Faltando menos de 100 dias para o início da COP 30, Belém do Pará — cidade escolhida pela ONU para sediar a maior conferência climática do mundo — enfrenta um bombardeio de críticas quanto à sua estrutura hoteleira. O ponto mais recente e alarmante veio do próprio presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, que admitiu publicamente que representantes de países pediram a retirada da sede de Belém, alegando preços abusivos de hospedagem.
Segundo ele, os custos para se hospedar na capital paraense chegaram a ser classificados como “extorsivos” por delegações, especialmente dos países em desenvolvimento. Delegações anunciaram que irão reduzir suas comitivas e a ONU realizou uma reunião emergencial para tratar do tema. O governo federal corre contra o tempo, contratando navios de cruzeiro e discutindo, até mesmo, o uso de habitações do Minha Casa Minha Vida para acomodar participantes.
O Brasil já sediou grandes eventos. Em 2014, a Copa do Mundo teve cidades-sede com estádios erguidos em áreas sem alta demanda esportiva. Nas Olimpíadas de 2016, o Rio de Janeiro recebeu críticas internacionais por obras inacabadas e custos exorbitantes. Ainda assim, ninguém sugeriu retirar o evento dessas capitais.
Crise revela preconceito
“Com Belém, há um incômodo mal disfarçado com a escolha de uma cidade amazônida, fora do eixo Sudeste-Sul, para ocupar o centro do debate climático global. Isso tem nome: preconceito regional travestido de preocupação logística. Não estou dizendo que não há preços fora da curva, mas também há soluções e ninguém fala sobre isto”, diz o jornalista Jorge Bentes, que integra a equipe Plataforma 091 – hub de soluções para eventos criado para atender à alta demanda provocada pela realização da COP 30 -, que está atuando no setor de hospitalidade em Belém oferecendo alguns empreendimentos.
A narrativa de que não há alternativas viáveis em Belém para receber a COP ignora os movimentos locais. O setor privado paraense tem se articulado para oferecer soluções reais, inclusive atendendo a pedidos da Secretaria.
“No início de junho deste ano, a hotelaria de Belém foi oficialmente solicitada a disponibilizar 500 apartamentos destinados a delegações de países economicamente menos favorecidos, cujos custos são subsidiados pela ONU. Atendemos prontamente a este pedido”, diz o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Pará (Abih Pará), Toni Santiago.
Segundo ele, foram disponibilizados 250 apartamentos com tarifas de US$ 100, incluindo hotéis de padrão cinco estrelas, e 250 apartamentos com tarifas variando entre US$ 200 e US$ 300, conforme a categoria de cada hotel.
“Ou seja, a rede hoteleira cumpriu integralmente a solicitação, garantindo condições acessíveis e adequadas às delegações”, afirma o representante do setor.
Criada como um ecossistema colaborativo para conectar empresas regionais e nacionais especializadas em eventos, a Plataforma 091 entrou no ramo de hospitalidade para atender seus clientes.
Uma das hospedagens em imóveis é o tradicional Hotel Regente (em fase final de reforma) – que está sendo chamado de Residence Nazaré -, casas para delegações e apartamentos adaptados para ativações de marca. Os preços variam de acordo com as possibilidades de estadia, entre US$ 600 e US$ 2 mil por diária — faixa que está dentro da média praticada por outros países-sede da COP -.
A insistência em retratar Belém como um caos logístico e financeiro tem efeitos concretos sobre a economia local.
“A gente sente que a cidade está perdendo oportunidades de trabalho. Negócios que poderiam acontecer estão sendo cancelados pela falta de informação correta sobre a realidade da cidade. A COP 30 é a primeira com sede na Amazônia. Não pode ser também a primeira a ceder à pressão de quem, no fundo, nunca aceitou a ideia de um Norte protagonista”, relata.
Nesta sexta-feira, 1º de agosto, em entrevista a jornalistas estrangeiros, o embaixador, André Corrêa do Lago, afirmou que a COP 30 será realizada em Belém.
“Vamos garantir que essa única dimensão que está sendo levantada – o preço dos hotéis – possa ser superada para que todos possam vir a Belém e aproveitar uma cidade maravilhosa enquanto teremos negociações muito intensas”..