MEIO AMBIENTE E CIDADANIA

Custodiados da Seap contribuem na arborização e paisagismo de Belém

Além de garantir a ressocialização, o trabalho garante renda e contribui para a preservação e manutenção dessas riquezas naturais.

Foto: Uchoa Silva/Seap
Foto: Uchoa Silva/Seap

Dia 21 de setembro é celebrado o Dia da Árvore no Brasil. E mesmo diante dos desafios climáticos pelo qual passam o país e o mundo, há de se comemorar o trabalho de preservar e cultivar esses recursos. Como ocorre em Belém, onde mais de 30 custodiados da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) atuam trabalhando na produção de mudas, cultivo e plantio de árvores e plantas ornamentais utilizadas nos projetos paisagísticos dos logradouros públicos de Belém.

Atualmente eles ajudam na produção média de mais de 30 mil mudas mensais de espécies arbóreas de pequeno e grande porte, frutíferas, medicinais, como Ipês (branco, rosa, amarelo e felpudo), Pau-Brasil, Andiroba, Sumaumeira, Pau-Preto, Mangueiras, Ingazeiros, Graviola e ornamentais. Tem ainda plantas decorativas que embelezam e deixam mais verde as praças e espaços públicos da cidade. Além de garantir a ressocialização, o trabalho garante renda e contribui para a preservação e manutenção dessas riquezas naturais.

Titular da Diretoria de Trabalho Prisional (DTP) da Seap, Belchior Machado comenta a importância do trabalho desenvolvido pelos custodiados e os benefícios para a sociedade dessa parceria para Belém.

“Pelas boas práticas do trabalho prisional, buscamos criar a conscientização e reflexão da sociedade, tanto sobre a importância de oportunizar trabalho digno aos custodiados quanto, inclusive, da necessidade de todos nós contribuirmos com a preservação e conservação do meio ambiente. Essa parceria, esse trabalho, simbolicamente, representa a essência da reinserção social, que é garantir nova vida e esperança a essas pessoas e paz à sociedade”, define Belchior.

Ieda Lima é a diretora da Granja Modelo, mantida pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Belém, em que os internos atuam, e destaca a importância da mão de obra dos custodiados que se encontram no regime semiaberto da Unidade de Custódia e Reinserção do Coqueiro (UCR Coqueiro). “Hoje contamos com seis mulheres e 22 homens trabalhando conosco nas quatro áreas de produção. A participação deles é muito boa, é excelente pra nós”, explica a diretora.

A diretora conta que a maioria se adapta rapidamente e descobre a aptidão e gosto em lidar com as plantas. “É uma oportunidade que eles e elas têm”, diz. Mas há também os que se destacam nas atividades e após cumprirem a pena, conseguem até mesmo a indicação para um novo emprego.

Foto: Amanda Farias/Seap

Vocação

Essa aptidão levou a interna Iracely Angelin, de 40 anos, a descobrir o verdadeiro amor pelas árvores e plantas ornamentais depois que participou dos cursos de jardinagem e depois de paisagismo oferecidos pela Seap. Há dois anos trabalhando na Granja Modelo, hoje ela é encarregada de uma das áreas de produção de mudas de arbóreas e ornamentais.

“Posso dizer com toda certeza que foi uma profissão que eu descobri na minha vida e hoje eu tenho amor naquilo que faço. Não foi à toa que quando fiz o curso de jardinagem, me identifiquei bastante. E hoje trabalho não só pela remissão e nem pela questão financeira, e sim pelo amor. Trabalhar com as plantas, com a natureza, é a coisa mais maravilhosa. Só o fato de você estar aqui lidando com a natureza é gratificante”, garante Iracely.

Iracely conta que o trabalho inicia desde o plantio das sementes até o preparo do substrato e do adubo utilizados no plantio das mudas. Todo o material orgânico recolhido na Granja é utilizado na compostagem para a produção de adubo. A área pela qual Iracely é responsável tem como meta mensal a produção de, no mínimo, 5 mil mudas de diversas espécies vegetais: Ipês (branco, rosa, amarelo e felpudo), Pau-Brasil, Andiroba, Samaumeira, Pau-Preto, Mangueiras, Ingazeiros, Graviola e ornamentais.

“Quando eu passo na rua e vejo que aquela plantinha ali foi obra não só do meu trabalho, mas dos outros colegas, aquilo ali eu faço questão de mostrar para a minha família. ‘Olha, ali é de lá de onde eu trabalho’. E isso aí ajuda muito o paisagismo das praças. Isso é importante. Só tenho a agradecer a oportunidade que lá dentro do cárcere eu tive. E hoje estou adquirindo essa experiência. E estou já na minha reta final e quero fazer uso desse trabalho no futuro”, afirma Iracely.

Aos 52 anos, Washington Luiz foi outro que descobriu uma verdadeira paixão pelas plantas ao ter a oportunidade de trabalhar na Granja Modelo. Ele, que até então nunca tinha tido experiência anterior na área, hoje agradece pela oportunidade dada pela Seap.

“É uma experiência nova na minha vida, né? Eu nunca tinha mexido com esse negócio de plantas e aonde a gente vem conhecer, dar o verdadeiro valor a cada pé de planta. Uma obra da natureza, então a gente vai aprendendo, desde a semente, como vai plantar, como vai cuidar dela, até fazer a muda. É um aprendizado na minha vida que está me deixando muito emocionado de ter conhecido essa parte, essa área das plantas. E eu estou me sentindo bem aqui”, comentou Washington.

Trabalho recompensado

O trabalho prisional está garantindo para a Praça Dalcídio Jurandir, localizada no bairro da Cremação, um novo paisagismo. Esta semana 10 mulheres custodiadas trabalharam no local, no plantio de espécies ornamentais e açaizeiros. Uma ação para deixar o espaço mais atrativo e prazeroso para a população.

A custodiada Helen Cristina Moraes, de 27 anos, era uma das trabalhadoras que estava atuando no plantio de mudas. Ela já fez cursos de Gastronomia, Hamburgueria, Produção de Salgados e Design de Sobrancelhas e agora atua na manutenção de praças. Além da oportunidade de trabalho, Helen vê a atividade como o início de um recomeço para a própria vida.

“Está sendo, tipo, um novo recomeço. Até porque cuidar das plantas é muito bom. A gente aprende a lidar também com a natureza. A gente vê o paisagismo das praças, todas as praças que a gente caminha. A gente vê uma coisa mudada. A gente aprende a ter amor com as plantas também. Então, isso para mim é até bom psicologicamente. A gente passa o tempo todo lá dentro e quando a gente chega aqui é até uma felicidade de a gente cuidar”, disse.