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COLUNA DO PVC: Copa do Mundo terá craques no ápice da forma física (18/11)

Foto: Équipe de France de Football
Foto: Équipe de France de Football

A Copa vai ser diferente e não por acontecer em novembro, em vez de junho, nem por ser a segunda na Ásia e a primeira no Oriente Médio. Não se distinguirá pela dificuldade de consumir álcool ou pela facilidade para assistir a mais de um jogo por dia.

Vai ser melhor porque os craques estarão no ápice da forma física.

Parece contraditório dizer isso numa semana em que Senegal perdeu Mané, a França lamenta quatro desfalques por lesão, a Inglaterra não tem seus laterais Chilwell e Reece James e o técnico argentino, Lionel Scaloni, afirma que alguns de seus jogadores não estão bem.

Lesão acontece. É do esporte.

Mas os principais jogadores do mundo estrearão na Copa na curva ascendente da temporada. Cristiano Ronaldo disputou 18 jogos desde agosto, De Bruyne entrou em campo 19 vezes, e Neymar, 20.

Maradona disputou 29 jogos pelo Napoli antes de se tornar o maior protagonista de uma Copa do Mundo moderna, conduzindo a Argentina ao título mundial, no México, em 1986. Dezesseis temporadas depois, Zidane decidiu a Liga dos Campeões para o Real Madrid com um espetacular voleio, em sua atuação número 47. Era 15 de maio de 2002.

Duas semanas mais tarde, 31 de maio, a França perdeu do Senegal. Zidane não jogou, com lesão muscular na coxa. Sem seu craque em 2 dos 3 compromissos da primeira fase, a França despediu-se, eliminada por senegaleses e uruguaios.

Não é acaso que os melhores jogadores do mundo não tenham brilhado em Copas durante seus reinados. Figo e Zidane fracassaram em 2002, Ronaldinho foi discreto em 2006, Messi e Cristiano Ronaldo não se destacaram nos três últimos Mundiais.

A Liga dos Campeões recebia só campeões nacionais até 1997 e havia limite de três estrangeiros. O desgaste aumentou pelo aumento do número de partidas e pelo estresse emocional. Se o Qatar recebesse as seleções em julho, Mbappé estrearia na Copa depois de disputar 44 jogos pelo Paris Saint-Germain.

Como estreia na terça-feira (22), Mbappé carregará apenas 20 partidas nas costas.

Jogar em novembro é a grande novidade da Copa e isso irrita treinadores relevantes dos times que disputam a Champions: “Se fosse em julho, estaria 50 graus e, mesmo hoje, as temperaturas serão altíssimas”, afirmou Jurgen Klopp, do Liverpool.

A Copa tem trazido também mudanças na distribuição de forças. Essas são mais lentas, não menos visíveis. Dos 5 Mundiais do século, 4 foram vencidos por europeus, o que jamais havia acontecido em sequência.

O argentino Jorge Sampaoli já disse publicamente que só o Brasil pode quebrar essa hegemonia, mas as seleções médias são cada vez mais capazes de produzir surpresas.

Como a Coreia do Sul vencer e eliminar a Alemanha, há quatro anos, ou a Nova Zelândia empatar com a Itália e desclassificar a então campeã na fase de grupos, em 2010.

Se a lista de maiores craques do planeta tem o polonês Lewandowski, o egípcio Salah e o senegalês Mané, se o lateral do Paris Saint-Germain é o marroquino Hakimi e o artilheiro do Bayern é o camaronês Choupo-Moting, natural que técnica e tática tenham se espalhado pelos cinco continentes.

É por isso que esta Copa não tem favoritos, mas candidatos ao título: Alemanha, Argentina, Brasil, Bélgica, Espanha, França, Holanda e Inglaterra. Todas essas podem levantar a taça.

 

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Paulo Vinícius Coelho é jornalista e autor de “Escola Brasileira de Futebol”. Cobriu seis Copas e oito finais de Champions.

Foto: Fernanda Frazao/Folhapress, ESPORTES