PROTOCOLOS DE SAÚDE

Choques de cabeça no esporte: entenda os riscos e cuidados

O neurocirurgião Amilton Araújo analisa a situação ocorrida no último Re-Pa entre Jaderson e Novillo, que bateram cabeça com cabeça.

O neurocirurgião Amilton Araújo atua no suporte aos atletas do Remo no NASP - Foto: Divulgação
O neurocirurgião Amilton Araújo atua no suporte aos atletas do Remo no NASP - Foto: Divulgação

A cena assustou. Na última quarta-feira (7), o clássico Re-Pa, válido pela partida de ida da final do Campeonato Paraense, trouxe à tona um tema cada vez mais discutido no esporte de alto rendimento: os cuidados diante de traumas cranianos. Um choque acidental de cabeça entre o meia Jaderson, do Clube do Remo, e o zagueiro Joaquín Novillo, do Paysandu, levou os dois atletas a deixarem o campo e receberem atendimento médico imediato, evidenciando a importância dos protocolos e da estrutura de saúde em eventos esportivos de grande porte.

Segundo nota do NASP (Núcleo Azulino de Saúde e Performance), os médicos diagnosticaram o meia Jaderson com contusão cerebral e hematoma subdural, submeteram-no a tratamento conservador e o mantêm sob observação rigorosa. Já o Paysandu informou que a equipe médica atendeu Novillo ainda consciente e orientado, diagnosticando traumatismo cranioencefálico leve, sem lesão neurológica grave. A equipe aplicou rapidamente o protocolo, utilizou a estrutura médica do estádio e realizou a remoção imediata. Isto foi crucial para garantir um desfecho controlado em situações de risco potencial.

Observação contínua

O neurocirurgião Amilton Araújo, que atua no suporte aos atletas do NASP, explica que os traumatismos cranianos se dividem em três níveis: leve, moderado e grave. O caso de Jaderson se enquadra na categoria moderada, em que há perda de consciência por mais de alguns minutos, risco de sangramentos intracranianos e necessidade de monitoramento intensivo. “Mesmo atletas de alto rendimento, acostumados a impactos, não estão imunes. O tipo de trauma, a intensidade da pancada e a resposta imediata do corpo determinam a gravidade do quadro”, afirma o médico. “A observação contínua visa evitar que um quadro inicialmente moderado evolua para algo mais grave, exigindo, por exemplo, cirurgia para drenagem de hematoma”, completa.

A agilidade no atendimento durante o clássico evidenciou a importância dos protocolos específicos em competições de alto nível. O uso das diretrizes do ATLS (Advanced Trauma Life Support), com imobilização cervical, verificação de vias aéreas e remoção segura até a ambulância UTI, garante que complicações secundárias sejam evitadas. “A estrutura hospitalar de retaguarda e o treinamento das equipes médicas de campo são elementos que salvam vidas”, destaca o dr. Amilton.

Todo cuidado é pouco em contusões na cabeça

Embora os choques de cabeça no futebol não sejam frequentes como em esportes como boxe, MMA ou rugby, todos envolvem risco. “Qualquer esporte de contato está sujeito a provocar traumatismo craniano”, lembra o neurocirurgião. A diferença, no entanto, está na repetição e intensidade dos impactos. Modalidades como boxe e MMA, por exemplo, apresentam risco maior de lesões cumulativas, como a encefalopatia traumática crônica, já amplamente estudada em lutadores. Mas o futebol não está isento.

“A saúde cerebral e até mental desses atletas pode, sim, ser afetada com o tempo. Por isso, é necessário acompanhamento ambulatorial, neuropsicológico e neurológico, mesmo após a recuperação clínica”, alerta Amilton. “No caso do atleta do Remo, ele sofreu perda de consciência, apresentava hematoma subdural e uma pequena fratura. Optamos por tratamento conservador, com medicações para evitar convulsões e inflamações, mas ele segue em observação intensiva”, detalha.

Por isso, o episódio serve como alerta e, ao mesmo tempo, como exemplo de ação eficiente. Afinal, o futebol moderno exige preparo físico e estruturas médicas preparadas para intervir com rapidez e precisão.