Belém e Pará - A escolha de Belém com sede da COP30 movimenta a economia local e cria um leque de oportunidades para empreendedores das áreas do turismo, hospedagem e gastronomia. Além dessas áreas, há um ramo do comércio que vive a expectativa de alavancar as vendas e os projetos com a Conferência: as lojas de instrumentos musicais. Seja os instrumentos de corda, percussão e mesmo projetos de sonorização são a aposta dos lojistas para os estrangeiros que desejam levar uma lembrança da região para outros países.
Na loja Keuffer, por exemplo, as vendas continuam no volume esperado, mas a expectativa é que a proximidade da COP impulsione a busca por itens ligados à música regional. “Cavaco, banjo, bandolim e instrumentos no geral é o que o povo que vem de fora vem atrás, pois tem o peso da regionalidade”, explica o vendedor Neto Rodrigues. “Outro dia recebemos um rapaz francês que levou um cavaco, pois achou o som bonito e queria aprender”, relatou o responsável pelo Marketing da loja, Gabriel Fernandes. Os instrumentos de percussão como tam-tam, surdo e rebolo são outras apostas devido a familiaridade com samba e até o carimbó.
Já no centro comercial da capital, a loja Kadosh tem a expectativa de vender itens fabricados de forma artesanal, como berimbau, instrumento essencial para a capoeira, além de flautas feitas com bambu. Por enquanto, as vendas desses produtos são feitas por encomenda, mas a proximidade com a COP deve ofertar para pronta entrega. “Aqui em Belém os instrumentos de corda como cavaquinho, ukulele e violão tem muita procura. Os de percussão também por conta do carimbó”, relata o vendedor Wesley Valadares. Outros instrumentos como pandeiro, bateria e equipamentos de áudio também são procurados no mercado local para eventos, bandas marciais e de instituições religiosas.
Na outra ponta, a Lam Music também percebe a movimentação local com bandas locais, especialmente religiosas, além da busca por caixas e mesas de som para igrejas. Contudo, a COP30 já movimenta a procura por sonorização. “Uma empresa parceira nos procurou para fazer um projeto de sonorização para um restaurante que será inaugurado visando a COP. Eles queriam algo diferente, então elaboramos um projeto para que o cliente viva uma imersão ao entrar no espaço”, disse o gerente da loja, Gleibson Correia. Por meio do som instalado, os turistas e estrangeiros poderão se conectar com os ritmos e sons típicos da região. Às vésperas da Conferência, “a demanda por sonorização deve ser ainda maior”, finaliza o gerente.
Embora a busca pelos produtos via internet seja um dos principais meios de venda, os lojistas ouvidos pelo DIÁRIO afirmaram que a presença das lojas físicas permite que o cliente tenha contato direto com os instrumentos, teste a vibração, o som emitido, além de contar com espaços reservados para essa finalidade. Isso também facilita a busca e a compra dos itens pelos turistas.
Identidade musical regional – Segundo um artigo escrito por Antonio Maurício Dias da Costa, fruto do projeto “Expressões da cultura de massa e da cultura popular em Belém na segunda metade do século XX”, da Faculdade de História da Universidade Federal do Pará, aponta as origens e influências da identidade musical da capital, incluindo os instrumentos. De acordo com o material, a música urbana se desenvolveu no Pará, especialmente a partir da década de 1920, muito associada à difusão de instrumentos como a flauta, o banjo e o cavaquinho, que formavam a base de pequenos conjuntos musicais. “Além da música difundida pelo rádio brasileiro e estrangeiro (choro, samba, tango, bolero e mambo) outros ritmos dançantes como fox-trote, charleston e swing, dentre outros, vieram a se popularizar no Pará entre os anos 1920 e 1930 por conta da notoriedade do cinema norte-americano”, diz o texto.
Essas influências, segundo o documento, formaram a base das referências musicais de orquestras e bandas de jazz presentes na capital. O ritmo se tornou “uma febre na cidade” nas décadas de 1920 e 1930, motivando a criação de diversos grupos musicais, que uniam esta sonoridade à tangos, marchas, choros e sambas. “Notícias na imprensa destacavam a presença de orquestras em bailes carnavalescos em Belém desde 1945, onde eram executados ‘sambas, marchas e choros da época’. As jazz-bands e as orquestras circulavam entre os salões mais ‘aristocráticos’ e outros menos sofisticados”, pontua o texto.
A virada de chave começa a partir de 1960, com a inclusão de batidas eletrônicas e guitarra havaiana. Nesse período, o autor destaca que as chamadas ‘orquestras de pau e cordas’, de feição unicamente acústica, “rapidamente perderam espaço para as orquestras que se modernizaram, como as de Alberto Mota, de Orlando Pereira, de Lélio Pais Henrique, de Maçaneta e de Guiães de Barros”. Nesse contexto, o cenário musical destaca um iniciante promissor: Joaquim Castro, que passou a se apresentar como Mestre Cupijó.
Uma década à frente, outro ícone desponta: Aurino Quirino Gonçalves, mais conhecido pelo nome artístico Pinduca, posteriormente chamado de “Rei do Carimbó estilizado”. Segundo o autor, o surgimento de novas tecnologias de amplificação, difusão e gravação desde o final do século XIX foi fundamental para a produção e a divulgação das músicas e canções populares urbanas, por meio de gramofones, discos e das rádios locais.