CÍRIO 2025

Ver-o-Peso é retrato de devoção e fé

À medida que o Círio de Nazaré de 2025 se aproxima, o Complexo do Ver-o-Peso, no bairro da Campina, vai ganhando novos tons de devoção.

Trabalhadores do complexo do Ver-o-Peso para conversar com feirantes e trabalhadores para contarem suas relações de fé com Nossa Senhora de Nazaré. Foto: Irene Almeida/Diário do Pará.
Trabalhadores do complexo do Ver-o-Peso para conversar com feirantes e trabalhadores para contarem suas relações de fé com Nossa Senhora de Nazaré. Foto: Irene Almeida/Diário do Pará.

À medida que o Círio de Nazaré de 2025 se aproxima, o Complexo do Ver-o-Peso, no bairro da Campina, vai ganhando novos tons de devoção. Entre as bancas de farinha, carne, ervas e café, a rotina dos feirantes se mistura à fé em Nossa Senhora, visível nos cartazes fixados às paredes ou nas pequenas imagens espalhadas pelos boxes. Para muitos feirantes, a fé na padroeira é tão presente quanto o próprio trabalho diário, presença constante de proteção e gratidão.

No box da farinha, já são 36 anos que dona Genira da Silva, de 72 anos, mantém a tradição de decorar o espaço em homenagem à Nossa Senhora. Ela diz que a imagem da santa é indispensável no trabalho, pois é nela que encontra força para enfrentar problemas de saúde e desafios diários. “Ela tem que estar aqui. Eu estou doente, mas graças a Deus estou conseguindo tudo através dela. Muitas coisas vão acontecer, tenho que tomar um pouquinho de remédio… é pressão, colesterol, mas eu busco força em Nossa Senhora. Desde criança eu sou devota”, conta Genira, apontando para o banner e a imagem de Nossa Senhora pendurada ao centro dos produtos.

Maria de Nazaré Coelho, 77, erveira. Foto: Irene Almeida/Diário do Pará.

Carregando a herança da fé, a tradição de devoção também acompanha a vida da erveira Maria de Nazaré Coelho, de 77 anos. Seu próprio nome é fruto de uma promessa feita pela mãe, que temia perder mais um filho após várias gestações interrompidas. Desde então, a família acompanha o Círio, e dona Nazaré também carrega a padroeira na vestimenta para trabalhar. Para ela, tudo o que conquista na vida é fruto da intercessão de Nossa Senhora.

“A minha mãe fez uma promessa comigo com ela. Se eu vingasse, ela, durante o tempo enquanto fosse viva, iria acompanhar o Círio comigo. E aí ficou essa tradição. Eu já era devota antes mesmo de nascer. Tudo eu alcanço com Nossa Senhora. Em casa eu tenho a imagem no quarto, na cozinha, na sala, em todo canto. Aqui, é na blusa, na toalhinha e no meio dos meus vidrinhos. E meu filho também é muito devoto, não perde uma novena. É uma fé que passa de geração em geração”, relatou.

“A fé remove montanhas”. É assim que, mais à frente, Bernadete Freire da Costa, conhecida como Beth Cheirosinha, 75, guarda fotos especiais e uma delas é a lembrança do Círio de 2019. Quando a padroeira passa pelo Mercado Ver-o-Peso, Beth costuma assistir à passagem da imagem de cima de um banco ou escada para não perder nenhum detalhe. “Nossa Senhora é muita felicidade, é honra, paz, prosperidade. Você não tem só que pedir, também tem que agradecer. Eu tinha um filho muito doente, me peguei com ela e, graças a Deus, ela me atendeu. Também pedi pela relação com uma filha, e hoje vivemos bem. É uma fé que manda; é a fé que move as montanhas, ou até remove elas”, afirmou.

Alice Lima, 23, atendente na área do café. Foto: Irene Almeida/Diário do Pará.

A devoção também se renova entre os mais jovens. Alice Lima, de 23 anos, que trabalha na área do café do Ver-o-Peso, carrega a fé como herança familiar. No box da avó, ela trabalha com a presença do cartaz do Círio. Alice compartilha o episódio em que a irmã, grávida, caiu de uma escada e sobreviveu junto com o bebê. “A minha família é católica, muito devota de Nossa Senhora. A gente já teve uma situação que a gente considera um milagre. A minha irmã caiu de uma altura de uns seis metros de uma escada, grávida de quatro meses. Pensamos que nem ela e nem o bebê iam sobreviver. Graças a Deus e Maria, hoje os dois têm saúde. Desde então a relação da gente com Nossa Senhora ficou ainda mais forte”, lembra Alice, que resume a santa como “um amor incondicional que protege a família inteira”.

No mercado de carne, Lucivaldo Oliveira, de 56 anos, há cerca de 25 anos reserva um espaço no box para os cartazes da padroeira. Todos os anos ele renova a decoração em homenagem à Virgem. “Todo ano eu tenho um cartaz desse, diferente. É uma protetora nossa aqui, graças a Deus. Vale a pena a gente conviver com ela, tendo ela no coração, porque ela ajuda. Eu tenho fé. Ela me dá saúde, sempre saúde, que é o que peço. E quando chega o Círio, a gente enfeita tudo com bandeirinha e balão. É uma forma de agradecer pela proteção”, disse.