Jogos Paralímpicos de Paris 2024

Atletas Paralímpicos: Histórias transformadas pelo esporte

 Carlos Smith Foto: Mauro Ângelo
Carlos Smith Foto: Mauro Ângelo

Com oito representantes paraenses, a delegação brasileira se prepara para participar dos Jogos Paralímpicos de Paris 2024. A competição inicia no próximo dia 28 e segue até 08 de setembro, com boas chances de medalhas para o Brasil. Para os paratletas que vivenciam algumas das modalidades esportivas, fica a expectativa pelo início dos jogos e pela representatividade proporcionada pelo esporte.

Mais do que representatividade, o esporte possibilitou uma grande mudança de vida para o paratleta e estudante universitário Karlos Smith, de 25 anos. Quando ainda cursava o ensino básico, ele foi apresentado ao esporte, iniciando pelo goalball, mas foi no atletismo que ele se encontrou e segue até hoje, treinando no Campus de Educação Física do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade do Estado do Pará (CCBS/Uepa). “Eu comecei no atletismo com os meus 11 anos de idade. Para mim, o atletismo e o esporte, primeiro é uma situação de saúde e depois também é importante para a socialização mesmo”.

Karlos, que é uma pessoa cega, lembra que quando começou no esporte era muito quieto e o atletismo o ajudou a ser mais comunicativo, levando-o inclusive a optar pelo curso de comunicação social. “Quando eu comecei no esporte eu não falava muito, eu era muito fechado para mim mesmo. Depois que eu passei a vir para o esporte, eu conheci uma galera, outras realidades, pessoas de outros estados e daqui de Belém mesmo, e eu vi que eu era capaz, que a minha deficiência não me impedia de fazer nada”, lembra.

“O esporte foi uma tábua impulsionadora para que eu me soltasse mais e começasse a ser uma pessoa mais comunicativa. Isso também me ajudou muito na escolha do meu curso porque em comunicação você tem que saber falar, conversar, se expressar. Então, é uma mudança de vida, eu diria”.

O paratleta lembra que, da mesma escola da rede estadual onde ele iniciou no esporte, a Escola José Álvares de Azevedo, saíram paratletas que estarão competindo nos jogos paralímpicos de Paris, como é o caso do Josemarcio da Silva, atleta de Goalball que é conhecido como Parazinho.

“Com o esporte você também consegue alçar voos altos, muitos paratletas saíram daqui do Estado, como o Josemarcio. Ele começou no interior, veio para Belém, depois foi para São Paulo e agora está em Paris competindo nas paralipíadas. Então, é também uma mudança de vida se você quiser seguir no esporte mesmo”, considera Karlos, ao falar da expectativa para o início dos jogos, nesta semana. “Eu acompanhei as olimpíadas, mas as paralimpíadas é a nossa praia, é a nossa galera que está competindo, tem os esportes que a gente se identifica e, com certeza, a gente fica na expectativa”.

EXPECTATIVA

Quem também está na expectativa é o paratleta e estudante do ensino médio, Pedro Henrique Correa, de 17 anos. Para o atleta que tem baixa visão e compete na modalidade do atletismo, as paralimpíadas são uma oportunidade de dar mais visibilidade aos esportes adaptados.

“Para a gente é uma expectativa porque tem atletas nossos que estão representando o Pará”, considera. “Sendo atleta, eu digo que é uma coisa muito boa para a gente quebrar essa barreira, para que as pessoas acabem com aquele pensamento de que uma pessoa com deficiência não pode fazer isso ou aquilo. Uma competição fora do Brasil, que o mundo todo está vendo, serve justamente para mostrar que a gente pode, que a gente tem poder de participação”.

Pedro conta que o seu primeiro contato mais próximo com o esporte se deu através do goalball, modalidade que foi criada por pessoas cegas, mas ele acabou encontrando no atletismo o seu melhor desempenho e pretende seguir conciliando a rotina com os treinos.

“Eu comecei primeiro pelo goalball e depois passei para o atletismo. No meu primeiro ano de atletismo eu consegui quebrar um recorde de um atleta de São Paulo e ano passado eu consegui quebrar o meu próprio recorde. Eu tenho seis medalhas, quatro de ouro, uma de prata e uma de bronze. Então, eu quero fazer faculdade de jornalismo, mas quero seguir nessa área do esporte também”.

A rotina ligada ao esporte também é a realidade de outro grupo de atletas que praticam a modalidade do basquete sobre rodas. A história de Rildo Saldanha, 35 anos, com o tradicional time do All Star Rodas iniciou há 20 anos e, desde então, a sua vida segue ligada ao esporte.

“Eu iniciei no esporte em 2004, com 15 anos, e sempre digo que a minha vida se divide em antes e depois do esporte. Antes eu era dependente da família para ir para a escola, para ir para qualquer lugar eu tinha que ir com alguém me levando e o esporte me mostrou que eu poderia ser independente em mobilidade”.

Hoje, Rildo cursa faculdade de educação física e mantém a rotina de treinos diários. O objetivo é se preparar para as competições, mas ele lembra que o esporte lhe deu muito mais do que o bom desempenho dentro de quadra. “Hoje eu vou e volto de onde eu quiser, uso o transporte público de Belém, que não é o ideal, mas a gente usa. Então, a gente vai se virando e o esporte é uma coisa que ensina a gente a sempre seguir em frente. Às vezes a gente vai vencer, outras vezes não vai vencer porque isso é do esporte e é também da vida”.

Iniciando no All Star Rodas também aos 15 anos de idade, a paratleta Vileide Brito, de 32 anos, conhece bem a rotina de um atleta de alto rendimento e, apesar de cansativa, ela conta que não consegue mais viver sem ela. “É uma rotina muito pesada, mas ao mesmo tempo muito prazerosa porque é onde a gente se encontra. Quando, às vezes, a gente tem 20 dias de férias, porque a gente precisa de descanso, a gente já sente falta porque a gente ama a nossa rotina”.

Vivi, como a atleta é conhecida, lembra que a sua trajetória no basquete iniciou aos 15 anos e, no ano seguinte, ela já foi convocada para a Seleção Brasileira, onde pode competir representando todo o país. Quando ela lembra de toda essa história de conquistas que o esporte lhe proporcionou, fica difícil conter a emoção.

“Eu fiquei deficiente aos 11 anos, ocasionado por picada de cobra, e fui conhecer o esporte aos 15 anos de idade. Foi uma mudança radical na minha vida porque era um mundo que eu desconhecia. Eu comecei realmente a me aceitar com a deficiência a partir que eu entrei no basquete, no esporte. Foi quando eu comecei a ver o mundo de outra forma”, lembra.

“No ano seguinte que eu comecei a treinar já fui convocada para a Seleção Brasileira, então, eu já estava representando o Brasil e junto com aquilo já veio a responsabilidade também, como atleta. É muito gratificante para mim, hoje, olhar toda a minha trajetória porque eu me sinto muito feliz com tudo que eu conquistei como atleta, principalmente a minha aceitação como pessoa com deficiência”.

Entre os treinos e a rotina da vida diária, Vivi conta que sempre encontra um tempinho para ficar de olho no desempenho do Brasil nas paralimpíadas.

Paratleta não imagina a sua rotina sem o esporte

Paratleta do All Star Rodas, Adrienne Oliveira de Souza conta que sempre gostou de praticar esportes FOTO: Mauro Ângelo

A mesma preocupação é mantida pela também paratleta do All Star Rodas, Adrienne Oliveira de Souza, de 28 anos. “É triste as paralimpíadas não serem transmitidas em canal aberto, como as olimpíadas, mas acredito que quem goste de esporte vá procurar assistir no canal fechado para conhecer outras modalidades e até mesmo o basquete”, considera.

“Até hoje tem gente que assiste algum vídeo meu e diz que nem sabia da existência do basquete em cadeira de rodas, eu mesma não conhecia antes da amputação. Apesar de gostar de esporte, eu não sabia que existia porque não fazia parte do meu mundo até aquele momento. Então, acredito que tem muita gente que ainda não conhece e que pode conhecer através das paralimpíadas”.

Adrienne conta que sempre gostou e praticou esportes, jogava handebol na escola, porém, foi somente quando ela se tornou uma pessoa com deficiência que adquiriu conhecimento sobre as diferentes modalidades de esportes adaptados e nunca mais se afastou deles. “Quando eu sofri o acidente, eu fui atropelada aos 16 anos, eu fiquei triste, não foi nem por perder uma perna, mas sim por não poder mais praticar esporte porque eu não sabia da existência de esportes adaptados”, recorda.

“Mas com um mês de amputação eu fui para a minha primeira fisioterapia e lá um atleta do All Star Rodas me convidou para conhecer o basquete em cadeira de rodas. Foi a primeira oportunidade que eu tive de voltar para o esporte e eu aceitei sem pensar duas vezes”.

Integrante da seleção brasileira de basquete em cadeira de rodas, Adrienne conta que não imagina a sua rotina sem o esporte e já pensa na preparação para os próximos Jogos Paralímpicos, que serão realizados em Los Angeles, em 2028.

“Eu sou formada em nutrição, mas estou diariamente aqui, não consigo largar. Apesar de eu ter lidado muito bem com a amputação, eu acredito que o esporte tenha me ajudado bastante a conseguir superar, ainda mais, o que aconteceu comigo”, considera, ao falar da expectativa para acompanhar as paralimpíadas de Paris na televisão.

“Por pouquinho a gente não conseguiu conquistar a vaga para estar lá nas paralimpíadas de Paris também, então, por recentemente ter sido convocada para o Sul-Americano, ser atleta da seleção brasileira, eu fico assistindo com aquele gostinho de querer estar ali também, mas a gente está trabalhando para que em 2028, em Los Angeles, a gente esteja lá”.

Se a expectativa pelos jogos paralímpicos de Paris já é grande entre os atletas, com os técnicos não é diferente. Responsável por treinar uma equipe de 15 paratletas com idade entre 11 a 17 anos, e oito paratletas universitários no Campus de Educação Física do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade do Estado do Pará (CCBS/Uepa), a pedagoga e professora de educação física Kátia Tadaiesky não vê a hora de acompanhar as competições do atletismo em Paris, onde, inclusive, disputam paratletas paraenses que estudaram na instituição em que ela leciona, a Escola Estadual José Álvares de Azevedo, em Belém. “Da nossa escola saíram três paratletas que estão em Paris. O Pará vem aumentando o seu número de participação nos jogos conforme a gente vai praticando e dando oportunidade”.

Destacando a importância no esporte na vida dos paratletas, Kátia considera que os jogos oportunizam que outros jovens vejam o esporte como uma oportunidade. “Da Escola Álvares de Azevedo, quem passou por lá e está competindo em Paris é o Josemarcio, o Parazinho, atleta de Goalball; a Lucilene, irmã dele, da natação, e tem a Larissa Oliveira no Judô. Então, eles começaram em um grupo escolar e agora estão representando o país em Paris”.

Criador e técnico do All Star Rodas, o professor Wilson Caju também conhece bem o poder transformador do esporte e há 22 anos busca oportunizar a jovens com deficiência o acesso ao esporte. “A gente tem que trabalhar para que o esporte paralímpico seja uma realidade dentro do país, que todo mundo veja um paratleta como um potencial e hoje nós temos grandes atletas. O Brasil deve ir muito bem porque vai com uma delegação muito numerosa e com talentos. O Goalball deve ser campeão, o voleiball sentado também tem uma boa perspectiva e o atletismo”, prevê. “É um ano muito especial para todo atleta, para todo paratleta porque é um ano de paralimpíada. Infelizmente o basquetebol em cadeira de rodas não conseguiu a vaga no masculino e nem feminino esse ano, mas isso é um alerta para que a gente comece a se preparar melhor para, quando for em Los Angeles, a gente estar presente. A gente estará na torcida, com certeza, porque isso motiva esses jovens a virem para o esporte”.

Paratletas paraenses em Paris

O Pará é o estado da região Norte com a maior quantidade de atletas nos Jogos Paralímpicos de Paris 2024. Conheça e torça pelos paratletas paraenses que estarão competindo em cinco modalidades diferentes, entre os dias 28 de agosto e 8 de setembro.

ATLETISMO

Alan Fonteles

Natural de Marabá, o velocista compete na classe T62 (amputados de membros inferiores com prótese) e começou no atletismo aos oito anos de idade. No início da carreira, o paraense corria com próteses de madeira e, aos 15 anos, ganhou seu primeiro par de próteses de fibra de carbono para estrear nos Jogos Paralímpicos de Pequim em 2008. Desde então, o atual recordista mundial nos 100m (10s57) e nos 200m (20s66), teve inúmeras conquistas.

Fernanda Yara da Silva

No atletismo, o Pará também é representado pela paratleta Fernanda Yara da Silva, nascida no município de Curionópolis, competindo na classe T47 (deficiência nos membros superiores).

Jhulia Karol dos Santos

Reforçando a delegação brasileira de atletismo, a paraense de Terra Santa, Jhulia Karol dos Santos, compete pela pela classe T11 (deficiências visuais).

JUDÔ

Larissa Oliveira da Silva

Natural de Belém, a judoca Larissa Oliveira da Silva compete na categoria até 57kg.

Thiego Marques da Silva

Também no judô, o paraense Thiego Marques da Silva, nascido em Parauapebas, disputa na categoria até 60kg.

VÔLEI SENTADO

Bruna Nascimento, de Belém, integra a seleção brasileira de vôlei sentado.

GOALBALL

Josemarcio da Silva, mais conhecido como Parazinho, do município de Santa Maria do Pará, faz parte da seleção de goalball.

NATAÇÃO

Irmã de Josemarcio, a nadadora Lucilene da Silva, nascida em São Miguel do Guamá, também representará o Brasil nos jogos. Ela foi medalhista de prata no revezamento 4x100m livre misto nos Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020.

Todos os atletas paralímpicos fazem parte do programa Bolsa Atleta do governo federal, concedido pelo Ministério do Esporte.

Fonte: Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República.

Adriene. Foto: Mauro Ângelo
Carlos Smith Foto: Mauro Ângelo
All Star Rodas Foto: Mauro Ângelo
Kátia e Pedro. Foto: Mauro Ângelo
Vivi Leide, 32 anos, atleta do All Star Rodas. Foto: Mauro Ângelo