Belém

Como a população de Belém vê os debates da COP 30?

Moradores da capital contam o que entendem do evento que ocorrerá em novembro e o que esperam para a cidade

Foto: Osnir Valporto. Fotos: Celso Rodrigues
Foto: Osnir Valporto. Fotos: Celso Rodrigues

Nas agendas de instituições públicas, nas ações promovidas por grandes empresas ou mesmo nos diálogos informais travados na fila de um atendimento qualquer, um tema vem se tornando cada vez mais frequente na rotina de quem vive na capital paraense, a COP30.

A razão é clara. Em novembro, Belém será palco da 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), o maior encontro internacional voltado a debates e negociações em torno do futuro do planeta. Esta será a primeira vez que uma capital da Amazônia sediará o evento. Mas, afinal, quanto a população realmente sabe sobre a conferência que promete colocar a região no centro das atenções globais?

Morador da região das ilhas de Belém, especificamente na Ilha do Combu, o autônomo Luidi dos Santos, de 22 anos, já perdeu as contas de quantas vezes já ouviu comentários a respeito do evento que será realizado em Belém, a COP30. Em todas as conversas sobre o tema, ele recorda da expectativa das pessoas pela vinda de muitos visitantes à capital, mas, até hoje, ele conta que não teve a oportunidade de entender exatamente o que é o evento.

“Eu sei que é um evento que vão fazer aqui, mas eu nem imagino o que seja. Eu só sei que vem várias pessoas de outros países, mas acho que faltava explicar direito o que é esse evento. No Combu estão falando bastante sobre a COP, mas ninguém que explique direito o que é”.

O tema, naturalmente, também já chegou ao conhecimento do técnico em informática Marcelo Nunes, de 40 anos. Ele conta que o que sabe sobre o evento é que haverá uma reunião de líderes mundiais para debater questões ligadas ao meio ambiente e ao clima, mas ele acredita que o impacto disso na vida das pessoas será pequeno.

“Eu acho que a COP é um encontro mundial. As pessoas vão estar discutindo sobre o problema climático no mundo, principalmente na Amazônia. Isso é o que eu entendo do evento”, aponta. “Eu acho que vai ser um evento normal, vai ter muita gente, como sempre teve outras vezes em eventos grandes aqui. Mas acho que não impacta tanto a vida de quem mora aqui”.

Já o aposentado Osni Valporto, 70 anos, avalia que as decisões tomadas durante as conferências do clima impactam diretamente a vida de todo o planeta. Mais do que qualquer interferência do evento na logística da cidade que a sedia, ele destaca o efeito das discussões encampadas durante o encontro.

“A COP é uma conferência das partes, dos países envolvidos nesse cadastro da ONU e que, de alguma forma, tentam chegar a um acordo para que haja um apoio dos países mais ricos e que mais poluem e degradam o meio ambiente, para que eles possam contribuir com aqueles menos favorecidos ou ainda com aqueles que ainda têm a sua reserva preservada”, conceitua.

“Afinal, isso interfere no planeta como um todo. Não é só na região onde está sendo degradado. Envolve o mundo inteiro, praticamente. Nós estamos na mesma bolha, então, todos têm que estar atentos e contribuir, mas infelizmente há resistência porque os ricos não querem ceder”.

Natural do Rio de Janeiro, Osni mora há oito anos em Belém e considera que os entraves nas discussões sobre as medidas a serem adotadas para controlar o clima também são vistos dentro do próprio território nacional, o que evidencia a importância de um evento que busca reunir esforços para o combate às mudanças climáticas.

“Aqui mesmo, no país, o Sudeste e o Sul não aceitam reduzir o nível de poluição para favorecer um pouco o crescimento da região Norte, Centro-Oeste e Nordeste, que são menos favorecidas. Então, falta um pouco de sensibilidade dos governantes, dos empresários também. É uma consciência coletiva. Eu pensava, inclusive, que fosse mudar esse pensamento na época da pandemia, que houvesse mais solidariedade, mas infelizmente não mudou muito”, considera.

“Eu sempre brinco que não tem planeta B, não tem outra opção. Eu já tenho 70 anos, mas eu penso nos meus filhos, nas minhas netas e nos que ainda não nasceram e que, com certeza, precisarão de um ambiente mais agradável. Hoje a gente já sente o calor, as dificuldades, a seca, esse desequilíbrio”.

Osni conta que recentemente foi visitar a sua cidade natal, o Rio de Janeiro, e se surpreendeu com as baixas temperaturas encontradas lá. “Eu saí daqui de 34° e encarei 17° no Rio. Eu vivi no Rio 62 anos e nunca tinha visto uma temperatura tão baixa como estava lá. Houve informações de que há 17 anos isso não acontecia. Então, a gente está sentindo uma diferença enorme. Por isso, essas discussões sobre o clima são importantes e interessam a todos”.

Em visita à capital paraense pela primeira vez, o engenheiro civil Antônio Hermes Campana, 75 anos, e a psicóloga Alciony Roberti Campana, 69 anos, também consideram que as discussões desenvolvidas na COP são interesse de todo o planeta. Naturais de Vitória, no Espírito Santo, eles também estão atentos ao evento que será sediado em Belém, em novembro deste ano.

“A COP é um movimento, seria um evento que vai cuidar, se preocupando com o meio ambiente, com as políticas ambientais e isso, realmente, nós temos que pensar que está atingindo todo o planeta. Então, nós temos que tomar medidas corretivas para que sejam eliminadas ao máximo essas deficiências que existem com relação ao clima do planeta”, pontua Antônio Hermes.

“É um tema que afeta todo mundo. O planeta todo está em risco com relação aos descuidos que estão acontecendo com relação ao meio ambiente”.

COP30

A COP30 será realizada de 10 a 21 de novembro deste ano e reunirá os representantes dos 198 países que assinaram a Convenção-Quadro, além de chefes de Estado, diplomatas, empresários, investidores, pesquisadores, organizações não governamentais (ONGs) e ativistas em busca de soluções efetivas para o enfrentamento da crise climática.

As conferências do clima da ONU são realizadas anualmente desde 1995 e costumam envolver uma grandiosa organização, milhares de participantes e uma série de programações que ocorrem ao mesmo tempo. No centro das atenções estão as negociações entre os representantes das Partes da Convenção, ou seja, dos países.

Realizadas em diferentes países, as últimas conferências do clima tiveram resultados importantes para a luta contra a crise climática. Em 2022, a COP27 foi realizada em Sharm el-Sheikh, Egito, e ficou marcada pela adoção do “Plano de Implementação de Sharm el-Sheikh”, que estabeleceu um fundo específico para perdas e danos, e reforçou a intenção das partes em agir para limitar o aquecimento global a não mais de 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais. 

Em 2023 foi a vez de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, sediar a COP28. Naquela edição, a conferência do clima da ONU ficou marcada pela realização do primeiro “balanço global” do Acordo de Paris, onde os países membros concordaram em intensificar as ações ainda antes do final da década para perseguir o objetivo geral de manter o aumento da temperatura em 1,5°C. Mais do que isso, a COP28 também foi marcada pelo acordo que sinaliza o início do fim da era dos combustíveis fósseis, sinalizando a preparação para uma transição rápida, justa e equitativa.

Última conferência realizada antes da COP30, a COP29 ocorreu na cidade de Baku, capital do Azerbaijão. Tendo como tema central a questão do financiamento climático, a COP29 encerrou com um acordo que pediu que os países desenvolvidos destinem pelo menos 300 bilhões de dólares por ano aos países em desenvolvimento, até 2035, para financiar medidas de redução de emissões de gases de efeito estufa e ações de proteção aos impactos das mudanças climáticas.  

ENTENDA

Conferência das Partes (COP)

A Conferência das Partes (COP) é o principal órgão de decisão da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (UNFCCC). Anualmente, a COP reúne os representantes das 198 Partes que assinaram a Convenção-Quadro. A primeira reunião da COP foi realizada em Berlim, Alemanha, em março de 1995.

Partes

As partes são justamente os países signatários da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Climáticas (UNFCCC), um tratado acordado em 1994 e que deu origem às conferências. Ao todo, 198 Partes são signatárias do tratado, o que equivale a 197 países e a União Europeia. Durante as conferências são realizadas complexas negociações entre governos, envolvendo autoridades de todos os países do mundo, bem como representantes da sociedade civil e da mídia global.