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Análise: Remo e a crônica do tropeço anunciado 

O Remo não depende mais de si para se classificar. Foto: Samara Miranda/Ascom Remo
O Remo não depende mais de si para se classificar. Foto: Samara Miranda/Ascom Remo

Crônica do tropeço anunciado

As falhas de arbitragem no jogo de sábado, em Aracaju, foram flagrantes. Um pênalti de origem duvidosa e um gol mal anulado prejudicaram o Remo diante do Confiança. Nada surpreendente, faz parte do pacote Série C, que não tem – na fase classificatória – o recurso do VAR.

Ocorre que, muito além de problemas que não podem ser evitados, há a crônica reprodução de erros que deveriam ser corrigidos ao longo da competição. O Remo, sob o comando de Rodrigo Santana, fez até aqui uma campanha de recuperação que merece crédito.

Apesar disso, com o investimento que o clube fez, contabilizando reforços caros (e improdutivos) e uma folha mensal em torno de R$ 1,2 milhão, esperava-se desempenho melhor. Era quase certa a classificação à fase de grupos, que define o acesso à Série B.

Mas, pelo que foi mostrado nas últimas rodadas, o Remo deve outra vez ficar pelo caminho. Restam duas partidas e os 6 pontos que possam ser ganhos não são suficientes para garantir classificação. É provável que, mesmo vencendo Londrina e São José, o time seja eliminado.

Há três anos consecutivos na Série C, uma torcida gigantesca como a do Remo merecia mais que frustração e desengano. Por sorte, ao longo do campeonato, o torcedor foi se preparando para o pior. O fato é que o Remo tem sido seu maior inimigo em diversos momentos.

Apesar disso, a torcida teve estofo suficiente para encher o Mangueirão quando o time precisava de apoio, como diante de CSA e Aparecidense. Vibrou, fez festa e até se empolgou com vitórias magras e suadas.

Uma característica do Remo de Rodrigo Santana é a queda abrupta de rendimento no primeiro ou no segundo tempo das partidas. Foi assim já na estreia com o Sampaio Corrêa, embora ali houvesse a justificativa de que o time ainda estava sob a influência do antecessor, Gustavo Morínigo.

Nos 12 jogos seguintes, essa estranha mazela se repetiu pelo menos 10 vezes – contra Ypiranga, Floresta, Ferroviário, Tombense, ABC, Botafogo-PB, Ferroviária, Figueirense, CSA, Aparecidense e Confiança. Não é coincidência, é padrão. O mais esquisito é que não houve correção de rota.

Algumas vezes, o time entrou de pé murcho, aceitando passivamente a pressão do time adversário. Em outros momentos, caiu vertiginosamente de rendimento no segundo período, baixando a guarda e recuando, como diante do Confiança.

A explicação pode estar nas escolhas (escalação e trocas) que Santana faz. A insistência com jogadores como João Afonso dentro do sistema 3-4-3 desafia o bom senso. A coisa se agrava quando são lançados jogadores de baixo rendimento, como Cachoeira, Matheus Anjos e Ytalo.

Com Bruno Silva à frente da zaga, criou-se um novo drama. De pouca mobilidade, apesar da experiência e do bom passe, o veterano não tem a mesma resistência para o combate direto. O Confiança explorou isso bem na segunda etapa, lançando jogadores rápidos para cima do volante.

Diante do quadro, ao Remo cabe buscar passar pelos dois adversários – e torcer por uma combinação de resultados –, mas as dificuldades tendem a se repetir, pois estão aí desde o início da era Rodrigo Santana. Erros que se tornaram crônicos e insanáveis.

A prata vale ouro para o futebol feminino

A seleção brasileira de futebol feminino conquistou a prata nas Olimpíadas após derrota por 1 a 0 na final com os Estados Unidos. Um resultado excepcional para um time que chegou a Paris inteiramente desacreditado. Quase foi eliminado na primeira fase, mas se transformou nas etapas seguintes, superando as favoritas França e Espanha.

Mais do que a medalha, é importante valorizar a renovação do futebol feminino. Atletas como Lorena, Lauren, Adriana, Duda Sampaio, Gabi Portilho, Taciane, Karolyn, Priscila e Yayá são expoentes dessa fase de descobertas, iniciada por Pia Sundhage e sequenciada por Arthur Elias.

Poucas veteranas – Marta, Tamires – integraram a equipe nas Olimpíadas, um sinal de que o olhar está posto na Copa do Mundo de 2027. E a conquista improvável da prata serve de aval para o trabalho até aqui executado. Talvez tenha sido a medalha mais importante de todas as conquistadas pelo Brasil em esportes coletivos.

A final foi duramente disputada, apesar do favoritismo da também rejuvenescida seleção dos EUA. Com postura agressiva, de marcação sob pressão na saída de bola, a seleção ameaçou no primeiro tempo e podia ter chegado ao gol em investidas de Gabi e Ludmila.

A grande Marta entrou no final, para sua última presença em Olimpíadas, a tempo de ser aplaudida como merece, inclusive pelas rivais norte-americanas.

Poupar titulares é invenção arriscada demais

Líder da Série A até o início da rodada, o Botafogo resolveu poupar titulares como precaução para o jogo contra o Palmeiras, na quarta-feira, pela Libertadores. Invenção do técnico português Artur Jorge, que muitas vezes teima em confundir o futebol brasileiro com o europeu.

Ontem pela manhã, em Caxias do Sul, o Botafogo B caiu por 3 a 2 para o Juventude. Chegou a perder por 3 a 0, mas uma tardia reação fez a goleada virar resultado simples, com gols de Cuiabano e Marçal. O Botafogo foi pouco agressivo, sem gana e com muitos erros de posicionamento.

Não foi a primeira vez. Diante do Bahia, pela Copa do Brasil, Artur Jorge decidiu lançar um time mesclado e tomou um empate dentro de casa. No jogo de volta, em Salvador, contra o Bahia e o VAR, perdeu a classificação.

Abel Ferreira, outro português com atuação no Brasil, age diferente. Escala sempre o melhor time do Palmeiras, independentemente dos jogos futuros. Pensa, corretamente, no aqui e agora. Não abre mão de usar os principais jogadores. Talvez por isso ganhe quase todos os torneios que disputa.

A questão é simples. Jogadores (muito) bem pagos, que desfrutam de estrutura moderna e do melhor preparo disponível, devem atuar em todos os jogos possíveis. Até porque pontos deixados pelo caminho costumam custar caro na reta final das competições.