ÍDOLO NO PARÁ E EM PORTUGAL

Artur, o rei azulino e alvi-azul

O DIÁRIO NA EUROPA de hoje é dedicado a Artur Duarte de Oliveira, o rei Artur. Foram três passagens pelo Remo, vários títulos

Artur em ação contra o poderoso Milan, de Maldini e cia.
Artur em ação contra o poderoso Milan, de Maldini e cia.

A bola vem da esquerda para a grande área. O zagueirão tenta se antecipar para abafar a jogada, enquanto o atacante vai na bola. Já dá pra antever que vai ter trombada dos dois e, quem sabe pênalti, certo? 

O que acontece a seguir: o atacante domina a bola e o zagueiro vai pra cima, pensando que dali sairia a bomba.

Entretanto, um rápido giro e drible de esquerda fazem o zagueiro passar lotado.

Vem o chute forte, de direita. O goleiro chega a tocar na bola mas ela entra. Nada demais. O lance se repete centenas, ou milhares de vezes, pelo mundo todos os dias. 

A diferença é o cenário do recorte deste vídeo.

Isso tudo se passou em uma arena de grama sintética do bairro ou no “rachão” de fim de semana entre solteiros e casados da empresa, né? 

E se eu te contasse que o local foi o estádio San Siro, em Milão, um dos templos do futebol mundial? E que o zagueiro é ninguém menos que Paolo Maldini, um dos maiores da história do futebol? 

E que o atacante, autor da façanha, é ídolo azulino, também alvi-azul e mais conhecido como “rei”? 

O Rei Artur Duarte de Oliveira

É isso mesmo. O DIÁRIO NA EUROPA de hoje é dedicado a Artur Duarte de Oliveira, o rei Artur. Foram três passagens pelo Remo, vários títulos, assim como no alvi-azul Futebol Clube do Porto, aqui em Portugal, além do Vitória (BA), Botafogo (RJ), Boavista de Portugal, e clubes do Acre, como o Independência, onde tudo começou. 

Não vou fazer a cronologia do jogador nem elencar todos os títulos dele (isso vais encontrar facilmente no tio Google). O que vou fazer, após um bate-papo com Artur – diretamente da Cidade do Porto, e com exclusividade para o DIÁRIO – é mencionar nesta crônica alguns lances que os torcedores de futebol raiz (aqueles que apreciam o futebol-arte) jamais esquecem.

Logo nas primeiras palavras deste texto já dei a letra. O gol de empate contra o Milan em 1996, pela Champions League. No final o Porto, que chegou a Milão como “zebra”, venceu por 3 x 2 com dois gols de Jardel e o do Artur. Trocaram as camisas e a 3 do Milan tá lá na galeria do brasileiro como um troféu. 

E que Milan, hein? Ali tava a base da seleção italiana que dois anos antes perdeu a Copa para o Brasil, nos Estados Unidos. 

Vou escrever os primeiros nomes que me vierem à cabeça: Maldini, Baresi, Costacurta, Albertini, um certo Roberto Baggio, além do francês Desailly – campeão do mundo em 1998 – e George Weah, liberiano escolhido melhor jogador do mundo em 1995. Será que era fácil encarar esse time?

‌”Certamente foi o momento mais emblemático da minha carreira. Vencer aquele timaço do Milan dentro de Milão e enfrentar aqueles jogadores, que eu só conhecia pela televisão, foi mesmo um sonho realizado”, diz Artur.

Passaram-se alguns dias e o Porto foi até Lisboa jogar contra o arquirrival Benfica. O estádio da Luz testemunhou um 5 x 0 do Porto, com gol de Artur e cumprimentos de Eusébio, ídolo maior do Benfica e considerado o “Pelé português”.

“Golear o Benfica lá dentro de Lisboa também foi demais. Minha atuação ali foi excepcional”.

A Volta ao Remo e a Carreira de Treinador

Jogo vai – jogo vem, a passagem por Portugal acabou, ele voltou ao Brasil e coisa e tal. Dá outro corte aí no vídeo e vamos pular pra 2004, que é quando o cara volta a vestir azul-marinho. 

Agora o treinador era Agnaldo, companheiro de Artur no meio de campo do Remo em 1991. E tudo foi muito rápido, a parada se resolveu em apenas 15 jogos. Detalhe: o Remo venceu os 15, sem nenhum empate. Foi o famoso título do Parazão 100%. 

Também foi ali que Artur pendurou as chuteiras e se tornou treinador. 

Mete aí outro corte e pulamos pra 2008. Mas o que é isso? O “rei” no banco de reservas do Remo? Será verdade? E foi. O agora treinador assumiu o Remo num momento delicado. No final, levantou mais uma taça de campeão do Parazão.

Hoje já são quase 20 anos desde o último título pelo Remo. Artur treinou vários outros times, trabalhou em secretarias municipais de Rio Branco (AC), é dono de uma escolinha de futebol na capital acreana – a Artur Soccer – pai de três filhos, avô de dois netos, mas continua, aos 55 anos, o mesmo rapaz humilde e sorridente dos primeiros anos nos gramados. 

Vou abrir aqui um parêntese pra contar uma história (mais uma). Eu sou tunante e lá pelos meus 16 anos, nos idos de 1991, não perdia um jogo do Parazão. Fui num Remo x Tuna no Baenão e vi o Leão ganhar de 3 x 0. 

É claro que saí do estádio irritado, né? Que nada. Saí de lá foi feliz porque vi o timaço do Remo em sua plenitude. O Remo que pouco tempo depois chegaria à Série A do Brasileiro e ficaria em 8° lugar na classificação. 

Foi naquela noite que vi o “rei” Artur em campo pela primeira vez. E, confesso a vocês, tá muito difícil aparecer outro camisa 10 com aquela velocidade, habilidade, visão de jogo, oportunismo e categoria. Vida longa ao rei!!!!!

*Sérgio Augusto do Nascimento é um jornalista paraense que vive em Portugal. Foi repórter e editor e hoje é correspondente do DIÁRIO na Europa.