GERSON NOGUEIRA

Análise: Leão sobe para a Série B com luta e mérito

Foi emocionante a conquista do acesso à Série B pelo Remo, ontem à tarde, no estádio Mangueirão.

Foi emocionante a conquista do acesso à Série B pelo Remo, ontem à tarde, no estádio Mangueirão. Foto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará.
Foi emocionante a conquista do acesso à Série B pelo Remo, ontem à tarde, no estádio Mangueirão. Foto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará.

Foi emocionante a conquista do acesso à Série B pelo Remo, ontem à tarde, no estádio Mangueirão. Pode-se dizer que jogos desta importância são sempre cercados de muita emoção, mas no caso azulino o feito envolve aspectos que o tornam grandioso e até surpreendente.

A magnífica festa que a torcida fez nas arquibancadas serviu de moldura para a partida decisiva, com direito a mosaico duplo e homenagem especial à Nossa Senhora de Nazaré. Estava claro que a torcida buscava ajuda até no plano religioso. Parece que as preces foram ouvidas.

O Remo teve um primeiro tempo quase perfeito, embora com alguns momentos de baixa intensidade. Criou logo de cara uma grande oportunidade com Ytalo, que recebeu livre na entrada da área logo aos 2 minutos. Afoito, ele disparou um chute à direita da trave.

Disposto a buscar pelo menos o empate, o São Bernardo se posicionou com duas linhas de marcação, deixando apenas Kayke mais adiantado para aproveitar alguma investida em contra-ataque. Enquanto isso, as chances iam se empilhando para o Remo.

Aos 7’, Kelvin cruzou na cabeça de Ytalo, que quase acertou o ângulo. O próprio Kelvin recebeu passe de Diogo Batista e arriscou de fora da área, mas a bola saiu pela linha de fundo, aos 19’.

O gol parecia uma questão de tempo, mas o Remo pecava por afobação na preparação das jogadas junto à área e insistia em cruzamentos facilmente neutralizados pela alta zaga do São Bernardo. Na marcação, a presença de Paulinho Curuá, impecável à frente da zaga, dava segurança à equipe.

Depois de tantos cruzamentos, o gol saiu em jogada construída pelo chão. Mas, antes disso, o Leão sofreu um susto danado. Nos acréscimos, o São Bernardo armou sua melhor tentativa ofensiva. Kayke avançou sem marcação e disparou um chute forte, em direção ao ângulo esquerdo.

O goleiro Marcelo Rangel saltou para desviar com a ponta dos dedos, operando um pequeno milagre. A bola foi no travessão e a zaga remista afastou, dando início a um contragolpe fulminante.

A bola foi conduzida por Raimar até a intermediária adversária. Ele driblou um marcador e passou para Jaderson, que corria pela esquerda. O atacante entrou na área e bateu cruzado em direção à pequena área, onde Ytalo surgiu entre os zagueiros para marcar o único gol da partida.

Em fração de segundos, os 55 mil azulinos que lotavam o Mangueirão foram do pânico à euforia, comemorando intensamente o gol que abriu caminho para o sonhado acesso. 

No 2º tempo, o Remo voltou melhor e buscando ampliar a vantagem. Logo aos 2 minutos, Ytalo recebeu passe junto à pequena área e chutou em direção ao gol, mas Alex Alves espalmou. Jaderson aproveitou o rebote e finalizou, mas a bola bateu na zaga.

Nos minutos seguintes, Raimar e Diogo Batista também desperdiçaram lances claros, depois de falhas de marcação do São Bernardo. Aos 9’, Pavani cobrou falta no ângulo, mas o goleiro conseguiu defender.

Depois disso, o jogo ficou mais preso à marcação no meio-de-campo. O Remo trocou Kelvin e Ytalo por Rodrigo Alves e Ribamar. A essa altura, o ímpeto pela busca do gol diminuiu e o time passou a administrar o jogo.

Na reta final, o Remo se desdobrou para evitar riscos, mas quase foi castigado com um chute traiçoeiro de Felipe Garcia aos 41′. Num último esforço, o mesmo Felipe cobrou uma falta que assustou a torcida, mas foi bem defendida por Marcelo Rangel.

A partir daí, a festa azulina tomou conta do estádio, da cidade e do Pará inteiro.

Uma façanha que não estava no radar da maioria

A campanha inicial na Série C não permitia acreditar que o acesso fosse obtido nesta temporada. Problemas sérios de formação de elenco fizeram o time oscilar muito nas rodadas iniciais, repetindo perigosamente o que havia ocorrido em 2023.

As trocas de comando também inquietaram o torcedor. Ricardo Catalá foi substituído antes do Brasileiro e o paraguaio Gustavo Morínigo foi contratado. Depois de perder três partidas, a diretoria decidiu ir em busca de outro treinador.

Rodrigo Santana, o escolhido, chegou desacreditado. A escolha não empolgou a torcida. O novo comandante vinha de trabalhos pouco exitosos. Com serenidade, ele assumiu o time no jogo contra o Sampaio Corrêa, em São Luís, obtendo a primeira vitória na competição.

Mais que isso: lançou o sistema 3-4-3, utilizado em praticamente toda a caminhada do acesso. Foi a combinação feliz das necessidades do time com a característica dos jogadores disponíveis. Quase ninguém esperava que desse certo, e deu.

Por isso, um dos maiores méritos pelo acesso deve ser atribuído a Rodrigo Santana, que virou a chave das perspectivas na Série C, assim como aos responsáveis pelo futebol do clube, cujas escolhas acabaram por se constituir na base necessária para a evolução do time.

Os planos para tentar chegar à grande final 

Ao contrário do ocorrido em 2021, quando a decisão do título apanhou o Remo em situação desvantajosa, por conta da pandemia da covid-19. Na ocasião, a comemoração pelo acesso causou a contaminação de nada menos que 10 atletas titulares, desfalcando o time na final contra o Vila Nova.

Em dois jogos penosos, o Remo foi facilmente superado pela equipe goiana, então treinada por Márcio Fernandes. 

Desta vez, caso chegue à decisão – o que depende da rodada final do quadrangular -, o Remo terá o time inteiro para buscar seu segundo título nacional. É uma conquista importante e que é vista com extremo interesse pela diretoria, pelo comando técnico e pela torcida, principalmente. 

Garantido o acesso, o objetivo agora é colocar o time em condições de brigar por mais uma taça de expressão. Além disso, significará a possibilidade de uma nova grande renda no Mangueirão.