Even Oliveira
A movimentação do setor de alimentação fora do lar segue em expansão no Brasil, consolidando-se como um dos principais fomentadores do mercado de trabalho. Bares e restaurantes criaram 230 mil novas vagas em 2024, um crescimento de 4,2% em relação a 2023. As informações são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), divulgadas na sexta-feira (31) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
São 5,74 milhões de pessoas empregadas no setor, maior número já registrado desde que a pesquisa foi iniciada, em 2016. Seguindo a tendência, esse aquecimento do mercado tem reflexos diretos em cidades como Belém. Além das discussões ambientais, com a expectativa de receber milhares de turistas, a preparação para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP 30, já começa a impulsionar contratações, movimentando a economia local.
No restaurante Ver-o-Açaí, unidade do bairro Umarizal, a aposta vai além da imersão cultural pelos 8 setores do espaço, que carrega características da região em cada parte, mas também na qualificação da equipe, que já é composta por cerca de 45 profissionais em diferentes setores, para proporcionar uma experiência positiva aos turistas.
“Nosso objetivo é que os clientes não apenas experimentem a gastronomia paraense, mas vivam a nossa cultura. A gente sempre faz uma abordagem referente à história dos pratos e dos elementos culturais que compõem o ambiente”, explica Paulo Ferreira, de 23 anos, agente administrativo da casa.
Ele destaca que pretendem abrir cerca de dez vagas para profissionais fluentes em inglês e que já firmou parcerias com escolas de idiomas para capacitar os colaboradores. “Criamos um treinamento para que os atendentes que ainda não falam inglês possam aprender expressões e melhorar o atendimento ao público estrangeiro”.
Além disso, o Ver-o-Açaí investe em um cardápio diferenciado, com pratos típicos e opções exclusivas. Para quem deseja conhecer a culinária local, ele recomenda o Menu Regional, Tábua Veropa – que inclui peixes típicos e um litro de açaí – e o prato Paraense, o carro-chefe. A última opção é um prato composto por posta de peixe (filhote, pirarucu fresco ou pescada) coberta com creme de tucupi no caldo de camarão, arroz paraense com chicória e farofa.
“Queremos que todos sintam o sabor autêntico da nossa culinária, mas de uma forma inovadora. E a COP 30 amplifica a visibilidade da nossa gastronomia e cultura. A casa já é 100% cultural, e nosso desejo é que os clientes sintam isso em cada detalhe, desde a comida até a ambientação”, reforça Paulo.
O cenário se repete no Marujos, restaurante localizado na Estação das Docas, bairro da Campina. A movimentação também já reflete as expectativas para a COP 30. O gerente Patrick Moraes, 47, ressalta que o evento exige planejamento antecipado. “A COP 30 será um marco para a cidade, podemos dizer que Belém tem se tornado a capital do turismo, e queremos estar prontos para atender com excelência. Sabemos que a demanda será grande e, por isso, estamos estudando ampliar nosso quadro de 22 para 30 funcionários”.
Além disso, o restaurante investe na capacitação dos atendentes desde setembro do ano passado e deve seguir até julho nesta rotina, promovendo workshops sobre técnicas de hospitalidade e aperfeiçoamento de outros idiomas.
“São 17 pessoas diretamente ligadas; os garçons, atendentes, caixas, e até eu estamos mais expostos [no contato] aos turistas, e por esse fator estamos à frente do aprimoramento. Eles já estão empolgados, estudando para atender melhor o público”, detalha.
Aproveitando a vitrine global que a conferência proporcionará, “será uma oportunidade única de mostrar o que temos de melhor e de valorizar a nossa identidade”.
A expectativa de crescimento no setor não se limita à contratação apenas em restaurantes. Um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV EESP), em parceria com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), indica que, para cada 1.000 empregos gerados em bares e restaurantes, outros 2.250 são criados em setores da economia, que podem ser correlatos, como fornecedores de alimentos, logística e turismo.
Além da criação de novas vagas, a valorização da mão de obra também se tornou uma prioridade. O salário médio no setor alcançou R$2.190, o maior já registrado, representando um aumento de 5,8% em um ano.
“O aumento na remuneração é um reflexo direto do investimento dos empresários na atração dos profissionais e no aprimoramento do atendimento. A tendência é que, com a continuidade do crescimento dos negócios, mais oportunidades de emprego sejam geradas. A qualificação dos profissionais no setor vem aumentando, com criação de vagas em funções que não eram tão comuns, como as ligadas ao ambiente digital”, afirma Paulo Solmucci Júnior, presidente executivo da Abrasel.