Nildo Lima
O elenco do Paysandu terá, na volta ao trabalho, no próximo mês, após o período de férias, uma nova casa: o Centro de Treinamento Raul Aguilera. A inauguração do novo patrimônio do clube, ainda que parcialmente construído, significa a realização de um sonho para a comunidade bicolor. O projeto teve início em 2016 com a compra, pelo clube, de uma área de 100 mil metros quadrados, no bairro de Águas Lindas, em Belém. De lá pra cá, as obras no CT passaram por avanços e paralisações, até que, finalmente, o novo patrimônio bicolor tivesse sua inauguração marcada para o próximo dia 2 de dezembro.
Neste primeiro momento, o CT disponibilizará ao elenco do clube apenas um dos quatro campos oficiais previstos para o local. O espaço para treinamento, segundo informa o engenheiro civil André Martha Tavares, de 58 anos, responsável pela obra, já está praticamente pronto, faltando apenas um melhor crescimento do gramado, cujo plantio ocorreu no último mês de agosto. “A vegetação, depois de passado por corte, já recebeu a passagem de rolo de chapa lisa”, explica Tavares, informando que o local já estará em condições dias antes de sua inauguração, que ocorrerá com um jogo festivo.
“Até o dia 25 deste mês, a parte técnica da obra estará toda ela concluída, com o local já podendo ser utilizado, sem qualquer dificuldade”, garante o engenheiro, que ocupa o cargo de diretor do CT desde fevereiro de 2023. O desejo, segundo ele, era que o primeiro campo já estivesse pronto e sendo utilizado pelo elenco do clube. “O problema é que no início do ano estamos no período de chuva e aí fica impossível se começar uma obra desse tipo”, justifica Tavares.
Entregue o campo número um por Tavares e sua equipe de trabalho, o local, conforme salienta o engenheiro, só precisará de pequenos detalhes, que podem ser feitos em curto tempo. “Esses detalhes são necessidades exigidas por qualquer campo de futebol oficial, que são a colocação das traves e a demarcação do gramado”, observa. Antes mesmo da entrega do primeiro campo, o diretor do CT espera reiniciar a construção do segundo campo, cuja sub-base já está pronta, devendo entrar na próxima segunda-feira na fase de implantação do seu sistema de drenagem.
Tavares prefere não arriscar uma data para que o segundo gramado esteja pronto e por uma razão muito simples: a falta de material. “Nós dependemos da doação desse material por parte dos abnegados do clube”, lembra. “Se a gente não tiver esse material até o dia 20 deste mês, todo o trabalho já feito no local, será, infelizmente, estará perdido e tudo terá de ser refeito, com um grande prejuízo”, diz o engenheiro, torcendo para que as doações cheguem o quanto antes.
Contêineres serão utilizados até a construção de estruturas permanentes
Além da construção do campo um, prestes a ser concluída, e do início das obras do segundo campo, o CT bicolor já recebeu a instalação de contêineres, que servirão como vestiários e banheiros para o elenco em dias de atividades do grupo no local. Para aqueles que torcem o nariz achando que a implantação dos equipamentos diminui o valor da obra, o diretor André Martha Tavares responde que os espaços pré-fabricados oferecem o mesmo conforto das construções tradicionais e, mais ainda, são utilizados por grandes clubes do futebol brasileiro, alguns deles da Série A do futebol nacional.
“Os contêineres permitem rapidez para as suas instalações e asseguram a mesma comodidade que os atletas e comissão técnica teriam em vestiários e banheiros tradicionais. É uma coisa bastante prática”, elogia. “Esse tipo de equipamento é utilizado, por exemplo, no CT do Vasco-RJ e em outros grandes clubes”, argumenta o engenheiro, ressaltando que os contêineres não serão permanentes. “São equipamentos que a gente pretende utilizar de forma provisória. Nossa ideia é construir, no futuro, arquibancadas no local e embaixo delas construir vestiários e banheiros, aí sim para uso permanente”, conta.
Assim como quase todo o material utilizado para a construção dos campos do CT, que serão um total quatro, com mais um, em tamanho menor, para o uso específico nos treinamentos dos goleiros, os contêineres também foram doados ao clube. “Foi a colaboração de um abnegado do clube que possuía o equipamento e não os vinha utilizando. Então ele resolveu doar esse material ao Paysandu”, detalha Tavares.
Um trabalho em várias frentes
Desde 2020, um grupo formado por nove torcedores, liderado pela ex-vice-presidente do Paysandu, Ieda Almeida, atual presidente do Conselho Deliberativo do clube, e Domingos Coelho, presidente da Fundação Raça Bicolor, vem sendo uma espécie de braço direito da diretoria bicolor na construção do CT Raul Aguilera. Ieda explica que o grupo trabalha de forma independente em relação à direção bicolor, mas que sempre submete os seus projetos à apreciação dos dirigentes, que podem aprovar ou não as iniciativas.
Ieda revela que o material utilizado para a instalação do sistema de drenagem do campo número um do CT foi fornecido pelo grupo, que adquiriu os produtos com dinheiro vindo de promoções e colaborações de abnegados do clube. “Todo material de drenagem do primeiro campo foi pago pelo grupo, que comprou os produtos diretamente dos fornecedores”, diz Ieda. “Também as traves e redes, dezenas de carradas de seixo, areia e arenoso foi patrocinado por esses torcedores que organizam rifas e buscam apoio de torcedores”, salienta a líder.
Segundo Ieda, o grupo tem a consciência de que o Paysandu precisa contar com a ajuda de seus torcedores, levando em conta que uma obra como a do CT requer um investimento muito alto, impossível de ser arcado sozinho pelo próprio clube. “A visão deste grupo é que o clube precisa sim e muito do apoio do torcedor para agilizar a obra. A diretoria tem feito o que pode, mas na Série B, as despesas serão ainda maiores. Nada será fácil e não existe futebol sem recursos financeiros”, afirma a advogada, a primeira mulher na história a dirigir o Conselho Deliberativo do clube.