A embarcação metálica encontrada nas escavações das obras do Parque Linear da Nova Doca, em Belém, está restaurada após um processo minucioso de conservação realizado entre fevereiro e julho deste ano. Agora, a peça passa por vistorias para identificar possíveis pontos de retoques na camada de revestimento.
Depois de resgatada em três etapas, a embarcação foi levada para um laboratório instalado ao lado do Porto Futuro I, onde futuramente ficará exposta ao público. O artefato, associado ao Ciclo da Borracha, deve revelar novas informações sobre a história urbana e econômica da capital paraense.
As etapas de limpeza e restauração mobilizaram arquitetos, engenheiros, arqueólogos, museólogos, conservadores-restauradores e profissionais da construção civil. Diversos testes foram realizados para definir as estratégias de restauro.
“A maior dificuldade da restauração é a fragilidade em algumas áreas da embarcação. Como a estrutura estava soterrada por muitos anos em ambiente úmido, a corrosão avançou em vários pontos. É necessária uma delicadeza com o próprio material em si, pois suas propriedades ficam expostas ao ar livre. Outro grande desafio foi montar uma estrutura acima do nível do solo onde aconteceria o restauro, devido ao grande peso da embarcação”, explica Tainá Arruda, arquiteta responsável pela conservação da peça.
Com 22 metros de comprimento, o barco foi um dos principais achados arqueológicos do projeto do Parque Linear da Nova Doca. Durante as escavações, também foram localizados fragmentos de louças e garrafas. “Esses artefatos são parte da história da cidade de Belém. Eles datam pelo menos entre 200 e 300 anos, inseridos no contexto da colonização, do Império e início da República”, acrescenta o arqueólogo Kelton Mendes.
Descobertas e impacto da embarcação
A embarcação deve oferecer novas informações sobre a formação urbana de Belém e as transformações na relação da sociedade com rios e igarapés, antes usados como vias de circulação. O achado ocorreu em uma área que foi entreposto econômico e hoje é um bairro comercial e residencial, distante de sua origem portuária.
“As características físicas da embarcação apontam para um possível exemplar de origem europeia ou americana, construído entre meados do século XIX e início do XX. Nesse período, auge do Ciclo da Borracha, começaram a circular embarcações com casco metálico, mais resistentes e capazes de transportar grandes volumes. Elas conectavam Belém a cidades ribeirinhas e seringais, integravam mercados e impulsionaram o escoamento de produtos como borracha, cacau, castanha e madeira, desempenhando papel central na economia da região”, detalha Tainá Arruda.
Nova Doca e preparativos para a COP30
A obra da Nova Doca, um dos principais investimentos do Governo do Pará para a realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), está com 97% de execução. O local foi projetado para oferecer espaços diversificados de lazer e convivência, incluindo áreas para práticas esportivas, contemplação, alimentação e recreação infantil. Entre os equipamentos previstos estão uma passarela metálica com mirante, quiosques, jardins, área para piquenique, espaço para eventos, espaço pet, urbanização viária, playground, academia ao ar livre e fonte interativa.
Resultado de parceria entre o Governo do Pará e o Governo Federal, por meio da Itaipu Binacional, a obra é executada pela Secretaria de Estado de Obras Públicas (Seop). A intervenção abrange 1,2 quilômetro de canal, com serviços de drenagem, urbanização, ciclovia, paisagismo e novas passarelas.