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Gerson Nogueira analisa Ancelotti na seleção

Fotos: Joilson Marconne/CBF
Fotos: Joilson Marconne/CBF

As mudanças necessárias

Boa parte dos comentários sobre a contratação de Carlo Ancelotti para treinar a Seleção Brasileira está encharcada daquele sentimento nacionalista que talvez só envolva de verdade o futebol em nosso país. Muita gente se mostra contrariada porque o Brasil pela primeira vez está importando um estrangeiro para cuidar do escrete e, ofensa das ofensas, o contratado só se apresentará daqui a um ano.

A prioridade da presidência da CBF sempre foi Ancelotti, embora até hoje não haja confirmação por parte dele quanto à aceitação do cargo. Técnico vitorioso, um dos mais brilhantes de sua geração, o italiano guarda aquelas reservas que todo treinador europeu bem sucedido tem em relação a dirigir seleções. Preferem sempre os clubes. Consideram a Liga dos Campeões mais importante que a própria Copa do Mundo.

No Real Madrid, Ancelotti venceu praticamente tudo, é unanimidade junto à torcida. Já havia firmado uma trajetória vitoriosa na Itália e na Inglaterra, não tem nada a provar. Por isso, o desafio de comandar a seleção mais icônica do planeta talvez esteja sensibilizando Ancelotti. O empecilho para vir de imediato é o contrato com o Real.

Os idiotas da objetividade sempre arranjam um jeito de torpedear ideias que fogem ao convencional. É óbvio que o melhor cenário seria a presença de Ancelotti a partir de agora na Seleção, mas esperar por ele não é algo tão absurdo assim. Ainda mais se levarmos em conta os estrupícios que a CBF já escolheu para comandar o escrete em outras oportunidades.

Sebastião Lazaroni e Dunga são os exemplos mais fortes do descalabro. Deu no que deu. Ambos se deram mal comandando o escrete. O próprio Tite, endeusado até hoje por parcela expressiva da mídia esportiva de São Paulo, ocupou o cargo por seis anos, sem conseguir passar das quartas de final das duas Copas que disputou, em 2018 e 2022.

Ancelotti pode dar ao time brasileiro um sentido de organização que há muito faz falta. É possível que ele rompa também com o círculo vicioso que marcou a era Tite, com a convocação teimosa das mesmas figuras (Fred, Danilo, Paquetá e outras bombas) que tornaram a seleção tão previsível e enfadonha.

Ontem, aliás, o Brasil levou um acachapante sacode de 4 a 2 do Senegal de Sadio Mané. A primeira derrota por goleada em nove anos – a última foi o 7 a 1 para a Alemanha, em 2014. É provável que Ancelotti tenha acompanhado a partida, atento a dois de seus comandados no Real, Éder Militão e Vini Jr. Ambos discretos demais para o nível de futebol que têm.

É mais do que evidente que a Seleção vai precisar de um comando firme, que não caia nas esparrelas da horda de técnicos brasileiros, todos reféns de interesses outros e pouquíssima coragem para inovar. Ancelotti pode ser o sujeito certo para mexer nesse ninho de marimbondo, cortando as conexões que fazem do escrete fonte de renda para muita gente que não dá um chute.

 

De olho no G8, Leão quer lotar o Mangueirão

A decisão de baratear o preço dos ingressos (R$ 20,00 até amanhã) para o jogo contra o Figueirense, no próximo sábado, foi uma das melhores sacadas da diretoria remista nesta Série C. Depois das trapalhadas na final do Parazão, com idas e vindas quanto ao local e finalmente a opção pelo Baenão, o Remo cravou um golaço ao transferir o jogo para o estádio Mangueirão, explorando o bom momento da equipe no Brasileiro.

Com um público que deve ser superior a 35 mil pagantes, há o óbvio ganho financeiro e o clima de festa que pode turbinar a atuação do Leão, que busca se aproximar do G8 da competição. Jogos assim costumam ter um efeito particularmente positivo no rendimento dos atletas. Foi assim, por exemplo, na vitória grandiosa do Remo sobre o Corinthians pela Copa do Brasil.

Depois das decepções que o time de Marcelo Cabo proporcionou à torcida nas primeiras rodadas da Série C, talvez tenha chegado o momento de um reencontro apaziguador entre o time de Ricardo Catalá e o Fenômeno Azul.

 

Lula e a reparação histórica pela perda da Copa 2014

Na cerimônia de anúncio oficial da COP 30, sábado, em Belém, o presidente Lula reservou um tempinho para observar que o Pará merece uma reparação pelo ocorrido na escolha das sedes da Copa do Mundo de 2014. Por decisão de Ricardo Teixeira e Joseph Blatter, Manaus superou a capital paraense, contrariando a lógica natural das coisas.

Em sã consciência, nem mesmo o manauara mais empedernido entenderia como normal a indicação de Manaus para sediar jogos da Copa, mas o fato é que a capital baré foi a escolhida, para frustração eterna da vibrante torcida paraense, uma das mais apaixonadas do país.

Pois Lula, que era presidente da República à época, e defendeu a candidatura de Belém, teve a sensibilidade de reconhecer publicamente a injustiça da decisão da Fifa. Aliás, a entidade que comanda o futebol estava prestes a ser sacudida por um escândalo de grandes proporções, que culminaria na prisão de vários chefões (José Maria Marin entre eles), no afastamento de Blatter e no exílio forçado de Teixeira e sua turma.

Arrematou com a afirmação de que a escolha de Belém para sediar a Conferência do Clima em 2025 é uma forma de corrigir a injustiça. Lula falou bonito e deixou claro que, como os paraenses, ele também não engoliu as tramoias de Teixeira, Havelange e Blatter.