À medida que o Círio de Nazaré se aproxima, a Praça da República, em Belém, se transforma em um ponto de encontro para devotos e turistas que buscam peças artesanais ligadas à fé paraense. Entre garrafas decoradas, mantos e imagens de Nossa Senhora de Nazaré, o movimento já é intenso, e as histórias por trás das criações revelam dedicação.
As irmãs Ivone e Ivanilde Rodrigues, que trabalham há sete anos no local, mostram que o artesanato vai muito além da venda de produtos, é uma forma de manter viva a cultura local. “Nós já trabalhamos aqui há sete anos. Começamos decorando garrafas, depois CDs, e hoje usamos elementos da natureza, como cacho de bacaba, para criar guirlandas artesanais, misturando criatividade com esse lado paraense, amazônico”, explica Ivone.
Entre os itens mais procurados na barraca das irmãs estão CDs decorados com imagens de Nossa Senhora e escapulários. “O mais vendido é o CD. Também vende muito as imagens e o escapulário. Para nós, todo ano o trabalho é voltado para o Círio, mas sempre com o toque artesanal”, acrescenta Ivanilde, lembrando que a produção não se limita ao período da festa: “De janeiro a dezembro, o Círio está presente na nossa barraca. A Santinha nunca falta”.
Para Wal Lima, artesã especializada em mantos de Nossa Senhora de Nazaré, a dedicação ao trabalho artístico representa uma mudança de vida. “Eu trabalhei mais de 10 anos com uma loja de armarinho e decidi fechar para me dedicar apenas aos mantos. Hoje, é minha vida”, conta. Wal destaca o cuidado na confecção: “Um manto grande leva um dia para ser feito, e até 20 mantinhos pequenos consigo produzir rapidamente. Tem de todos os tamanhos. O menor tem 5 centímetros”, conta.
Apesar de não ser católica, Wal revela a emoção que sente ao trabalhar com a imagem da santa. “Não sou católica, sou espírita, mas o que ela representa na vida de cada pessoa me emociona. Muitas coisas na minha vida aconteceram por ela”. Um dos momentos mais marcantes de sua carreira foi ver um de seus mantos exposto no Senado Federal. “Meu manto simples, de juta com as cores do Pará, ficou ao lado do manto oficial da santa. A simplicidade e humildade da peça me emocionou muito”, relembra.
Entre os compradores, o cuidado dos artesãos chama a atenção. Waltemir Pinheiro, 61 anos, professor, conta que se encantou pelas peças. “A gente se agradou aqui porque mostrou os paraísos e a santa, que está muito no coração da gente. Gostei desse trabalho, muito lindo e interessante. Vou levar para os meus filhos, para o quarto deles”, diz.