MEIO AMBIENTE

Capital paraense precisa de mais árvores

Segundo professor da Ufra, Belém é a capital brasileira com menos árvores, resultado de décadas de falta de planejamento

Foto: Ricardo Amanajás / Diário do Pará
Foto: Ricardo Amanajás / Diário do Pará

Importantes na paisagem da capital paraense, as mangueiras fazem parte da história da cidade e tiveram expansão em Belém no final do século XIX, por meio do intendente Antônio Lemos. Naquele contexto, as árvores tiveram como finalidade compor a arborização urbana da capital paraense. De acordo com o professor e agrônomo Cândido Neto, da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), naquela época não foram considerados o crescimento urbano e o sistema radicular, ou seja, a raiz da planta.

“A mangueira tem um grande porte e gera um bom sombreamento e também conforto térmico. Mas não é uma árvore muito adequada para áreas urbanas, como Belém”, explica o professor sobre as manutenções que o vegetal precisa ter. No bairro de Nazaré, por exemplo, existem 871 mangueiras, sendo 50% delas com algum dano regular ou crítico. Os dados fazem parte do projeto de levantamento florístico feito pelo pesquisador juntamente com a professora e engenheira agrônoma Joze Melisa, além de discentes da Ufra.

Ainda segundo o pesquisador, várias das árvores observadas possuem corte nas raízes e caule com pregos. “Com a intenção de nivelar suas calçadas, as pessoas cortam ou sufocam as raízes ao colocar cimento, então a árvore não consegue respirar, e fica muito suscetível à queda diante da fragilidade da raiz. Quando ocorrem ventos mais fortes ou chuvas, essas árvores tendem a tombar”, ressalta Cândido Neto.

Outro problema é a poda inadequada, feita sem conhecimento técnico, o que prejudica o vegetal. “Elas (mangueiras) precisam de espaço para crescer e com isso acabam entrando em contato com o meio fio e com o sistema elétrico. Com isso, muitas pessoas e empresas particulares tendem a fazer a poda de forma inadequada”.

Concreto

A partir do levantamento, as análises produzidas pela equipe são encaminhadas diretamente à Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), com orientações sobre quais as espécies adequadas para áreas sem plantio, a saúde das plantas, sugestões de retirada de vegetais com problemas e as que estão com riscos de queda.

O professor destaca que a capital paraense é a menos arborizada do Brasil e que isso é resultado da falta de planejamento ao longo de muitas décadas. “Por muito tempo foram priorizadas as construções de concreto e não se levou em conta a importância da arborização para a nossa cidade. Não se pensava muito sobre o assunto ou nem se falava. Estas discussões tomaram fôlego mais forte recentemente, com o aquecimento global”.

Para mudar o cenário de baixa arborização, conforme o pesquisador, é necessário conscientizar o poder público, privado e a sociedade para tomadas de decisão e planejamento para que sejam realizados passos importantes para melhorar a arborização da nossa cidade. “Um trabalho elaborado de forma correta, adequado e planejado, para que consigamos aumentar esse percentual, melhorando nosso conforto térmico, microclima, biodiversidade e melhores espaços de lazer”.

MAPEAMENTO

A equipe já finalizou o mapeamento em quatro bairros de Belém: Reduto, Nazaré, Marco e Fátima. Atualmente, este mapeamento é realizado no bairro de Batista Campos e em seguida será a vez do Guamá, Terra Firme, Jurunas e Umarizal.

Dos bairros mapeados, até o momento foram registradas 4.777 árvores em Belém. O bairro do Marco é considerado o mais arborizado pelos pesquisadores, com 3.234 árvores, sendo 18% delas correspondentes a mangueiras, 13% de castanhola e ipê com 11%. “Algumas árvores foram suprimidas ou foram adicionadas, como é o caso do bairro do Marco. Futuramente vamos voltar nesses locais para fazer uma recontagem”, informa Cândido Neto.

Já o bairro menos arborizado foi o de Fátima, com somente 188 árvores, bem abaixo do que o sugerido pela Organização Mundial de Saúde (OMS). “Existem bairros com arborização boa e outros com uma deficiência muito grande. A OMS sugere que o recomendado seja de pelo menos uma árvore por habitante ou 12 metros quadrados de área verde por habitante, mas o ideal são três árvores por habitante ou mais de 15 metros quadrados de área verde por habitante. O bairro de Fátima tem em torno de 0,016 árvore por habitante, o que está muito abaixo do ideal”, explica o professor.

O levantamento é realizado a partir de um acordo de cooperação técnica com a Semma e deve ocorrer até o ano de 2028.

ARBORIZAÇÃO

Um dos cartões-postais de Belém, a Praça da República possui os famosos corredores de mangueiras, o que ressalta a beleza do local. O autônomo Renato Tavares, 49 anos, trabalha há pelo menos uma década na área e admira as árvores que considera muito importantes para o clima. “Muita gente de fora quando vem pra cá gosta de tirar fotos no corredor das mangueiras, porque é muito bonito, chama a atenção e as árvores deixam o ambiente melhor”.

Na avenida Nazaré, a auxiliar de escritório Almerinda Medeiros, 49, afirma que as árvores são muito importantes para a cidade, principalmente em épocas de sol escaldante. “A gente tem a cidade das mangueiras e sou apaixonada pelas árvores. Quando eu vejo manga caindo perto, eu pego e levo pra casa”.