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Boas lembranças, outras nem tanto: a marca de Zagallo nos paraenses

Episódio entre o tetracampeão e Giovanni, na Copa do Mundo de 98, não foi agradável, mas ele também deixou boas lembranças em outros jogadores da terra Foto: Lucas Figueiredo/CBF
Episódio entre o tetracampeão e Giovanni, na Copa do Mundo de 98, não foi agradável, mas ele também deixou boas lembranças em outros jogadores da terra Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Tylon Maués

Falecido dia 5 de janeiro aos 92 anos, o multicampeão Mário Jorge Lobo Zagallo teve sucesso tanto como jogador, treinador e como coordenador de futebol. A longevidade como técnico faz com que a brilhante carreira como jogador, com dois títulos de Copa do Mundo e titular do mítico Botafogo dos anos 1950, faz com que o alagoano radicado carioca seja muito mais lembrado pelo trabalho à beira do gramado. Para alguns paraenses, essa atividade teve marcas indeléveis.

Convocado em 1998 para a Copa da França por Zagallo, numa surpresa para muitos já que mal vinha sendo chamado, o meia Giovanni vivia seu melhor momento na carreira. Foi titular na estreia contra a Escócia mas, escalado de uma forma diferente do que vinha fazendo com a camisa 10 do Barcelona, não esteve bem e foi sacado no intervalo para nunca mais entrar em campo. “Pensei (em deixar a seleção durante a Copa), no vestiário”, afirmou Giovanni, em entrevista à ESPN. “Cheguei no vestiário, tirei a chuteira e arremessei. O Zagallo veio perto de mim: ‘aqui quem manda sou eu’. O Roberto Carlos estava do meu lado: ‘se acalma, Giovanni. Pensa direito’. Eu respirei e falei: ‘se eu pedir para ir embora, os caras vão cair em cima de mim’. Mantive a calma, mas sabia que ali não jogaria mais”. A mágoa por parte do jogador nunca foi negada, mas com o tempo esse assunto parou de ser tocado por ele em face de uma carreira vitoriosa.

Paulo Merabet, o Roma, hoje presidente do Santa Rosa, já tem memórias mais agradáveis. Ele lembra de Zagallo como “paizão”, ajudando muito uma leva de garotos que estavam subindo da base do Flamengo-RJ, como o centroavante Reinaldo, o zagueiro Juan, o goleiro Júlio César e o próprio Roma. Os conselhos foram algo que ele traz consigo até hoje.

“Ele falava para a gente controlar o nosso dinheiro, não gastando tudo. Que tinha que guardar para o futuro, pois não dá para saber o que vai acontecer. Então, ele sempre nos dava uma orientação no sentido de a gente se preparar, se guardar como profissional, como homem, para que a gente não ficasse com dificuldades depois”.

Com sete convocações nos anos que precederam a Copa de 1994, Charles Guerreiro acabou não indo para a competição que garantiu o tetra ao país, mas esteve em um momento marcante no amistoso contra a Inglaterra, empate por 1 a 1, com Parreira de técnico e Zagallo como coordenador. O dia 17 maio 1992 marcou a despedida do antigo estádio de Wembley que foi parcialmente demolido para a construção de uma nova arena. Na ocasião, Guerreiro, que substituiu o lesionado Luís Carlos Winck, teve a oportunidade do desempate e perdeu uma chance de cara com o goleiro.

“Foi um jogo histórico, o último em Wembley antes da reforma. Hoje todo mundo lembra daquele gol que perdi quando estava 1 a 1. Ele (Zagallo) falou pra mim, me chamou assim no vestiário e falou, brincando ‘garoto, se você faz aquele gol, você nem voltava mais pro Brasil’”, lembra Guerreiro. “Ele era um treinador que chamava todo mundo para conversar. Motivava a todos os atletas do elenco, titular ou não. Ele procurava tratar todo mundo da mesma forma”.

As lembranças de um Zagallo brincalhão e comunicativo são constantes. “O que ele passava para a imprensa era totalmente diferente do dia a dia com ele. Era uma pessoa que gostava de ensinar os mais jovens. Ele me ajudou bastante. Isso foi um fator muito bacana pra mim, me deu uma abertura muito grande para jogar, me deixava bem à vontade pra que eu tivesse um bom desempenho”, lembra Roma. “Ele não tinha discriminação com ninguém. Eu estava numa fase muito boa no Flamengo-RJ e ele e o Parreira me chamaram para sete jogos. Era uma pessoa muito extrovertida, brincalhona. O Zagallo era aquele tipo de treinador que conversava mais. Como ele jogou bola, ele sabia lidar com o vestiário, de trazer os jogadores pro lado dele”, finaliza Guerreiro.