Unir tradição, sustentabilidade e transformação social em uma área onde o rio encontra a floresta. Essa é a proposta do projeto “A Barca – Cultura Amazônica”, que será implantado na Vila da Barca, tradicional comunidade periférica de Belém (PA). O espaço será sustentável e multifuncional, abrigando um museu comunitário, galeria de arte, cozinha industrial para capacitação profissional de boieiras (mães solo), um café/píer com vista para a Baía do Guajará e uma hospedaria coletiva com redário.
“Mais do que oferecer oportunidades econômicas, queremos fortalecer a conexão das pessoas com suas raízes e criar experiências transformadoras para moradores e visitantes. A ideia é que o espaço vá além de uma casa comunitária: será um símbolo de esperança, orgulho e futuro para a Vila da Barca, comunidade que carrega em suas raízes força e resiliência históricas”, afirma Suane Barreirinhas, co-idealizadora do projeto e educadora da Turma de Cidadania Climática do projeto Barca Literária.
Suane é moradora do bairro do Telégrafo, onde se localiza a comunidade.
Arquitetura Amazônica com Propósito Social
Inspirada nas palafitas da região, a construção será feita com mão de obra local e materiais sustentáveis. O projeto inclui também uma hospedaria coletiva, promovendo o modo de vida amazônida. O espaço servirá como ponto de encontro para oficinas gratuitas, palestras e visitas guiadas à Ilha das Onças, impulsionando o turismo comunitário e a economia local.
A ideia do projeto surgiu em 2020, a partir de relatos de moradores sobre a perda de memórias importantes, como fotos e documentos. “Foi quando criamos o Museu Memorial da Vila da Barca, digitalizando esses registros e iniciando o processo de nos tornarmos guardiões da memória local”, relembra Suane.
Atualmente, o acervo está disponível em uma plataforma digital própria da comunidade, que funciona como uma rede social do museu. Também foram lançadas duas revistas feitas por jovens da vila, lideradas pelo historiador e morador Kelvin Gomes, em parceria com a pedagoga e educadora Inêz Medeiros, ex-presidenta da associação de moradores e cofundadora do projeto.
Projeto Arquitetônico com Impacto Sustentável
Em 2024, a equipe entendeu que era necessário criar um espaço físico para abrigar o museu e ampliar suas atividades. O arquiteto Diego Uchôa e o engenheiro Thiago Uchôa, do escritório Bein – referência em projetos com madeiras amazônicas –, se uniram à proposta.
“Pensamos em um espaço muito maior, que incluísse outras demandas da comunidade, como uma cozinha criativa para boieiras e taifeiros, uma hospedaria comunitária e até uma horta. A Barca é mais do que um sonho: é o reflexo de uma escuta verdadeira feita com a comunidade”, afirma Suane.
Segundo Thiago Uchôa, o projeto não é apenas um edifício, mas “um símbolo de resistência e inovação, mostrando como a periferia pode liderar transformações socioambientais por meio da cultura amazônica”.
O espaço terá estrutura elevada sobre palafitas (adaptada ao ciclo das marés), uso predominante de madeira de reflorestamento, ventilação e iluminação naturais, e uma fachada inspirada em embarcações – uma homenagem à origem do nome da comunidade.
Também estão previstas:
- Horta orgânica e compostagem para abastecer a cozinha e reduzir resíduos.
- Plataforma flutuante com acesso ao rio, promovendo o turismo comunitário.
- Sistema de energia solar para parte do consumo.
- Construção com uso da tecnologia BIM (Building Information Modeling), que permite simulações e integra todas as etapas de execução com precisão e menos desperdício.
Financiamento e Apoio Comunitário
O custo total estimado do projeto é de R$ 1 milhão, que cobre desde a pesquisa de solo até a construção, equipamentos e pagamento de pessoal. Para viabilizar os primeiros passos, foi lançada uma campanha de financiamento coletivo, com a meta de R$ 45 mil para cobrir estudo de solo e licenças ambientais.
Até a última quinta-feira, já haviam sido arrecadados R$ 9.400,00 (21% da meta), com apoio de 57 benfeitores. A campanha segue o modelo “tudo ou nada” – se a meta não for atingida, os recursos são devolvidos.
Além disso, o projeto foi contemplado com R$ 35 mil da Embaixada da Suíça, para a criação de um “roteiro de cozinha periférica”, com formação em empreendedorismo, mídias digitais, história e memória para moradores que trabalham com alimentação. As atividades começam em abril e, em junho, durante a festa junina da comunidade, será realizado um concurso culinário com os pratos elaborados pelos participantes.
A próxima meta é arrecadar R$ 300 mil, valor que permitirá as duas primeiras fases da obra: estudos de fundação, definição de materiais sustentáveis, levantamento da estrutura (assoalho, pilares, paredes, janelas e portas).
Mais que Tijolo e Madeira: Um Centro de Futuro
“Mais que um espaço físico, a Barca será um centro de referência profissional, social e ambiental, fomentando o comércio local, o turismo e o bem-estar, com respeito e valorização à cultura local”, define Suane.
Ela reforça que um mundo melhor se constrói coletivamente:
“Com o financiamento coletivo, podemos tornar essa ideia realidade. Acreditamos que, juntos, podemos fazer essa mudança acontecer.”
🌊 Conheça a Vila da Barca
A Vila da Barca é uma comunidade histórica situada às margens da Baía do Guajará, em Belém do Pará. Seu surgimento remonta ao início do século XX, quando ribeirinhos que viviam da pesca, caça e extrativismo começaram a se estabelecer no local.
O nome da vila surgiu após uma embarcação encalhar na região. A madeira da barca foi reaproveitada pelos primeiros moradores para construir seus barracos – gesto que simboliza a criatividade e a resiliência de quem vive ali. Atualmente, cerca de 4.000 pessoas residem na comunidade, que mantém viva sua conexão com o rio e suas tradições.
💻 Como Contribuir
Para ajudar o projeto “A Barca – Cultura Amazônica”, basta acessar a plataforma Benfeitoria e doar a partir de R$ 20,00.
Cada contribuição é um passo para a construção de um espaço de pertencimento, identidade, cultura e futuro.