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Gerson Nogueira analisa a final da Libertadores: 'Duelo de contrastes no Maracanã

Gerson Nogueira analisa a final da Libertadores: 'Duelo de contrastes no Maracanã

Duelo de contrastes no Maracanã

A barulheira da torcida boquense já se faz ouvir por todos os cantos do Rio de Janeiro. Eles são assim mesmo, ruidosos. Invadem qualquer lugar do mundo para cantar, berrar e provocar os adversários. O perigo real, no caso da torcida do Boca Juniors, é a temida facção La 12, conhecida pelos métodos violentos e sanguinários.

Tudo isso terá que ser devidamente superado pelo Fluminense, de Paulo Henrique Ganso, amanhã, no estádio do Maracanã. Time por time, a equipe brasileira mostrou ser superior ao Boca. Fez partidas memoráveis na competição deste ano, incluindo a histórica goleada sobre o River Plate.

O estilo de jogo envolvente, com construção de tramas ofensivas a partir de triangulações que começam lá atrás, o Fluminense pratica um futebol vistoso, essencialmente técnico e mortal quando consegue abrir brechas nas defesas inimigas. E tem um goleador inspirado, o argentino Germán Cano.

De toda sorte, o mundo vai acompanhar uma final marcada pelos contrastes. O Fluminense entra com a técnica, o Boca vai com a costumeira raça. Uma batalha entre ofensividade e marcação.

Ocorre que, em termos de Libertadores, o Boca tem história e tradição. Conquistou seis vezes o troféu continental e, das seis conquistas, três foram dentro do Brasil. Em 2000, derrotaram o Palmeiras. Em 2003, a vítima foi o Santos, e em 2007 o triunfo foi sobre o Grêmio.

Desacreditado pela própria torcida, o Boca Juniors virou finalista da Libertadores muito mais pela força da pesada camisa do que propriamente pelo futebol apresentado. Passou pelas etapas de mata-mata sem vencer nenhum jogo nos 90 minutos – empatou com Nacional (Uruguai), Racing (Argentina) e Palmeiras. Pode, por essa razão, entrar para a história como o “pior campeão” do torneio.

Dos seis confrontos eliminatórios, só duas vezes o Boca marcou gols – no total, foram 12 gols em 12 jogos, com aproveitamento é de 52,8%. Somente a LDU conseguiu ser pior, na Libertadores 2008, com aproveitamento de 47,6%.

Palmeiras vê nascer um candidato a protagonista

Na virada mais espetacular do Brasileiro deste ano, o Palmeiras derrotou o líder Botafogo dentro do estádio Nilton Santos por 4 a 3 com requintes de raça, arrojo e talento. E o garoto (ainda podemos chamar assim) Endrick foi o grande artífice da reação, responsável pelas jogadas mais criativas e executor dos lances que reanimaram o time de Abel Ferreira.

O primeiro gol palmeirense, no início do 2º tempo, levou a assinatura luxuosa do atacante. Apanhou a bola na entrada da área e saiu fintando os marcadores até bater para as redes na saída do goleiro.

Posicionado entre o meio e o ataque, caindo mais pelo lado direito, Endrick exibiu uma maturidade técnica que até então não havia aparecido. Em vários outros jogos, até em seus melhores momentos, parecia um jogador à espera de maior solidez na condução e apuro nas finalizações.

Diante do Botafogo, ele foi quase perfeito. As principais investidas do Palmeiras partiram de seus pés. E é preciso ressaltar que o atacante tomou a iniciativa num momento crucial da partida, quando a vantagem era toda botafoguense, que venceu o primeiro tempo por 3 a 0.

Independentemente do erro da arbitragem na expulsão do zagueiro Adryelson, que deixou o Palmeiras mais à vontade nas manobras ofensivas, Endrick foi o grande protagonista da noite. Teve participação direta em dois gols e deu a assistência para o terceiro, quando o ataque palmeirense fez uma linha de passe dentro da área do Fogão.

Foi uma lição de bom futebol. Para os detratores de Endrick, incluindo os patrulheiros da imprensa espanhola que viviam criticando o investimento do Real Madrid, é fundamental que revejam seus conceitos. Ele também respondeu às dúvidas do próprio técnico Abel Ferreira, que hesitou muito antes de apostar em seu potencial para o time.

Não por acaso, na justificada comemoração palmeirense ao final do jogo no Niltão, Endrick era o mais festejado e abraçado pelos companheiros.

Peso dos petrodólares: Ásia vai sediar outra Copa em 2034

Surpreendeu a quase ninguém o anúncio feito por Gianni Infantino na quarta-feira informando que a Copa do Mundo de 2034 será na Arábia Saudita. Depois do que se viu na definição da escolha do Qatar para a Copa de 2022, turbinado por uma montanha de petrodólares em articulação de bastidores na Fifa, denunciada em documentário arrasador (que pode ser visto no streaming), nada mais é capaz de causar espanto.

O dado mais risível do ato em que o presidente da Fifa disse solenemente que os sauditas ganharam o direito de sediar o Mundial foi o momento em que ele saudou o evento esportivo como “futebol verdadeiramente global”.

Lembrou até as históricas bazófias de João Havelange e sua quadrilha, que viviam destacando a universalização do futebol, quando em verdade só comemoravam a possibilidade de faturar mais e mais dinheiro usando os países do Terceiro Mundo.

Infantino alardeou ainda que, nas próximas três Copas, dez países diferentes de cinco continentes serão sedes, como se isso fosse lá grande coisa. Lembrando que em 2026 o Mundial será organizado por Estados Unidos, México e Canadá.

Em 2030, a Copa também terá modelo tripartite: Marrocos (África) e Portugal e Espanha (Europa). Com direito a três jogos na América do Sul para engabelar Argentina, Paraguai e Uruguai. Aí, em 2034, será a vez da Arábia Saudita (Ásia).

Na escolha dos sauditas para 2034, a Fifa se superou na capacidade de convencimento. A Arábia Saudita candidatou-se e a Austrália também demonstrou interesse, mas decidiu repentinamente sair de cena. É possível que, daqui a algum tempo, um novo documentário possa esmiuçar as entranhas desse misterioso “acordo de cavalheiros”.

Outro aspecto que merece reflexões mais astutas é a pulverização de países e jogos na Copa do Mundo, transformada numa espécie de torneio coração de mãe, onde sempre cabe mais um. A partir da próxima Copa, em 2026, o torneio terá 48 seleções, divididas em 12 chaves de quatro cada.