Bola

Entrevista: Esli Garcia corresponde à expectativa da Fiel e sonha alto na carreira

Nildo Lima

O baixinho Esli Garcia, de 23 anos e apenas 1,65m, se transformou, em pouco tempo, em um gigante jogando pelo Paysandu. O venezuelano, nascido na cidade de Araure, chegou à Curuzu como um pequeno desconhecido para grande parte da Fiel. Mas, bastaram os primeiros jogos com a camisa do clube para que ele caísse nas graças do torcedor bicolor. Não tardou para que surgisse o clamor das arquibancadas para que o apoiador tivesse a titularidade na equipe, condição que ostenta hoje com o rótulo de “imexível”.

A entrega em campo e, sobretudo, os gols com assinatura própria, acabaram fazendo com que “El Niño” Garcia, vindo do Deportivo Táchira, da Venezuela, se transformasse em peça imprescindível no time do Paysandu. E foi graças aos tentos assinalados pelo jogador que o Papão passou a respirar mais aliviado na Série B do Brasileiro, após a vitória, em casa, por 2 a 0, sobre o América-MG, com um dos gols marcados pelo estrangeiro. Antes, ele já havia dado a sua colaboração ao time, marcando um belo gol, assim como os demais, na decisão da Copa Verde, contra o Vila Nova-GO.

Parecendo ter o “mapa do caminho do gol” nos pés, Garcia é hoje o principal artilheiro do Papão na Série B, com quatro tentos, ofuscando, de certa maneira, o ídolo da Fiel, Nicolas. O venezuelano aparecia até o final da 8ª rodada com um dos quatro vice-artilheiros do campeonato. Um privilégio nada desprezível, em se tratando de uma competição que tem a participação de goleadores natos e com rodagem bem superior a do atacante bicolor, cujos primeiros chutes na bola foram dados em casa e nas “pachangas”, como se chama pelada em espanhol, com outros “niños”.

Os primeiros passos de Garcia no futebol profissional foram dados na Portuguesa de sua cidade natal, na qual ele fez a sua base até ser guindado ao elenco profissional, em 2017. Incluídas as divisões inferiores e a profissional do clube, foram quase três temporadas – de 2016 a 2018, ano em que foi contratado pelo Táchira, que ele defendeu por três temporadas e meia: 2018/19/21/23, intercaladas por uma saída para o Santiago Wanderers, do Chile, em 2020.

Em seu país, Garcia ainda defendeu o UCV. O atacante teve a chance de disputar a Taça Libertadores em seu último ano no Táchira, mas preferiu abrir mão da competição intercontinental para vir jogar no Paysandu. Melhor para a Fiel, que ganhou, de mão beijada, uma joia rara. Pelo menos até aqui.

No bate-papo a seguir, o atacante venezuelano Esli Garcia, aborda, entre outros temas, o desejo de defender a seleção de seu país, assim como assegura que a vinda para o Paysandu concretizou um sonho que tinha desde o início de sua carreira, o de jogar no futebol brasileiro. De contrato renovado com o Papão até o final da Série B do Brasileiro, o jogador revela o motivo de não ter tido o mesmo sucesso em sua 1ª saída da Venezuela para atuar em outro país, no caso, o Chile, onde ele defendeu o Santiago Wanderers, em 2020. Garcia informa que na sua cidade de origem, assim como ocorre com os simpatizantes do Papão, tem muita gente torcendo pelo sucesso dele, a começar pelos familiares e os amigos, que, segundo o atacante, já formam uma torcida internacional do clube alviceleste. E ele ainda comenta as possibilidades de o Paysandu chegar à Série A de 2025.

P – Você já atuou no futebol do Chile e não teve o mesmo sucesso que vem tendo aqui, o que houve?

R – Na verdade, aqui eu estou vivendo o melhor momento da minha carreira. Acredito que vivi bons momentos nos outros clubes, mas aqui tem sido tudo diferente. Me adaptei rápido, me sinto muito bem, à vontade, e as coisas têm dado certo.

P – Há muita diferença entre o futebol chileno e o futebol brasileiro?

R – A competitividade aqui é maior. É um futebol mais técnico, mais nivelado também. O futebol brasileiro é diferente por ser uma referência no mundo inteiro.

P – O que lhe levou a tomar a decisão de não disputar a Libertadores pelo Deportivo Táchira e preferir vir para o Paysandu?

R – Sempre sonhei em jogar no futebol brasileiro e, quando apareceu a oportunidade, quando vi o projeto, decidi aceitar e foi uma decisão muito acertada. Estou muito feliz no Paysandu.

P – Você tem pretensões de um dia jogar pela seleção de seu país?

R – Esse eu acredito que seja o grande sonho da maioria dos atletas, defender a sua seleção, as cores do seu país, e comigo não é diferente. Trabalho bastante para um dia, quem sabe, alcançar esse sonho.

P – Lá na Venezuela a sua família acompanha as suas atuações pelo Paysandu?

R – Sim, acompanham sempre. Depois dos jogos, recebo muitas mensagens de familiares e amigos. Estão todos felizes com tudo que tenho vivido aqui. Afinal, foram dois títulos em pouco tempo, algo que é raro, então estão todos felizes porque estou honrando também a bandeira da Venezuela. Hoje podemos dizer que também tem venezuelanos que torcem pelo Paysandu.

P – Dentro de sua família, quem mais o incentivou a seguir a carreira no futebol?

R – Meus pais sempre me apoiaram. Não foi um começo fácil, enfrentei muitas dificuldades, mas com o apoio de casa, consegui vencer. E hoje quem mais me acompanha é a minha noiva. Ela veio comigo da Venezuela em busca desse sonho.

P – Como você encarou o torcedor do Paysandu pedindo a sua entrada no time titular?

R – É normal. Fico feliz com o carinho do torcedor, mas sempre deixei claro que a decisão cabe ao professor Hélio, que tem me ajudado muito desde a minha chegada ao clube tanto dentro, como fora de campo. A titularidade é uma consequência do trabalho, das sessões de treinamento e das atuações nos jogos, mas temos outros jogadores de muita qualidade na mesma posição, então quem jogar, sem dúvida, vai procurar fazer o seu melhor pelo time.

P – Você sonha com a artilharia da Série B?

R – Por que não? Mas esse não é o meu principal objetivo. Quero alcançar primeiro as nossas metas coletivas. Depois disso, o que vier, vai ser lucro. Se a equipe estiver bem, consequentemente eu também vou estar.

P – Dos gols que você marcou até aqui pelo Paysandu, qual aquele que você elege como o mais bonito?

R – O primeiro em casa pela Série B, contra o Botafogo-PB. Notei o goleiro um pouco adiantado e decidi arriscar. Os outros também foram bonitos (risos), mas aquele foi especial para mim pela forma como saiu.

P – Dá para a torcida acreditar na chegada do time à Primeira Divisão em 2025?

R – Vamos trabalhar passo a passo. Nesses oito jogos já deu para ver a qualidade do nosso time. Temos um padrão de jogo muito bem definido pelo nosso professor. Gostamos de atacar bastante, sempre jogamos para vencer e com muita intensidade, então vamos seguir assim. O caminho é muito longo, mas eu tenho certeza que temos condições de alcançar grandes objetivos no clube.