Nildo Lima
“Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.” O verso da canção “Para não dizer que não falei das flores”, do compositor Geraldo Vandré, se encaixa de forma perfeita à situação vivenciada pelo goleiro Gabriel Bernard, 22 anos. Após amargar a condição de terceiro jogador da posição no elenco do Paysandu, sendo banco de Victor Souza e Thiago Coelho, Bernard, que começou no sub-17 do Flamengo, do Rio de Janeiro, sua cidade de origem, vem sabendo aproveitar a brecha dada por Coelho, que, depois da goleada (5 a 0) sofrida pelo Papão diante do Ypiranga-RS, teve de se submeter a uma cirurgia, para firmar seu nome diante da Fiel. Desde sua estreia no gol bicolor, em 2022, Bernard já disputou onze partidas por três competições: Parazão, Copa Verde e Brasileiro. Em todas elas teve a aprovação dos torcedores, o que o credencia a permanecer na equipe, apesar da volta de Coelho aos treinamentos. Mas esta é uma decisão que cabe ao treinador Marquinhos Santos. Neste breve bate-papo, Bernard fala, entre outros assuntos, do começo da carreira, do momento que vive e, claro, do que espera do futuro na Curuzu. Ele fala sobre o apoio recebido dos familiares e recorda um caso pitoresco na convivência com o pai-treinador.
P – Como foi o começo de sua carreira no Flamengo?
R – Foi uma experiência incrível para mim. Defender um dos maiores clubes do futebol brasileiro me permitiu trabalhar com grandes profissionais, tanto em se tratando de comissão técnica como dos próprios atletas. Jogadores que hoje estão no futebol da Europa, defendendo até mesmo a nossa Seleção Brasileira. Então, foi algo enriquecedor para a minha carreira. Passei três anos por lá e esse tempo foi bastante positivo para a minha carreira profissional e também como ser humano. Mesmo na base do Flamengo fui tratado, assim como os demais jogadores, como a mesma seriedade dedicada aos profissionais do clube. Foi uma coisa muito positiva para a minha carreira profissional.
P – Sendo o terceiro goleiro do Paysandu, você chegou a pensar em desistir e partir para outro clube?
R – É claro que em alguns momentos, passando por esse tipo de situação, a gente se pega um pouco desanimado, triste. A paixão de qualquer jogador é estar jogando e quando isso não acontece é claro que aparece essa dose de insatisfação. Mesmo assim sempre fui grato todos os dias por estar no Paysandu. Mas nunca deixei de trabalhar para ter a oportunidade de jogar, sabendo que este é o processo natural do futebol. Existiam goleiros mais experientes na minha frente e que eu tinha de esperar minha vez, sempre trabalhando para estar pronto quando a minha vez chegasse e eu pudesse me firmar.
P – No começo da carreira você contou com o incentivo familiar e elegeu algum goleiro para se inspirar?
R – Não só no início da carreira, mas até hoje recebo o apoio e o incentivo de meus familiares. O meu pai, Bernard, foi meu primeiro treinador. Aprendi e continuo aprendendo muito com ele, que é o meu conselheiro nas questões profissionais principalmente. Mas mesmo em se tratando de ser meu pai, nunca as coisas foram fáceis. Quando ele era meu treinador no Madureira-RJ, ele chegou a me mandar embora do clube. Já a minha mãe, a Cintia, sempre moveu montanhas para me levar, com 9, 10 anos, para os treinamentos junto com um monte de outras crianças. Era uma correria louca, mas que valeu a pena. Com relação ao profissional no qual procurei me espelhar este goleiro foi o Júlio César (ex-goleiro do Flamengo-RJ e da Seleção Brasileira). Cheguei a vê-lo de perto num jogo do Atlético, quando estava no clube goiano. Foi uma realização para mim.
P – Dizem que o goleiro, bem mais que os jogadores de outras posições, precisa estar sempre em atividade. Você sente uma evolução em suas atuações?
R – O goleiro depende muito de ritmo de jogo. Os demais jogadores estão sempre entrando nos jogos, ainda que por menos de 90 minutos. Com os goleiros as mudanças não são tão frequentes e o jogo é bem diferente dos treinos. Agora tendo uma sequência de jogos, com toda a certeza, tenho sentido uma grande diferença. As decisões de minha parte ficam mais fáceis de serem tomadas.
P – Antes de sua chegada à Curuzu, você teve passagem pela base e pelo profissional do Atlético, o que houve para não se firmar no time goiano?
R – Fiquei quase quatro anos no Atlético. Tive a oportunidade de jogar a Copa Verde, ficando um bom período como o segundo goleiro do time na Série A do Brasileiro. Mas, quando se sobe da base de um clube é um pouco mais complicado, ainda mais sendo goleiro. Normalmente para o jogador da posição é difícil ser visto como um atleta preparado. É uma cultura que não é apenas do Atlético, mas da maioria dos clubes aqui no Brasil. Acredito que tenha sido muito por isso. Mas esse período que passei lá tem me ajudado muito na minha evolução e me deixou preparado para tudo o que está ocorrendo na minha carreira neste momento.