NOVA REALIDADE

Placas solares levam energia para comunidade de Outeiro

Energia solar no Pará: o programa Luz para Todos leva placas solares para comunidades remotas. Saiba mais na matéria abaixo.

A nova realidade trouxe conforto e praticidade para famílias como a de Emília Monteiro do Nascimento, de 77 anos, moradora local desde que nasceu.
A nova realidade trouxe conforto e praticidade para famílias como a de Emília Monteiro do Nascimento, de 77 anos, moradora local desde que nasceu. Foto: Irene Almeida/Diário do Pará

Belém - A chegada da energia elétrica tem transformado a vida de comunidades ribeirinhas e remotas no Pará, antes dependentes de lamparinas, velas e geradores que funcionam poucas horas por dia, para iluminar suas casas. Na ilha de Jutuba, pertencente ao distrito de Outeiro, em Belém, a implementação do programa Luz para Todos no Pará trouxe uma nova realidade para dezenas de famílias, que agora contam com energia gerada a partir de placas solares.

A iniciativa, uma parceria entre a concessionária de energia Equatorial Pará e o Governo Federal, tem levado energia solar para comunidades remotas. Segundo Giorgiana Freitas, gerente de Geração da Equatorial, que atua na eletrificação do Luz para Todos Remoto, o sistema abrigou 271 famílias da Ilha de Jutuba, atendidas durante a obra, que teve duração de um mês, no final de 2024.

Contando com um fornecimento estável, conforme Giorgiana, a escolha pela energia solar se deu por dois fatores principais: viabilidade técnica e sustentabilidade. A tecnologia não exige supressão vegetal e contribui para a sustentabilidade ambiental da região.

“Em regiões de difícil acesso, a construção e manutenção de redes elétricas enfrentam desafios naturais, como rios e florestas densas. O sistema solar, por outro lado, é instalado diretamente no local e opera de forma autônoma, garantindo o fornecimento de energia sem a necessidade de extensas redes de distribuição, explica.”

O impacto é visível no dia a dia da população: as noites deixaram de ser escuras, as tarefas domésticas ficaram mais práticas e a qualidade de vida melhorou significativamente. A nova realidade trouxe conforto e praticidade para famílias como a de Emília Monteiro do Nascimento, de 77 anos, moradora local desde que nasceu.

“Antes de chegar [a energia], a gente vivia no escuro; acendia lamparina, quando não era vela, e ia dormir do mesmo jeito, no escuro. Agora, se eu quiser lavar roupa à noite, eu lavo, ajeito tudo, e é tudo no claro. Ficou muito melhor”, conta. “Para a gente que vivia no sacrifício, parece um sonho ter luz dentro de casa sem precisar se preocupar se o querosene vai acabar”, continuou.

Em sintonia com a caixa do sistema da Equatorial, na casa azul de Elaine Monteiro, de 41 anos, “mudou tudo”. Para ela, que já estava acostumada com energia elétrica quando morava em Belém, há 20 anos encarava uma condição diferente de morar na capital paraense. Na ilha, para assistir televisão, por exemplo, utilizava o gerador de energia, que é movido a gasolina e, segundo ela, durava apenas poucas horas de consumo.

Em sintonia com a caixa do sistema da Equatorial, na casa azul de Elaine Monteiro, de 41 anos, “mudou tudo”.
Em sintonia com a caixa do sistema da Equatorial, na casa azul de Elaine Monteiro, de 41 anos, “mudou tudo”. Foto: Irene Almeida/Diário do Pará

“Quando eu tive meu neném, parei de usar lamparina porque achava mais perigoso. Passei a usar vela, mas era muito difícil. Em dias de usar o gerador, ligávamos às 18h e às 20h já acabava. Fora que a gente tinha que jantar mais cedo porque depois ficava muito escuro”, relata.

Ela, que gosta de limpar a casa escutando música, agora pode fazer as tarefas sem se preocupar se a caixinha de som vai descarregar mais de uma vez. “Para carregar o celular, por exemplo, só podia à noite. Agora, depois do jantar, posso lavar a louça e deixar tudo organizado para o outro dia. Graças a Deus, agora mudou tudo”, afirma.

E para conseguir manter os alimentos sem estragar, a forma de conservá-los consistia em mantê-los no gelo em um isopor ou salgá-los. Para Jair Monteiro Nascimento, 54, que trabalha como pescador, a chegada da eletricidade trouxe mais praticidade para armazenar o pescado. “Antes, a gente precisava comprar gelo em Outeiro ou Icoaraci o tempo todo. Já teve vezes que estragou [o peixe]. Agora, com a geladeira funcionando, dá pra armazenar melhor. Isso ajuda muito no trabalho e no nosso sustento”, diz.

Para Jair Monteiro Nascimento, 54, que trabalha como pescador, a chegada da eletricidade trouxe mais praticidade para armazenar o pescado.
Para Jair Monteiro Nascimento, 54, que trabalha como pescador, a chegada da eletricidade trouxe mais praticidade para armazenar o pescado. Foto: Irene Almeida/Diário do Pará

Além da contribuição no armazenamento, a esposa de seu Jair pode utilizar a máquina de costura, o que também contribui para a renda da família, formada por 5 pessoas. “Hoje dá para usar a geladeira, o ventilador e até a máquina de fazer roupa da patroa”, brinca.

Outro beneficiado é o vigilante Joelson Rodrigues, 41 anos. Ele explica que algumas casas tinham o motor, mas muitos moradores não tinham condição de ter. “O motor [gerador] gastava dois litros de gasolina por dia para ser usado duas horas. Se não tivéssemos dinheiro para comprar gasolina, ficávamos sem energia”, lembra.

A limitação de tempo imposta significava que apenas itens essenciais podiam ser usados. “Nós mal ligávamos a televisão e carregávamos os celulares, mas era só isso. Geladeira, por exemplo, nem dava para manter.”

A mudança foi significativa. Como um bom paraense, entre os eletrodomésticos para compor essa nova fase, uma máquina para bater o açaí já está funcionando quase todos os dias na casa de Joelson. “Hoje temos ventilador, televisão, máquina de lavar roupa e até uma máquina de bater açaí. Antes, o açaí era consumido na hora ou estragava, agora conseguimos armazenar com mais tranquilidade, e posso planejar melhor as compras para investir em um freezer, que estamos pensando em adquirir”, compartilha.