DIA DE FEIRA

Hoje dá para pechinchar, afinal é dia nacional dos feirantes

Segundo a Prefeitura, a capital paraense tem 18 mercados e 34 feiras livres.

Segundo a Prefeitura, a capital paraense tem 18 mercados e 34 feiras livres. São milhares de trabalhadores, que não só trazem produtos de qualidade, mas também muitas histórias para contar aos fregueses
Nildo Moreira, 47, fruteiro (Pedreira) - Foto: Ricardo Amanajás / Diario do Pará.

“Olha a fruta, freguesa”, “Aproveita o preço, hoje é promoção”, “olha a garrafada, minha linda, bora levar?”. Comemorado no dia 25 de agosto, o Dia Nacional do Feirante é uma homenagem aos profissionais que estão nas feiras livres espalhadas por todo o território brasileiro. Com uma rotina puxada e contato direto com os consumidores, eles são importantes para movimentar a economia regional e nacional através de produtos frescos; e transformam as feiras em espaços de convivência, troca e resistência, onde cada banca carrega histórias de luta e dedicação.

De acordo com a Prefeitura de Belém, por meio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico (Sedcon), são 18 mercados e 34 feiras oficiais da cidade cadastrados junto à secretaria. Na maior feira livre da América Latina, o Mercado do Ver-O-Peso, possui 743 permissionários, distribuídos em 17 setores, que inclui as ervas, hortifruti, mercearia, camarão e farinha.  

É pelo “Veropa” que estão os mais antigos e tradicionais feirantes de Belém. Um deles é Orivaldo Santos, 68, conhecido por todos como “Irmão”, apelido dado quando começou a trabalhar na feira, há 53 anos. De família muito pobre, foi na década de 1970, aos 16 anos, que ele decidiu ir em busca do seu sustento através de alguma atividade que o ajudasse financeiramente. Inicialmente, ele trabalhou como vendedor de embalagens plásticas, o que durou cinco anos, antes de mudar pela primeira vez de ramo. 

Mais velho e com maior experiência no mercado, ele conseguiu uma barraca na Feira do Açaí, onde vendia café aos trabalhadores noturnos. Três anos depois, o feirante mudou novamente de setor, trabalhando, de agora em diante, com venda de ingredientes para feijoada e maniçoba. Charque, calabresa e toucinho são algumas das mercadorias mais procuradas pelos fregueses rotineiramente. 

“Para fazer um quilo de maniçoba, você compra duzentos gramas de toucinho branco e mais um quilo de outros ingredientes, charque, calabresa, chouriço. Vai ficar dois quilos e duzentos gramas de maniçoba no final, dá para dez pessoas comerem. Se fizer arroz, aumenta para onze. Se colocar a farofa, já dá para doze pessoas. Aqui a gente vende como o cliente quiser, até o kit das carnes para colocar na maniçoba na quantidade certa”, ensina Ourivaldo. 

Com anos de contato com o público, o feirante revela que o trabalho depende de um bom atendimento e acolhimento dos consumidores, com gentileza e disponibilidade. “Eu sempre atendo com ‘bom dia, freguesa’, essa é a diferença na feira, você tem contato com o seu cliente, conversa com ele. Eu gosto muito de trabalhar na feira porque eu tenho um carinho pelas pessoas, de conhecer os meus clientes, aqui vem advogado, desembargador, o governador, atores conhecidos, isso é o que é legal. Aqui é o mundo e eu procuro fazer do meu trabalho um lazer”, disse o trabalhador.

A feirante Raimunda Lima carrega 40 anos de experiência na feira do Ver-O-Peso. Foi em meados da década de 1980, que ela foi trabalhar junto com o irmão na venda de sacolas plásticas. Com as mudanças no mercado ao longo dos anos, a feirante mudou de ramo, passando a vender mercadorias diversas, como cereais, charque, um pouco de tudo. Foi depois de uma das reformas da feira, que Didica, como é conhecida, começou a vender todo tipo de farinhas: d’água, lavada, de tapioca, farofa e até goma. 

Raimunda Lima, 82, feirante (Veropa) – Foto: Ricardo Amanajás / Diario do Pará.

Apesar da idade avançada, a feirante afirma que gosta de trabalhar na feira e pretende continuar no posto por mais muitos anos. “Lá em casa fica só eu e Deus, todo mundo sai e eiu fico só na rede. Aqui eu converso com um e com outro, faço amizade, ando pra cá e pra lá e de tarde eu já descanso lá em casa. Hoje em dia eu trabalho só de manhã. Aqui é uma terapia porque pensa ter que ficar em casa sozinha sem ter com quem falar. Aqui, Graças a Deus, eu me dou bem e gosto de estar aqui. Eu já tenho meus fregueses certos, eles vêm e saem satisfeitos. São poucos mas são sinceros”, explicou. 

FEIRA DA PEDREIRA

No coração do bairro do samba e do amor, a Feira da Pedreira é uma das mais tradicionais de Belém, movimentando diariamente as ruas do bairro com cores, aromas e vozes que revelam a diversidade da vida popular na capital paraense. Entre bancas de frutas regionais, peixes frescos, temperos e artigos variados, o espaço se mantém como ponto de encontro da comunidade na principal avenida do bairro, a Pedro Miranda. 

Um dos feirantes mais conhecidos da Pedreira é Nildo Moreira, fruteiro de 47 anos. Nascido em uma família de empreendedores, trabalhadores do comércio, ele conta que sempre quis trabalhar por conta própria. Foi assim que o feirante montou o próprio negócio na calçada da antiga feira do bairro, se mudando, tempos depois, para a lateral do atual espaço do mercado. 

Segundo a Prefeitura, a capital paraense tem 18 mercados e 34 feiras livres. São milhares de trabalhadores, que não só trazem produtos de qualidade, mas também muitas histórias para contar aos fregueses
Nildo Moreira, 47, fruteiro (Pedreira) – Foto: Ricardo Amanajás / Diario do Pará.

De domingo a domingo, há 18 anos, Nildo leva uma rotina intensa, que começa com a ida ao Centro de Abastecimento do Estado do Pará (Ceasa), em algumas ocasiões às 5h, enquanto em outras às 19h do dia anterior, para comprar a mercadoria. Segundo o feirante, a qualidade, o tratamento e a honestidade são a chave para o sucesso entre a clientela e prosperidade do negócio. 

“Eu já tenho uma clientela fiel por causa de todos esses anos  aqui. Para trabalhar na feira você tem que ter sinceridade, trabalhar honestamente para tratar bem o público e ter produto de qualidade. Se alguém passar aqui pela primeira vez, às vezes nem é na intenção de comprar, mas se interessa pela qualidade, a beleza da organização das frutas e isso acaba fazendo a diferença para o cliente. E assim a gente vai conhecendo muita gente”, disse. 

Aos 73 anos, o açougueiro Dejair dos Santos acumula 45 anos de experiência na Feira da Pedreira. O primeiro da família a ser feirante, ele se diz orgulhoso já que o trabalho informal é essencial para a economia regional. Por isso, ao longo de mais de quatro décadas, ele aprendeu a conviver com os colegas de profissão e a procurou se qualificar sempre para não perder a freguesia e nem a prática do corte das carnes. 

“Na feira todo dia a gente tem dinheiro. E todo dia gasta. Eu não penso em trocar essa vida. Essa convivência com os colegas e com os clientes é o que faz ser gostoso trabalhar aqui. Com o tempo eu fui me adaptando ao mercado. Fui fazendo clientes fiéis, aquelas pessoas que já sabem o meu horário e me procuram. Nesse tempo eu também fui fazendo muitos cursos de qualificação, participei de sindicato, associação, federação, de tudo um pouco. Procurei me qualificar mesmo com anos de experiência”, concluiu.