Cintia Magno
Daqui a pouco menos de 300 dias, Belém deverá receber cerca de 50 mil visitantes que irão se deslocar para a capital paraense em decorrência da 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas para Mudança do Clima (COP30), que será realizada entre 10 e 21 de novembro deste ano. Entre as estratégias de ampliação de capacidade de hospedagem para acolher esse grande volume de turistas, o empreendedorismo local é um importante aliado e deve garantir uma boa renda para quem já se prepara para investir na área.
Quando o mundo ainda voltava as atenções para as edições anteriores da Conferência do Clima da ONU, o empreendedor Raphael Tadaiesky, 41 anos, já previa o cenário de boas oportunidades na área de hospedagem quando a conferência viesse para Belém. Impulsionado pela escolha da capital paraense como sede da COP de 2025, portanto, ele começou a se movimentar para aproveitar a demanda gerada pelo evento internacional.
“Há mais ou menos um ano eu comecei a observar o movimento da COP e do mercado e comecei a me movimentar, a planejar e a já executar, começando a fazer algumas reformas para poder me preparar para esse momento”, lembra. “Naquela época ainda era só uma especulação, a gente não tinha essa visão que todo mundo está tendo agora, desse boom que houve no mercado. Hoje, todo mundo está tendo uma visão mais clara porque foi dado um zoom e todo mundo está vendo mais de perto realmente o que vai ser a COP, a dimensão do evento e o quanto pode ser lucrativo, com números mais reais do mercado”.
Para se preparar para a demanda que já é visível, Raphael decidiu reformar e adequar o imóvel que fica em frente ao Estádio do Mangueirão para receber hóspedes. Passada essa fase, ele deve definir de que maneira fará a oferta, mas, no primeiro momento, ele planeja fazer uso das plataformas virtuais de oferta de hospedagem.
“O meu imóvel está sendo reformado, já fiz um mezanino e estou em fase de acabamento, pintura e fazendo outra adequação no outro quarto. Quando estiver finalizado, aí sim eu vou ver como vou fazer a partilha, se de um quarto inteiro ou por cama”, conta. “E eu também trabalho com o foco em ajudar quem vai fazer as acomodações, já que eu também atuo no setor de obras. Então, a gente criou uma consultoria para fazer as adequações, desde a reforma até a administração do imóvel nas plataformas virtuais de hospedagem”.
Ainda que a conferência seja realizada apenas no segundo semestre do ano, o empreendedor destaca que já começa a sentir a demanda gerada pela COP. Ele não tem dúvidas de que a conferência será um momento único, economicamente, para o Estado.
“Eu creio que vai ser uma grande oportunidade da gente acelerar o Estado todo, gerar emprego, renda e novas soluções para a nossa região e não precisa de exagero para garantir um bom lucro”, avalia. “A gente vê alguns casos de valores exorbitantes que as pessoas estão oferecendo e não precisa chegar nesses valores, mas certamente será seis vezes mais do que seria normalmente porque os preços vão ser baseados em dólar. E a gente tem um parâmetro baseado na COP anterior que ficou em torno de 66 a 5 mil dólares por diária. Então, de qualquer forma, mesmo não sendo esses valores exorbitantes, com gente querendo alugar por meio milhão, por um milhão, certamente será muito lucrativo”.
A mesma visão de oportunidade é compartilhada por Jéssica Borges, 30 anos, que assim como Raphael também está se preparando para oferecer acomodações no período da COP30, inclusive buscando orientação no Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-PA). No caso da Jéssica, que é artista de rua e trabalha com malabares, viajando, já havia a ideia de fazer um centro cultural e a proximidade da COP30 em Belém acabou acelerando os planos que, agora, também incluem um hostel.
“Eu sou artista de rua, trabalho com malabares e conforme a gente viaja por cada cidade, a gente é sempre acolhida em alguns lugares, então eu criei um centro cultural e um hostel que é para receber pessoas itinerantes, artistas de outros lugares e até pessoas que não são artistas também. Esse é o foco do espaço que eu estou criando”, conta, ao explicar que o imóvel fica no distrito de Outeiro e já passa por reforma para receber o empreendimento.
“Eu já tinha a ideia de fazer o centro cultural antes, só que quando eu vim para Belém, tem poucos meses que estou morando aqui de novo, eu voltei para vá por causa da COP. Mas eu não sabia que ia conseguir tão fácil um espaço para fazer a minha ideia acontecer. Tudo fluiu muito bem e eu já estou com o espaço que vai dar para fazer uma coisa legal, um hostel bacana, com redário”.
Desde que começou a colocar a sua ideia em prática, Jéssica já vem percebendo uma demanda pela hospedagem do período da COP, principalmente por parte de amigos que estão vindo trabalhar em Belém, são artistas que trabalham com artesanato e outros tipos de arte e que estão se preparando para trabalhar durante o período da conferência.
O fato de o imóvel ficar no distrito de Outeiro é outro diferencial. “É bacana porque tem a praia, então, vai ser uma vivência diferente do centro da cidade. Eu também tenho um quiosque que fica bem próximo da praia, então eu vou estar entre esses dois lugares e recebendo essas pessoas”.
Plataformas já oferecem hospedagens e algumas têm preços bem altos
A oportunidade gerada pela realização de um evento internacional do porte da Conferência do Clima da ONU também já é visível nas plataformas virtuais de oferta de hospedagem. Quando se faz uma busca por Belém no período de 10 a 21 de novembro deste ano, é possível ver grafado no mapa uma boa quantidade de ofertas de hospedagem em apartamentos e casas. Em alguns casos, porém, os valores chegam a ser exorbitantes, passando de R$2 milhões por 11 diárias.
Em uma das opções pesquisadas no último dia 14 de janeiro, um apartamento localizado no bairro do Umarizal com dois quartos com ar-condicionado, piscina privativa, vista do jardim e terraço era oferecido por R$691.416 por 11 diárias no período da COP30, já com a aplicação de desconto oferecido pelo site. Também no bairro do Umarizal, outro apartamento de dois quartos identificado como sendo de ‘alto luxo’ era disponibilizado por R$ 2.114.640 pelo período de 10 a 21 de novembro deste ano.
Apesar dos valores completamente fora da realidade do mercado, é possível encontrar uma variação grande de preços pelos imóveis oferecidos para o período de 11 diárias, de 10 a 21 de novembro. Os valores passavam por R$386, R$1.915, R$14.960, R$56.100 até os que chegam na casa do meio milhão em diante. As ofertas por valores milionários encontradas em algumas plataformas têm sido alvo de críticas e até mesmo de vídeos irônicos nas redes sociais.