De R$100 a R$500 por dia: como o PF ajuda a movimentar a renda na cidade
De R$100 a R$500 por dia: como o PF ajuda a movimentar a renda na cidade

O BOM E SABOROSO PF

Prato feito vira motor da economia popular em mercados de Belém

Feira e mercado como ponto de encontro para quem vive do prato feito. A história de quem faz o melhor PF de Belém começar às 5 da manhã.

Elza Rodrigues da Silva, 56 anos, proprietária do Box da Elza, no Mercado de São Brás. Foto: Wagner Almeida / Diário do Pará.
Elza Rodrigues da Silva, 56 anos, proprietária do Box da Elza, no Mercado de São Brás. Foto: Wagner Almeida / Diário do Pará.

Em espaços de grande circulação de pessoas, especialmente de trabalhadores que contam com um intervalo de almoço no meio do expediente, é quase certo encontrar um pequeno negócio vendendo uma boa refeição a preços acessíveis. Seja em quiosques ou em boxes dentro das feiras e mercados da cidade, o prato feito movimenta a rotina não apenas de quem busca se alimentar, mas principalmente de quem resolveu transformar o talento para a cozinha em fonte de renda.

Há 37 anos a rotina de Elza Rodrigues da Silva, 56 anos, começa cedo. Para que tudo esteja pronto para atender os clientes que chegam no horário do almoço, ela começa a organizar a cozinha instalada em um dos boxes do Mercado de São Brás ainda às 6h. Diariamente, ela oferece uma grande variedade de pratos feitos para serem consumidos no local, preparos conduzidos integralmente por ela.

“Eu faço tudo aqui. Eu faço peixe, carne assada, pirarucu, faço pescada gó, faço dourada, peixe cozido, rabada, frango frito, bife, maniçoba, feijoada, sopa de carne e sopa de mocotó”, enumera, com a mesma habilidade e velocidade que conduz o fogão. “Eu tenho isso todos os dias. O que o freguês quiser, eu tenho. Tem que ter todas essas opções pra não perder o freguês”.

Para que dê conta de tudo isso, Elza conta apenas com um ajudante que fica responsável por lavar as louças. Já o preparo das refeições ela não gosta de dividir com ninguém. Diante de uma infância e juventude sofridas, ela aprendeu a atuar em diferentes funções desde muito cedo, mas foi na cozinha que ela encontrou o que mais gosta de fazer.

“A minha vida foi um pouco sofrida. Meu pai morreu e a minha mãe me deu para uma família. E eu fui criada com uma família onde eu fazia tudo. Eu aprendi a cozinhar, lavar, a ser uma pessoa honesta, não mexer em nada de ninguém, estudei pouco. Era só trabalhar, trabalhar, trabalhar”, relata, pedindo licença para contar a própria história. “Aí quando eu fiz 25 anos, decidi ir embora. Eu estudei mais um pouco e fui procurar serviço, fui cobradora de ônibus, já fui caixa em supermercado, eu já atuei em um monte de coisa. Mas o que eu mais gosto é de cozinhar”.

Foi quando ainda atuava como caixa em um supermercado que ela passou pelo Mercado de São Brás e viu, ali, a oportunidade de trabalhar com o que mais gostava. “Um belo dia eu estava passando aqui pelo Mercado de São Brás e tinha uma amiga minha trabalhando aqui. Eu perguntei pra ela ‘tem alguma barraca para vender aqui?’ e tinha. Eu comprei uma, depois comprei mais uma e fiquei com duas e estou aqui até hoje”, resume. “Eu amo cozinhar, minha onda é comida”.

Do balcão do box instalado no mercado, Elza serve pratos feitos que variam de R$20 a $25. Ainda que as opções sejam muitas, a carne assada e o peixe frito têm a preferência da freguesia. O movimento em busca das refeições, inclusive, tem vivenciado um bom momento após a reforma do mercado histórico. “Depois da reforma o movimento melhorou muito, muito, muito. Quando a gente estava lá fora tinha dia que eu vendia R$100. Hoje tem dia que eu vendo R$400, R$500… dia de domingo eu vendo mais, o movimento é bem melhor”.

O PF que sustenta famílias e histórias: cozinheiras de Belém fazem da comida uma fonte de renda e afeto
O PF que sustenta famílias e histórias: cozinheiras de Belém fazem da comida uma fonte de renda e afeto Foto: Wagner Almeida / Diário do Pará.

A Trajetória de Outras Cozinheiras no Mercado de São Brás

É também aos domingos que a cozinheira Deuza Santiago da Silva, 61 anos, tem o melhor movimento no seu box, instalado em outro ponto do mesmo mercado em São Brás. Há 15 anos o espaço é o local de trabalho da autônoma que criou os filhos com a renda obtida com a venda de churrasquinho nas proximidades do Terminal Rodoviário de Belém. “Eu trabalhei 15 anos atrás do Terminal Rodoviário, aprendi muita coisa lá. Na verdade, eu comecei vendendo churrasco na frente do Terminal, foi de lá que eu criei meus filhos. E aqui dentro do mercado eu já estou há 15 anos também”.

A mudança da venda de churrasco para o box localizado dentro do mercado não difere das muitas outras histórias por trás das vendas do local: assim que teve a oportunidade, Deuza não hesitou em investir na aquisição de um ponto. Ali, atrás do balcão, ela dedica mais de nove horas de trabalho todos os dias para preparar as refeições e atender os clientes. “O peixe com açaí é o carro chefe aqui. É o que as pessoas mais pedem”, conta. “O movimento começa a aumentar depois das 11h30 e vai direto. Melhorou muito depois da reforma, tá vindo mais gente. As pessoas vêm mais no final de semana. Cozinhar, na verdade, é a única coisa que eu sei fazer”.

Comida de verdade: conheça quem sustenta a cidade com pratos a R$15
Comida de verdade: conheça quem sustenta a cidade com pratos a R$15Foto: Wagner Almeida / Diário do Pará.

Tradição e Legado na Feira da 25

O talento para a cozinha também foi transformado em fonte de renda na família de Laura Barros, 61 anos. A autônoma iniciou o trabalho com o preparo e a venda de refeições no box instalado na Feira da 25 iniciou há 36 anos, na companhia de quem a ensinou tudo o que ela sabe fazer na cozinha, a sua mãe. “Eu aprendi a cozinhar com a minha mãe. Nós começamos juntas, viemos eu e ela pra cá”.

Foi apenas com o passar do tempo que as irmãs de Laura se uniram ao local batizado de ‘Box das Irmãs’. Ao todo, quatro irmãs trabalham no local e cada uma delas herdou o dom da culinária de outras mulheres da família. “Todas aprenderam a cozinhar com a minha mãe ou com a minha avó. Hoje em dia já não sou eu que cozinho, é a minha irmã. Eu só faço o arroz, a farofa, os acompanhamentos. A gente vai dividindo o trabalho”.

Entre os preparos iniciados logo após o atendimento dos clientes que se dirigem ao local para consumir o café-da-manhã, Laura destaca que estão na preferência dos clientes a carne assada e o peixe. Mas, além disso, as irmãs também preparam bife, bisteca, frango guisado, camarão com legumes, guisadinho de carne. São seis opções por dia.

“Eu chego 5h para preparar tudo porque a gente também trabalha com café da manhã. Pro almoço, depois das 11h30 já começa a aumentar o movimento. É muita gente, não tenho ideia de quantas pessoas a gente atende”, reflete. “Mas aqui o cliente consegue comer um bom prato feito por R$20, só o peixe que é um pouquinho mais caro, R$21. Mas acompanha o suco, a farofinha, uma saladinha, a farinha”.

PF barato e com gosto de casa: veja onde comer bem no centro de Belém
PF barato e com gosto de casa: veja onde comer bem no centro de Belém. Foto: Wagner Almeida / Diário do Pará.

Quiosque da Palmeira e a Preferência dos Clientes

Confirmando a preferência que costuma se repetir em diferentes pontos de venda, também no Quiosque da Palmeira a carne assada e o peixe frito são os mais pedidos. Há 15 anos, Maria Ribeiro trabalha no local compondo uma equipe de quatro pessoas. Diariamente, eles chegam a vender de 50 a 60 refeições para pessoas que trabalham nas proximidades ou que passam pelo centro comercial de Belém.

“A quantidade de refeições depende muito do movimento porque aqui no Espaço da Palmeira a gente depende de divulgação boca a boca, um cliente traz o outro”, considera. “Nós somos em quatro trabalhando pra atender todo mundo. A gente faz supermercado de um dia pro outro, a gente vai comprando e volta comprando. Logo quando eu chego, eles ficam ajeitando e eu vou pro Ver-o-Peso, pelas outras feiras, no supermercado. E os nossos pratos aqui são R$15. Tem cliente de 10 anos que come todo dia a mesma comida”.

O pescador Alexandre da Silva Maués, 36 anos, é um desses clientes. Ele conta que almoça no local quase todos os dias e garante que não faltam bons lugares para comer um bom prato feito em Belém. “Eu como aqui quase todo dia. É um local onde o preço é mais acessível. Aqui em Belém não é difícil de achar um PF com preço bom, dá pra achar. Tem que saber procurar, saber onde tem. Aqui perto do comércio tem, no Ver-o-Peso também”.