Que ninguém se iluda quanto às propaladas inovações vistas no futebol atual. Quase todas as mudanças implementadas na maneira de jogar são variações em torno de ideias criadas lá atrás. A marcação alta, com pressão na saída de bola do adversário, tão celebrada pelos distraídos de plantão, nada mais é do que a prima pobre do sistema de “futebol total” lançado por Rinus Michels com a seleção holandesa na Copa do Mundo de 1974.
O emprego de um falso centroavante, na figura de um atacante que entra na área e também sai para facilitar as tabelas e inversões, vem de uma Copa anterior, talvez a maior de todas, disputada em 1970 no México. E é uma invenção brasileira. Sem coragem para lançar Dario como o camisa 9 titular e sem confiar nas condições físicas de Roberto Miranda, Zagallo deu a missão a Tostão, cujo físico nunca foi propício para comandar o ataque.
É claro que o jogo mudou muito, a partir da evolução fisiológica e da ciência do esporte. Há mais entrega e desgaste, correria e esgotamento. Em função disso, algumas coisas tendem a ser modificadas. Vem daí a necessidade de goleiros atuando como os antigos líberos, cuidando da cobertura e liberando zagueiros para se posicionarem mais à frente.
No ataque, porém, quase nada mudou. Os extremas, por exemplo, continuam a ser responsáveis pelas chegadas mais agudas e eficientes contra sistemas de defesa muito fechados. É uma questão de tempo e espaço. Pelas pontas, o caminho é facilitado porque jogadores habilidosos podem jogar no espaço mínimo necessário para driblar e disparar em direção à área adversária.
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A marcação é dificultada porque os pontas são lançados entre linhas e forçam marcação dobrada, o que abre caminho para os demais atacantes. Há ainda a vantagem de correr em direção à linha de fundo, como os mais tradicionais ainda fazem, ou cortar na diagonal (em facão, como gostam de dizer os boleiros) para pegar a última linha desprevenida.
O fato indesmentível é que o caminho das índias pode ser encurtado com bons jogadores de lado. O PSC, por exemplo, cresce de rendimento ofensivo quando consegue explorar bem os avanços de Robinho na direita do ataque. Rápido e driblador, ele consegue abrir clareiras e ajudar os companheiros de frente. Foi mais participativo nos primeiros jogos da Série C e caiu de rendimento, como todo o time, nos últimos jogos.
Apesar desse momento pouco inspirado, é um atacante de imensa utilidade dentro de um elenco limitado por jogadores de área e poucas alternativas de ponteiros. Contra o ABC era a melhor figura do ataque até se lesionar e ser substituído no intervalo.
Sua presença no jogo de sábado, em Florianópolis, contra o Figueirense, ainda é incerta, mas o técnico Márcio Fernandes sabe que o jogo vai exigir a participação de um jogador veloz, que puxe os contra-ataques. Se Robinho for vetado, as opções que restam são Marcelinho e Dioguinho, que possuem características passadas.
Caso não utilize extremas, Márcio estará abrindo mão de um importante trunfo para equipes visitantes. Desde que o mundo é mundo, os corredores laterais são o caminho mais propício para chegar ao gol.
Copa Verde: dúvidas em torno de clubes do Centro-Oeste
Saiu ontem a tabela da Copa Verde e os clubes do Pará já sabem como será a etapa inicial do torneio. Na perna nortista, a renovada Tuna, treinada por Josué Teixeira, terá como primeiro adversário o Rio Branco-AC. Já o PSC terá na primeira fase Humaitá ou Náutico-RR.
A outra banda da competição projeta duelos menos desnivelados. O Goiás encara o Real Noroeste-ES, Luverdense pega o Brasiliense, Cuiabá enfrenta o Costa Rica-MS e o Vila Nova-GO terá o Operário-MT como adversário.
Por ora, a dúvida é quanto ao real interesse de clubes como Goiás, Cuiabá e Vila Nova. Não há confirmação de que entram na disputa com os times titulares. Em edições recentes, só o Vila Nova usou a força máxima.
SAF tem potencial para transformar o futebol brasileiro
Com 840 clubes federados, o Brasil convive com uma realidade de aperreio e ausência de perspectivas para a imensa maioria das agremiações profissionais. Diante disso, a aprovação da lei da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) representou a possibilidade de recuperação dos clubes, que podem criar novas receitas, reter talentos e ganhar competições para atrair público, mídia e patrocínios.
Um dos aspectos mais divulgados da lei da SAF é a permissão para que os clubes recebam investimentos, o que não era possível como associação. Nesse sentido, a SAF não confronta o modelo vigente, mas é uma alternativa para a criação de novas fontes de receita para o clube melhorar a performance em vários aspectos, podendo criar um ciclo de investimentos.
Quando adere à SAF, o clube pode reescalonar dívidas anteriores à adesão dentro de um planejamento mais adequado. De imediato, abre a perspectiva de atrair novos recursos, de equacionar o saneamento de dívidas, de implantar governança, compliance e responsabilidade financeira. Acima de tudo, a SAF é a chance de uma mudança de hábitos dentro dos clubes, se for realmente bem implementada.
Apesar do que se viu com os primeiros clubes que viraram SAF no país, Cruzeiro, Botafogo e Vasco, em situação financeira crítica, a modalidade não serve apenas para salvar clubes em dificuldades. Atlético-PR, América-MG e Ceará começam a trabalhar com a ideia, a fim de subir de nível e buscar a conquista de títulos nacionais e internacionais.
É lógico que, como toda experiência nova, há muito ainda a avaliar, testar e observar nos modelos praticados no Brasil, a fim de evitar decepções e fiascos, como se registrou no futebol europeu. As regras básicas de responsabilidade financeira continuam valendo, com ou sem SAF.