caminhar para o acesso. Tinha feito um festival de bobagens nas contratações (50), com jogadores em fim de carreira e alguns que nem chegaram a atuar.

O Remo seguiu o mesmo fluxo. Contratou um pouco menos (27) que o rival, mas caprichou na ruindade das escolhas. Pior: trouxe oito jogadores acima dos 33 anos, média muito alta até para os padrões da Terceira Divisão. Quando todos buscam rejuvenescer, o Leão enveredou pelo caminho oposto. Óbvio que não daria certo.

Desta vez, impulsionado pelo desejo de mudança e o entusiasmo de uma nova diretoria, o clube começou trazendo um atacante e um zagueiro de 35 anos e um meia de 37. Já é muito, mas deveria ser o limite máximo de aquisições na faixa etária sub-40.

Camilo, meia-armador com passagem por vários clubes de ponta, fez uma Série B de bom nível pelo Mirassol. Tem bom histórico disciplinar extracampo. Tecnicamente, terá o papel de organizador do time, além de ser uma espécie de líder em campo.

O período no Botafogo, nas temporadas de 2016 e 2017, foi o mais brilhante da carreira. Em 57 jogos, marcou sete gols, alguns de bela feitura. Graças ao desempenho, foi convocado por Tite e jogou 15 minutos no amistoso da Seleção Brasileira contra a Colômbia, em janeiro daquele ano.

A questão é que, além do custo da contratação, ele pode ter problemas numa campanha que será marcada pela cobrança da torcida e as exigências do acesso. Para que funcione, precisará de um time com base mais jovem, capaz de marcar e correr por ele.

No PSC, Robinho foi o jogador escalado para essa função na Série C. No começo, oscilou muito, mas aos poucos foi melhorando e virou peça fundamental na conquista do acesso. Sua arma foi o aproveitamento em assistências na bola parada. Camilo, especialista em cobranças de falta, pode ser o Robinho azulino na temporada.

De qualquer forma, o Remo não pode se dar ao luxo de cometer os erros recentes. Simplesmente não pode errar mais. Neste ano, abusou de meio-campistas cansados, desestimulados e tecnicamente ineficientes. A exceção foi Pablo Roberto, mas deixou o clube na fase crítica da Série C.

Desta vez, além de Camilo, Daniel e Renato Alves (anunciados antes), espera-se que o clube traga jogadores mais jovens para o meio e as laterais. Além disso, a base tem atletas em condições de disputar um espaço no time. Mas, para aproveitar os de casa, vale a velha receita: é preciso ter a mesma paciência dedicada aos importados.

Textor em conflito com o submundo do futebol no Brasil

Não vai ser tarefa simples fazer John Textor entender como funcionam as coisas no futebol brasileiro. Chocado com a quantidade erros de arbitragem cometidos em jogos do Botafogo nesta temporada, ele poderia ir aos arquivos para pesquisar garfadas até mais escandalosas contra o clube nos últimos anos.

Um relatório encomendado à consultoria é a base documental de Textor para levar a denúncia à Justiça. Se a intenção é expor uma realidade, o investidor faz a coisa certa. Mas, se pretende uma reparação ou reconhecimento pelas falhas de apitadores e do VAR, pode esquecer.

Algumas das irregularidades apontadas, como a expulsão de Adryelson no jogo-chave diante do Palmeiras, foram consideradas “legais” pelos comentaristas da emissora que manda e desmanda no campeonato. Isso funciona como um aval definitivo pelos tribunais desportivos.

De mais a mais, o senso comum está contra as pretensões do dirigente. Afinal, o Botafogo entregou os pontos nas últimas 10 rodadas, sendo ou não operado pelos árbitros. Até o botafoguense mais passional reconhece que o time teve todas as chances de chegar ao título, mesmo contra a máfia do apito.

Precisará tomar cuidado para que seus protestos não se transformem em retaliações futuras ao próprio Botafogo.

Rodada final de um Brasileiro marcado pela inconstância

O Palmeiras, campeão nacional antecipado, entra em campo hoje por mera formalidade. Vai levantar a taça pela 12ª vez no estádio Mineirão, depois do jogo com o Cruzeiro. Pode até perder que não corre risco de ficar sem o título. Fez por onde. Soube reagir ao momento de baixa na competição e esperou a queda do Botafogo para assumir o protagonismo.

Liderou por apenas quatro rodadas, mas foi o suficiente para assegurar a conquista. Quase nada tem a ver com a derrocada inexplicável do então líder, que dominou o campeonato por 30 rodadas.

Saber vencer é uma atribuição natural e óbvia dos times campeões. Como ninguém foi mais persistente na luta por este título do que o Palmeiras, é justo que toda a glória seja concedida a ele.