
Quando a pequena capivara “Cap 30” saiu de Cametá na noite do dia 28 de julho, não sabia que sua vida ia mudar completamente. Ela encarou uma viagem de doze horas de barco até chegar a Belém, onde seria encaminhada para o Bosque Rodrigues Alves.
Tudo começou quando a pessoa que cuidava dela como um animal doméstico, dentro de casa, percebeu que aquele ambiente não era adequado para ela. E por mais que se esforçasse dando carinho e alimento e hidratando a capivara numa bacia, se deu conta de que o animal não deveria mais ficar mais ali, num ambiente doméstico.
E não deveria mesmo!
As capivaras são animais silvestres. Por mais fofas e dóceis que pareçam aos olhos humanos, elas nasceram para viver livres, em bando, com bastante espaço para andar e com um bom lago ou rio para nadar.
Por cerca de um ano e meio, idade estimada, a capivara “Cap 30” não sabia o que era ter um espaço apenas seu, onde pudesse nadar e viver com segurança. Motivo pelo qual não poderia mais ser reintegrada à natureza, sendo necessário ser colocada em um ambiente controlado como o Bosque.
Mas ela não foi domesticada.
“A palavra não é domesticada. Como é uma espécie silvestre, independentemente se ela é habituada a viver sob cuidados humanos ou não, a gente diz que foi condicionada. E ela é mais dócil do que uma capivara comum porque desde pequenininha ela foi criada sob cuidados humanos e aí ela permite um pouquinho mais de interação. Foi por isso, inclusive, que ela veio para o parque, porque ela não tinha condições de soltura”, explica a diretora do Departamento de Gestão de Áreas Especiais (DGae) do Bosque, Ellen Eguchi.

Um banquete com ração, verduras e frutas
A palavra “capivara” tem sua origem no tupi “kapii’gwara”: kapii, que significa capim, e gwara, com o sentido de comedor. Capim é o alimento que a Cap 30 mais come. Duas vezes ao dia, ela recebe um banquete com ração, verduras, frutas e o capim, que fica à disposição para comer o tempo todo. Não por ela ser gulosa, mas por ser um animal herbívoro e que precisa sempre estar comendo seu capim para evitar problemas gastrointestinais.

A capivara é o maior roedor do mundo. Vive cerca de dez anos na natureza e 15 anos em cativeiro. Embora silvestres, não é considerada agressiva. O olhar dócil e o porte rechonchudo reforçam sua imagem de animais tranquilos, mas é necessário cautela: embora pareçam mansas, elas são arredias ao toque e sua mordida é muito forte, então não se pode simplesmente sair por aí tocando e fazendo carinho nelas.
Mesmo a “Cap 30”, já acostumada ao contato com humanos, não pode ser tocada.

Cercada de afeto
Além de ser a comedora de capim mais famosa de Belém, a capivara “Cap 30” também já é muito querida por funcionários e visitantes do Bosque. Gosta de se exibir e, às vezes, pede atenção dos visitantes em sua mais nova casa.
Logo que chegou, estava acuada. Depois da viagem, algo naturalmente estressante para um animal, precisou de um tempo para se habituar ao novo lar.

Um dos danos de se tentar domesticar um animal silvestre é o comportamental. Os profissionais do Bosque Rodrigues Alves sabiam que a Cap 30 estava habituada aos cuidados humanos, por isso tiveram desde sempre a preocupação de dar toda a atenção necessária para ela não se sentir deprimida.
“A nossa maior preocupação é que ela não deprima. É dar toda a atenção que a Cap merece para que ela viva muito tempo e feliz. A gente sempre está por aqui, os tratadores, os estagiários, os bolsistas, a equipe de fauna e eu, que também sou veterinária”, afirma Ellen.
Hoje a nova capivara do Bosque Rodrigues Alves já está adaptada ao novo ambiente, que conta com uma cama impermeável, um lago onde adora passar seu tempo livre, um amplo espaço em terra firme para correr e, principalmente, um capim para mastigar.
O que fazer se encontrar uma capivara por aí?
Naturais da América do Sul, as capivaras estão presentes em boa parte do Brasil. Como gostam de água, elas têm na Amazônia um ambiente favorável para habitar. No Pará, como nos diz Ellen Eguchi, “onde tem água, tem capivara”.
E, para surpresa de alguns, na Região Metropolitana de Belém existem muitas. É possível encontrar capivaras no Parque do Utinga e até mesmo em áreas de condomínios fechados, ao longo da rodovia BR-316. “Esse corredor ecológico que a gente tem, desde a Universidade Federal do Pará (UFPA) até [o município de] Marituba, é lotado de capivara. Tem muitas”, enfatiza Ellen.

Caso uma capivara, ou mais de uma, cruze o caminho de alguém, ligue para o 190, do Centro Integrado de Operações (Ciop), que vai acionar o Batalhão de Polícia Ambiental para fazer a captura. Mas se ela estiver apenas passeando no seu habitat, os visitantes são os humanos, então é preciso manter distância e respeitar o espaço delas.
Com a Cap 30 não é diferente. Ela está ali para ser observada de perto e admirada. Não pode sofrer nenhum tipo de abordagem manual. É preciso lembrar que ela está em sua nova casa e que os visitantes precisam respeitar seu espaço.
Além disso, não é permitido tirar fotos com flash e em nenhuma hipótese alimentá-la (regra que vale para todos os animais que moram no Bosque), pois isso pode fazer mal para sua saúde.

INFLUÊNCIA INTERNACIONAL! A “Cap 30” foi batizada pelo público numa referência à Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP 30). Agora, ela chega em um ano emblemático para a cidade, para nos lembrar que o legado da Conferência deve ser principalmente uma maior conscientização sobre o respeito que devemos ter pelo nosso patrimônio natural.
- Texto: Élida Miranda