Ontem (14) foi dia de festa no Terreiro de Mina Dois Irmãos, na passagem Pedreirinha, no bairro do Guamá, em Belém. No local, ocorreu uma homenagem pelo aniversário de 90 anos de Luíza Ninfa da Costa Oliveira, a mãe Lulu de Averequete, que foi zeladora de santo da casa por mais de 60 anos. Ela faz parte da terceira geração do terreiro e é descendente dos fundadores do espaço, o mais antigo terreiro de Tambor de Mina em atividade no Pará, fundado em 1890.
“Hoje é a festa dos nossos boiadeiros, do meu pai Zé de Légua e da dona Francisca de Légua, que é da minha irmã de santo. É a festa dos nossos boiadeiros e, aproveitando, nós vamos comemorar também o aniversário da minha mãe, que foi no domingo passado”, explica Eloísa de Badé, 59 anos, filha biológica de Lulu e ialorixá zeladora da casa há onze anos, desde que assumiu o terreiro por conta do avanço da doença de Alzheimer na matriarca.
O carinho da comunidade do Guamá por mãe Lulu se tornou muito forte, resultando em várias homenagens. “Comemorar o aniversário de nossa mãe é uma satisfação imensa porque este terreiro sobrevive há anos dentro do bairro do Guamá, atravessou a ditadura militar com muitas imposições. A gente mantém viva a memória e a história do Brasil, do povo escravizado que trouxe o tambor de mina para o Pará. A gente retribui o que a mãe Lulu fez por nós durante todos esses anos”, comenta Diego Gonçalves, 39, que frequenta o Dois Irmãos há vinte anos e é abatazeiro, o responsável pela condução dos instrumentos de percussão.
À noite, os membros do terreiro e convidados participaram de um cortejo em homenagem ao seu Zé de Légua, uma das entidades consideradas chefes da casa, ao som dos tambores da bateria da escola de samba Bole-Bole, vizinha do terreiro.
Hellaene Corrêa, 25, professora, participou do cortejo e conta que começou a frequentar o Terreiro Dois Irmãos aos 5 anos de idade. “Sou pesquisadora também e cientista da religião. As minhas pesquisas são sempre pautadas em mostrar como esse espaço, como essa comunidade religiosa, é um espaço de educação. Já fui uma criança de terreiro e, quando cheguei à maioridade, descobri que fui educada aqui dentro”, comenta.
Por Pedro Valdez