MEIO AMBIENTE

Semana do Clima na Amazônia discute soluções para o futuro da região

Evento está sendo realizado no Teatro Maria Sylvia Nunes, na Estação das Docas, até o dia 18 de julho.

Foto: Pedro Guerreiro/Ag. Pará
Foto: Pedro Guerreiro/Ag. Pará

“Diálogo, compromisso e soluções concretas para o futuro da Amazônia”: com esse chamado, a abertura oficial nesta terça-feira (15), em Belém, da I Semana do Clima na Amazônia. Realizado no Teatro Maria Sylvia Nunes, na Estação das Docas, o evento reúne desde o dia 14 até o dia 18 de julho representantes de governos, setor produtivo, organizações da sociedade civil, academia e povos tradicionais para discutir estratégias voltadas à sustentabilidade, à redução das desigualdades e à valorização da floresta em pé.

A cidade, que sediará a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30) em novembro, agora antecipa as discussões ambientais. O secretário executivo do Consórcio Interestadual Amazônia Legal e porta-voz da Semana, Marcello Brito, destacou o caráter inédito e necessário da iniciativa. “Estamos tentando quebrar um paradigma, porque todos os anos, há várias décadas, a gente reúne um público muito grande na Semana do Clima de Londres e na Semana do Clima de Nova York. Então, a ideia foi: por que não ter uma no Brasil e, principalmente, por que não tem uma na Amazônia?”, questionou.

Ele explicou que o evento deve se tornar itinerante nos próximos anos, passando por outras capitais amazônicas e, além disso, “trazer a realidade de um diálogo muito mais pragmático diante da disrupção geopolítica que a gente assiste no mundo atual”. O secretário enfatizou, ainda, que a agenda é estratégica para pautar temas nacionais nas ações paralelas da COP 30.

“Na COP, na negociação entre os países, as discussões existentes serão planetárias. Nenhum país está vindo aqui para discutir os problemas do Brasil, da Amazônia. Esse problema é nosso, não deles. Mas nas agendas paralelas que como essa, existem os planos de ação”. E ponderou que é justamente a partir desses planos que a sociedade local precisa se inserir para discutir os problemas e aproveitar a chance para tentar obter os investimentos necessários para que possa corrigir a rota de desenvolvimento da Amazônia brasileira.

Em vídeo exibido no evento, Ana Toni, CEO da COP 30, parabenizou a iniciativa e reforçou a importância de territorializar o debate climático. “Isso mostra um pouco o protagonismo da Amazônia em todas as maneiras, não só recebendo o maior evento das Nações Unidas, que é a COP. Muito do que vai ser debatido nesta semana é o que a gente quer trazer também para a COP 30”, disse. Ela destacou que a presidência do evento coloca em foco a implementação e aceleração de ações climáticas, com ênfase na conexão entre as decisões globais e o cotidiano das pessoas.

Entre os temas, quando se fala de Amazônia, ela lembra quais são sempre pontuados: desmatamento zero, agricultura regenerativa, agricultura tropical, energia renovável, transporte sustentável; mas bioeconomia é um dos pontos importantes, além “de financiamento climático da perspectiva da natureza, da perspectiva da floresta em pé, dos oceanos, dos mangues”.

Estratégias e Sustentabilidade na Amazônia

Presente na cerimônia, Helder Barbalho, governador do Estado, reforçou que a Semana do Clima faz parte da estratégia de consolidar a Amazônia como liderança global no debate ambiental, que “posiciona a nossa capital para que possamos aqui valorizar os nossos ativos ambientais, ativos florestais, a nossa academia, a ciência e também impulsionando novas economias baseadas na natureza para geração de empregos verdes, para que a agenda da sustentabilidade possa estar diretamente atrelada ao nosso dia a dia”, afirmou.

Ele também comemorou os dados de redução do desmatamento no Pará e afirmou que o mais importante é a mudança cultural. “Em 2018, o estado fechou o Prodes com 4.400 quilômetros quadrados de área desmatada. Agora, a 15 dias do encerramento de 2025, temos 1.300 quilômetros quadrados”, afirmou. Para ele, a queda nos índices reflete uma mudança cultural em curso. “Hoje as pessoas falam sobre meio ambiente na mesa de casa, em um bar, em um restaurante. É assim que se transforma a sociedade: consciência não se consegue em um movimento e um passo, se consegue em uma jornada construída por muitos e, certamente, o que nós estamos fazendo aqui”, discursou.

André Guimarães, diretor executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e enviado especial da sociedade civil para a COP 30, também foi um dos participantes “keynote speaker” – apresentação de destaque – da abertura do evento, ao lado de Ana Toni (em vídeo) e Marcello Britto. Ele fez um alerta: “sem a Amazônia, não existe estabilidade climática do planeta. Nós estamos falando de um bioma que armazena o equivalente a 10 anos de emissão global de carbono, e de todo o mundo. Estamos falando de um bioma que armazena o equivalente a todas as emissões históricas dos Estados Unidos, que são ainda o maior emissor de carbono do planeta”, lembrou.

“Se o Brasil é hoje um campeão mundial no agronegócio, isso se deve ao fato de que nós temos uma floresta que estabiliza a chuva e que irriga o Cerrado e irriga o Sul do Brasil. Então, a importância da Amazônia é absolutamente estratégica e não, por outra razão, é tão importante a gente ter essa conferência do clima aqui”, frisou.

O Papel das Empresas e a Transição Energética

Anderson Baranov, CEO Brasil da Hydro, patrocinadora master, ressaltou o papel das empresas na transição energética e no apoio à bioeconomia. “Entendemos que esse diálogo é importante, mas é um diálogo que possa se transformar em ações”, disse. Ele destacou os investimentos em inovação, como o uso do caroço de açaí para produção de biomassa e a substituição de matriz energética da refinaria da empresa. “Acho que uma das discussões da Semana do Clima da Amazônia é investir nas pessoas, trabalhar com a sociedade. A COP vai deixar um legado maravilhoso para o Pará, é físico, é infraestrutura, mas também é social”.

Representando o setor produtivo, Alex Carvalho, presidente da Federação das Indústrias do Pará (Fiepa), reforçou o compromisso da indústria paraense com uma agenda de desenvolvimento baseada na sustentabilidade. “Estamos buscando uma agenda de desenvolvimento, e ao buscar uma agenda de desenvolvimento eu trago a palavra jornada. A Jornada COP+ é um projeto liderado hoje pela Federação, mas ela não se limita às ações industriais, é um movimento multissetorial que visa criar as condições ideais para que este desenvolvimento sustentável se estabeleça dentro do nosso território”, afirmou. Segundo ele, o objetivo é combater os extremismos e buscar soluções “com verdade, transparência e, acima de tudo, com compromisso”.

Sociobiodiversidade e a COP 30

A valorização da sociobiodiversidade também ganhou destaque com a instalação da vending machine da AssoBio. Paulo Monteiro dos Reis, presidente da AssoBio, apresentou a vending machine da AssoBio – uma máquina automática que disponibiliza dezenas de produtos da sociobiodiversidade amazônica, como cadeias do segmento cosméticos, do segmento de moda e acessórios, biojoias, dos alimentos com ingredientes como cacau, tucumã e cumaru. Segundo ele, a iniciativa, realizada com apoio do Fundo Vale e Sebrae Pará, busca valorizar a floresta em pé e estará posicionada em pontos estratégicos da cidade durante a COP 30. “São 198 delegações esperadas para vir para a COP 30. Queremos que todos tenham acesso ao que a bioeconomia do Pará e da Amazônia já vem realizando”.